31.5.16

Sem Emenda - As Minhas Fotografias

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Retornados e seus caixotes à chegada a Lisboa – Durante uns meses de 1974, chegavam os últimos vapores das colónias. Uns traziam soldados, outros repatriados, refugiados ou retornados que abandonavam definitivamente África. Com eles, ou em cargueiros, vinham caixotes e contentores. Muitos dos que regressavam não eram retornados, isto é, não tinham nascido em Portugal. Eram Angolanos e Moçambicanos. Não foi assim que os quiseram cá, queriam-nos retornados. Não era assim que os queriam lá, eram colonos. Parecia que ninguém os queria. Mas foi um dos acontecimentos mais importantes dos últimos séculos: num só ano, chegaram perto de 700.000 pessoas, naquela que foi uma das maiores deslocações humanas da história da Europa em condições de paz. Mal ou bem, integraram-se e recomeçaram tudo. E muito fizeram pela recuperação económica dos anos oitenta. Sem nada ou com pouco, traziam uma energia infinita, não perderam tempo com lamúrias nem acreditaram em revoluções idiotas: fizeram-se à vida!

DN, 22 de Maio de 2016

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3 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

...Parecia que ninguém os queria...
Cá retornados, lá colonos...
Pela primeira vez, depois da descolonização, vejo alguém, com categoria intelectual,com um passado político insuspeito, referir-se a este drama humano com tanto realismo.
Este assunto merecia ser profundamente estudado, para que não fiquem para a história apenas os registos das minorias não democráticas(direita e esquerda)

31 de maio de 2016 às 15:36  
Blogger José Batista said...

Foi uma integração que correu muito bem.E para isso contribuiu sobremaneira a "energia infinita" dos que chegaram, que, sem perder tempo, se "fizeram à vida". Mas, um factor importante, que tornou essa integração tão suave e eficaz, foi o facto de muitos deles terem cá as suas raízes primevas e familiares próximos que, em alguns casos, não viam há muito. Obviamente, não estou a apontar para ajudas dos que cá estavam, muitos dos quais pouco tinham e pouco podiam, mas para o facto de os retornados se sentirem em família e, de modo geral, muito queridos. Pelo menos na província foi assim.
Seja como for, foi um feito. Que fizemos sem saber como, que é uma maneira muito nossa - e às vezes muito feliz - de fazermos as coisas. Foi o caso.

31 de maio de 2016 às 21:01  
Blogger SLGS said...

Subscrevo totalmente os comentários de Ilha da Lua e de José Batista. Acrescento no entanto que para além do que ficou dito também tiveram o apoio do IARN, constituído precisamente para apoiar a reintegração, e houve quem muito bem o soube aproveitar. Na embalagem, diga-se que também houve quem muito bem dele se tenha aproveitado. De tudo...à portuguesa!
Não fui retornado, retornei nessa altura, como militar, finda a minha Comissão de Serviço. E despachei um caixote com coisas que lá adquiri e estimava. Recebi no porto de Lisboa um monte de tábuas partidas e... os meus pertences...onde estão?

31 de maio de 2016 às 22:06  

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