21.4.16

Sem emenda - O Governo dos rapazes

Por António Barreto

Estes têm sido dias difíceis. Não por cansaço, que ainda não é tempo para tanto. Mas por falta de perícia. E de sabedoria. A remodelação de um ministro e dois secretários de Estado foi desagradável. Não mais do que isso, mas suficiente para revelar desordem nos espíritos.

O processo que conduziu à demissão do Chefe de Estado-maior do Exército tresanda a política, oportunismo e rivalidade. A posição do ministro ficou frágil.

A Educação parece calma, pois os sindicatos entenderam que era melhor abrandar a fim de bater mais tarde. O ministro não acerta, mas contenta os clientes. Ganha tempo, mas perde força.

Já se começam a sentir os efeitos das mãos generosas do governo. Por um lado, subida nas sondagens. Não muito, mas o suficiente para fazer sorrir. Por outro lado, o aperto financeiro. Começam a desaparecer as “folgas”…

A questão das nomeações continua viva. Há anos. Com todos os governos. Desta vez, com o Bloco e o PCP no radar, será ainda mais complexo. Cargos para os camaradas surgem todos os dias. Dirigentes seleccionados pela CRESAP já foram substituídos por decisão política discricionária. São inéditos os ataques ao Banco de Portugal.

Foi insólita a designação, nomeação e contratação do “meu melhor amigo há muitos anos” para tratar das situações delicadas, da TAP ao BANIF e ao BES passando por Angola… Assim é que se perpetua uma prática que conduziu à decapitação do Estado. Retirou-se-lhe a capacidade técnica e científica e procura-se nos escritórios, nas agências e nas empresas de consultoria os juristas, os advogados, os economistas e os engenheiros à altura. O Estado não emagrece, perde a cabeça. E fica dependente.

As trocas de acusações entre o Governo, os partidos, o Banco de Portugal, o Banco Central Europeu e a Comissão da União Europeia já foram longe de mais e deixaram sequelas. A esta altura de responsabilidades é impossível ficar impune e imune. Os acima nomeados já se trataram de mentirosos… Nunca se viu uma tal guerra aberta e ácida que enfraquece o país e a economia. É possível que a banca portuguesa não se venha a recompor tão cedo! Já tínhamos um logo percurso de erros, aldrabices e imperícia. Com a situação financeira internacional menos dramática, esperava-se que fosse possível salvar alguma coisa da banca portuguesa ou manter os pilares e as traves mestras de um sistema financeiro. É cada vez mais causa perdida.
O primeiro-ministro está radiante. Acredita no seu talento negocial e naquilo a que os jornalistas chamam há vários meses a sua grande habilidade, sem se dar conta de que é o pior que se pode dizer de alguém. Está satisfeito com a suavidade do Presidente Marcelo. Jubila com a cordialidade pacata do Bloco e a macieza do PCP.

Liderar um governo ou um país tem exigências. Uma delas consiste na necessidade de ser ou ter algo mais do que jeito para resolver problemas. A direcção política não se resume à habilidade para tratar de conflitos. A negociação permanente com os partidos, parceiros e grupos de pressão traz informação e traquejo, há mesmo quem lhe chame democracia, o que não é a mesma coisa. Mas é errada a crença de que a liderança resulta da negociação. É exactamente o contrário. A boa negociação resulta da capacidade de liderança. Da inspiração. Da existência de uma política.

Das peças avulso de um puzzle não sai uma imagem. A percepção da imagem é que vai ordenar as peças. Das azinhagas não sai um percurso. É o objectivo que selecciona os caminhos, o fim que define os meios. Ao contrário do que gostam de dizer os adolescentes românticos, o caminho não se faz caminhando. É o destino que desenha o itinerário.

É provável que António Costa venha a dizer aos colaboradores, aos membros do governo e aos apoiantes no Parlamento: “Já que sou o vosso Primeiro-ministro, sigo-vos!”.

DN, 17 de Abril de 2016

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Se o ministro da educação contenta os clientes, então os professores não se contam entre os clientes. Pelo menos na parte que me toca.
Calma, a educação? Ou apodrecida?
Que o minsitro (e ministério) não acerta(m), nisso estamos de acordo.
Com muita pena.

21 de abril de 2016 às 22:07  
Blogger Ilha da lua said...

Os partidos políticos dariam uma grande prova de maturidade democrática, se, ao assumirem o poder fizessem um rigoroso diagnóstico das situações herdades nos vários ministérios. O que estava a correr bem, continuaria até serem alcançados os objectivos desejados. Talvez assim se evitasse as constantes reformas e mini reformas que se vão fazendo e das quais não se consegue vislumbrar nenhum resultado. Vivemos em contínuo período experimental. Refiro-me, particularmente à Educação. Ser oposição, não é ser sempre do contra. Também seria importante acabar com o clientelismo político.

22 de abril de 2016 às 11:34  

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