20.1.16

Sem Emenda - O papagaio da Fenprof

Por António Barreto
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Basta um pequeno esforço para reconstruir o discurso do dia.
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Queremos acabar com as mudanças permanentes. Queremos garantir a estabilidade do sistema educativo. As crianças estão no centro da nossa política educativa. Os alunos são a prioridade. As pessoas estão à frente. Por motivos ideológicos, o governo anterior mudou tudo sem rei nem roque. O anterior ministro criou a instabilidade. O governo precedente provocou danos quase irreparáveis. As políticas educativas anteriores, destinadas a promover a desigualdade, deixaram sequelas irreversíveis. Em quatro anos, a educação em Portugal recuou dez ou vinte. O governo anterior só se interessava pela produção de elites. Foi instalada a desordem educativa. As escolas estão destruídas.

Também não é preciso muito para prever o que se segue.

Vamos nós agora garantir que não haverá mais danos. Vamos reparar as sequelas. Vamos criar a estabilidade. Vamos garantir o primado dos alunos. Vamos construir uma escola de sucesso. Vamos levar a cabo uma política sensata, equilibrada, orientada pela ciência, dirigida para os alunos, destinada a promover a igualdade e a democracia. E sobretudo vamos reformar com a garantia da estabilidade. Para já, não haverá mais trabalhos para casa no ensino básico, dado que os alunos eram obrigados a trabalhar de mais. Depois de o Parlamento, numa votação inédita, ter eliminado uns exames, vamos agora eliminar os restantes, que eram um horrendo choque psicológico para os alunos. Vamos fazer provas de aferição sensatas, sem ideologia, sem classificação e sem trauma para os alunos. Não haverá mais exames, para já, no quarto e no sexto, mas sim provas no segundo, no quinto e no oitavo, o que é evidentemente mais democrático, mais pedagogicamente correcto e mais científico. Ámen.

Com a ajuda de António Costa, o ministro Tiago Brandão Rodrigues teve, nas televisões e no Parlamento, dois dias de glória. O ministro não ouviu quem devia ter ouvido, não acatou conselhos sábios de prudência e experiência e tomou medidas radicais a meio do ano lectivo. Com o atrevimento próprio dos ignorantes, denunciou a ideologia dos outros, declarando-se definitivamente científico e no cumprimento do interesse dos alunos. O parecer do Conselho Nacional de Educação diz o contrário? Aconselha várias medidas cautelares? É indiferente, “quem manda é o governo”. A disciplina, o trabalho, o rigor e o método? São etiquetas ideológicas que devemos afastar. O que importa é que a educação promova a igualdade e não a “elitização”, termo inventado por um analfabeto e adoptado pelo ministério. Parece ter ouvido cuidadosamente os dois partidos de extrema-esquerda e a Fenprof: sente-se até nas palavras utilizadas. Exprime-se numa língua de pedra, feita de lugares-comuns e de expressões aparentemente científicas. Diz que o sistema anterior é nocivo, provoca danos, criou traumas, promove a desigualdade, forma elites e traduz a cultura da nota. Não ouve nem dialoga com os parceiros, mas “informa-os das premissas”. Não ouviu os directores das escolas não se sabe porquê, mas também não interessa, porque “quem governa é o governo”. Reformou os exames e as avaliações a meio do ano, o que para ele não tem qualquer espécie de importância. Não falou com várias sociedades científicas, nem com organizações de pais, mas ouviu a Fenprof, que já o felicitou.

E assim recomeça mais um ciclo de reformas da educação. E desta maneira se iniciam discussões litúrgicas e obsessivas sobre os exames e a avaliação contínua, a aferição e a avaliação, a avaliação interna e a externa, a avaliação formativa e a sumativa…
O pior é que já vimos isto tudo. Uma vez. Duas vezes. Tantas vezes. Vezes a mais!


DN, 17 de Janeiro de 2016

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3 Comments:

Blogger opjj said...

Na minha opinião é que estamos no meio de gente fundamentalista e age como tal.
Todas as pessoas que fizeram a 4ª classe recordam-na como um marco nas suas vidas. Todas dizem que esta base permaneceu no seu saber até aos dias de hoje.
Recordo até que no exame da 4ª classe, no ditado, eu perguntava a uma professora de sotaque beirão. «Srª professora é naceu ou nasceu? Perguntei, repetiu 3 vezes e eu escrevi naceu (errei)»

20 de janeiro de 2016 às 13:15  
Blogger 500 said...

Já não tenho filhos (e netos não tenho) em idade escolar, pelo que não tenho opinião sobre o assunto. Contudo, não entendo como é que, sem ouvir os "entendidos", se mudam, tão radicalmente e de rompante, as regras ao intervalo do "jogo".

20 de janeiro de 2016 às 18:56  
Blogger José Batista said...

Curiosamente, este jovem ministro, quando criança ainda, com 14 anos, deixou de frequentar a escola secundária da sua terra natal e procurou (e frequentou) outra a 55 km de casa, porque essa outra "escola secundária tinha um corpo docente mais estável e bem preparado", conforme consta em entrevista publicada no número 1084 da revista "Visão", correspondente aos dias 12 a 18 de Novembro de 2013.
Habitualmente, tendemos a pensar que os pensamentos de criança vão ficando mais consistentes à medida que os indivíduos ganham maturidade e mundividência. Está visto que nem sempre é assim. E logo com alguém que é escolhido para ministro da... educação(!).
Temo pelo regresso (espampanante) do "eduquês". A esse propósito gostaria que um homem que sempre lutou frontal e corajosamente contra essa praga e que consta entre os contribuidores deste blogue, voltasse a publicar (também) aqui os seus artigos de denúncia. Refiro-me a Guilherme Valente, a quem renovo o meu agradecimento e deixo um abraço, muito amistoso.

20 de janeiro de 2016 às 20:02  

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