26.9.15

Sondagens e confidências

Por Antunes Ferreira
Como já disse, e sem me envergonhar, voltei com a palavra atrás, ou seja a decisão irrevogável que tinha tomado durou mais ou menos três dias. Revogada. A vida tem destas coisas: é uma espécie má de  “o homem põe e Deus dispõe”. Ainda que o dito Senhor (dando de barato que existe e sempre existirá per omnia secula seculorum) nada tenha a ver com isso, fica sempre bem recordar Pôncio Pilatos: ecce homo! De resto, umas quantas latinadas compõem qualquer texto: são os similares do que os tipógrafos (ainda os há) dizem: um texto sem gralhas é como um jardim sem flores… Não sou eu quem o digo – são eles.
Mas não podia conseguir atingir o objectivo, houve que levantar a cabeça e partir para outra (o jargão fubolístico é muito importante entre os Portugueses). Recaí nas eleições, não resisti à tentação das urnas. Continuo a leste de debates, meses redondas, entrevistas reportagens e programas sobre as campanhas, comentários de… comentadores diversos, tudo no mesmo tom, o diapasão não tem particular afinação para os decibéis utilizados nas arruadas.
É fácil dizer que no dia 4 de Outubro se verá. Lembram-se do João Pinto do FêCêPê? Prognósticos só no fim do jogo… Por isso sou um descrente praticante nas sondagens de todas as cores, quantidades e qualidades. Assim a modos dos trópicos, que são dois, o de Cancro ou Câncer e o de Capricórnio, um mais a Norte, o outro mais a sul, se distinguem os partidos e as respectivas campanhas, as promessas (que habitualmente não são cumpridas), o bipartidarismo a fingir de multipartidarismo.
Confronto-me com as sondagens que resultam em previsões mais díspares. Talvez aquelas à boca das urnas, os prognósticos só no fim do jogo ainda possam ter alguma credibilidade. As restantes e de acordo com o Herman são mais ou menos “tudo ao molho e fé em Deus”. Ora como eu não tenho fé em Deus, pois, repito, fui católico – mas curei-me, e a molhada não me diz nada, refiro-me apenas ao que se está a passar nestas legislativas 2015 e que, no fundo, bem lá no fundo – são verdadeiras incógnitas ao quadrado.
Na sexta-feira a Tracking Pool Intercampus patrocinada pela TVI, TSF e Público dava 37% para a PAF e 32,3% para o PS, enquanto a Eurosondagem  (do meu Amigo e sportinguista Rui Oliveira Costa) apresentava 36& para o PS e 35,5% para a PAF. Mau, em que ficamos? Acredita-se em qual? Quiçá recorrendo ao cara e coroa se chegue ao que será o resultado final; mas isso, volto a dizer é nos estádios de futebol.
Todas as quintas-feiras reúne-se um grupo de amigos à mesa de um restaurante; é uma tertúlia (não revelo o local nem o nome dele e naturalmente os dos tertulianos). É uma oportunidade para nos sentarmos à mesa, local ideal para trocar ideias e opiniões sobre os temas mais diversos. E discuti-los civilizadamente. Nisso é que está a graça dela, isso é que nos atrai, isso enfim é o espelho da Amizade.
Pois bem, na última quinta-feira, falou-se naturalmente de eleições, dos partidos, dos candidatos e também da novela Carrilliana, que plagiando Jorge Sampaio que disse que para além do défice há mais mundo, no caso da tertúlia disse-se que para além das sondagens há mais mundo. Foi no decorrer dela que um comunista (se me tento dar com todos os amigos por que bulas não o havia de fazer com o tal comunista? Porque para mim a Amizade sobreleva as partidarites, as clubites e outra “doenças” terminadas em ites.
Ele confidenciou-me que o Partido (acho piada quando o afirmam: quer dizer que só há o Partido e se houver, sublinho o se, outros não são partidos… A saudade do Partido único ainda perdura e, neste particular, não há nada a fazer ) tem as suas próprias sondagens feitas em regime de militância e elas dão a vitória aos socialistas. E ironicamente acrescentou, estás por isso de parabéns. Embora esta confidência tivesse sido feita sotto você respondi-lhe que vinham atrasados os parabéns pois fizera anos no domingo passado.
Só podia sair gargalhada – o que aconteceu; e originou uns quantos cenhos franzidos dos restantes comensais, mas que se passa, conta lá essa que nós também nos queremos rir!... É claro que respondemos em coro afinado que estávamos a analisar a conduta do Bruno de Carvalho. A explicação desconchavada não mereceu palmas, mas antes mais dúvidas. O comunista é lampião e eu sou lagarto; os outros não pareciam ter compreendido como era possível um dérbi ainda que à mesa.
De sondagens nem um pio; há conversas entre amigos cujo tema não se revela. Senão lá se vai a confidencialidade…

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