20.9.15

Burquina que faço?

Por Antunes Ferreira 
Permitam-me que aqui à puridade vos conte um segredo que agora decidi revelar: estou farto da política a la Portugaise. Não vejo debates, nem comentadores políticos, mesas redondas, muito menos campanhas pré que já são eleitorais com discursos, arruadas e outros que tais Obviamente vou votar no Partido Socialista; nunca escondi, não escondo e não esconderei esta filiação que tal com o brandi Constantino cuja fama já vem de longe.
Voltando as costas à política, à Pulhítica, à politiquice (à vontade do freguês) tinha forçosamente de escolher outro tema que não fosse português; como o fiz há muitos anos retornei aos comentários sobre a política, mas a internacional. Quem ainda me lê estará por certo a confirmar que políticos, jornalistas e comentadores são um bando de mentirosos, pois que quando ao pequeno-almoço dizem preto, ao almoço já mudaram para o cinzento e ao jantar para o branco. E se ainda houvesse ceia passariam para a cor-de-burro-quando-foge.
Não é que o internacional tenha grandes diferenças com o nacional, ainda qua já lá vão uns anos o slogan propagandístico dissesse que “tudo o que é nacional é bom” Assim sendo, detenho-me numa notícia pouco destacada mas cujo interesse pelo menos para mim justifica estas linhas que escrevo. É o caso paradigmático do que se passou (ou ainda está a passar-se) no Burquina Faso que poucos anos atrás se chamava República do Alto Volta, denominação que lhe ficou do colonialismo francês.
Como quase todos os países africanos onde europeus e norte americanos quiseram transforma em democracias apoiadas pelo Ocidente ou pelo Oriente presidido pela então URSS, a história foi-se repetindo: poder civil, constituição, golpe militar, nova constituição, poder civil e etc. um dico rachado que até agora nunca parou a sua lengalenga.
Há poucos dias o presidente (ao que parece interino) Michel Kafando e membros do governo de transição foram “feitos reféns” por militares da própria guarda presencial. Pormenorizando: de acordo com a Rádio Omega, (governamental) afinal o primeiro-ministro Isaac Zida e todos os ministros do governo chefiado pelo tenente-coronel Kafando também foram feitos reféns. Tomavam parte de uma reunião para a finalização do regime de transição.
O Burquina Faso deveria ter eleições no próximo mês de Outubro para por fim à transição civil (?) iniciada há um ano, depois de inúmeros protestos que levaram à ditadura de mais de 27 anos de Blaise Compaoré. Na base dos protestos estava o assassinato do ex-presidente Tomas Sankara. Até à data do fecho deste texto a informação a rádio usava a forma clássica nesta situação: “reina a calma” na capital Ouagadogou , mas os cidadãos ainda nem sabiam o que se tinha passado e como fora o golpe e até quem fora o seu autor, pois nenhum grupo político ou militar reivindicara a autoria do golpe.
África tem de deixar de ser o cadinho de experiências ditas políticas. Há tempos um autor angolano perguntava-se se Deus era branco. Em Angola havia um dito significativo sobre esta questão: “O branco é filho de Deus, o preto é filho do Diabo e o mulato é filho da puta…” Estes estereótipos têm de acabar, sob pena da África ser a pole position de uma nova guerra mundial.
A população negra maioritária do continente africano continua a fazer comparações entre o tempo dos colonialistas e o da actualidade. O que além de ser pernicioso é perigoso, muito perigoso para o Mundo. O apartheid acabou oficialmente, mas não terminou nos cérebros dos africanos - brancos ou pretos. É conhecida a anedota sobre a África do Sul: depois do NC chegar ao poder, uma professora no primeiro dia das aulas disse aos seus alunos. “A partir de agora, não há pretos e brancos: somos todos azuis…” Amalta ficou de olhos esbugalhados: podia lá ser uma coisa assim? E logo a docente indicou: “os azuis claros sentam.se à frente; os azuis escuros vão lá para trás…”
Entretanto os militares libertaram Kafando que é também militar. Resta saber o que virá a seguir. Desde que a revolta dos Mau Mau ocorreu no Quénia e Jomo Keniata ascendeu à presidência durante 15 anos, o país transformou-se num exemplo para a África pela estabilidade e pela transição para um capitalismo “soft”.
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