26.4.15

ÁGUA DE COCO Os russos faltosos

Por Antunes Ferreira 
“Vêm aí os russos!” era o título duma comédia originária de Hollywood nos anos sessenta. Aqui em Goa já vieram, muitos já cá se instalaram, compraram casas, propriedades e terrenos onde afixaram em inglês e em russo: Proibida a entrada a estrangeiros! Incluindo naturalmente goeses que assim se tornaram “estrangeiros” na sua própria terra! Colvá é disso um mau exemplo: na terra abundam os letreiros em cirílico, desde as lojas de tatuagens até aos restaurantes cujos menus têm listas em inglês e em russo. Para não referir os estabelecimentos de tratamentos aiuvédricos, que se encontram pari passu.
Mas, este ano a cantiga é outra. Russos são poucos, o rublo está de rastos e as sanções impostas pelo Ocidente liderado por Obama. Bem pode Putin, o czar hodierno dizer que a grande Mãe Rússia suporta e suportará as limitações que resultam das restrições que o povo está a sentir na pele e… nos bolsos. A ocupação da Crimeia e o apoio (ainda que “desmentido”, no que quase ninguém acredita…) à guerra fratricida dos ucranianos o que continua a manter o conflito armado que causa cada vez mais mortos, feridos e deslocados, destruições de edifícios e de pessoas, deu como consequência o empobrecimento dos russos
 Diz o povo que “quem não tem dinheiro não tem vícios” – e é bem verdade; no caso particular dos cidadãos russos, “quem não tem divisas não tem férias especialmente em Goa”. E o turismo, como se sabe, é uma das duas fontes fundamentais da economia do Estado mais pequeno da Índia mas que tem (tinha?) o melhor PIB do subcontinente. Mas os réditos estatais também fruto da exploração das minas. Ora estas estão paradas há mais de dois anos à espera de legislação que regule a actividade das legais; as que fugiam aos impostos, ou seja as ilegais estão condenadas.
 Assim toda gente que depende do turismo se queixa da falta de compradores, especialmente dos russos. Desde os choferes de táxis (e até de riquexós) que e são muitos, até aos proprietários das lojas e tendas e empregados do comércio, nomeadamente de souvenirs, todos se lamentam. Obviamente os restaurantes, hotéis, resorts e bares têm as suas receitas drasticamente diminuídas; mas Goa continua a ser um local favorito para o turismo interno: os habitantes de outros estados. Só que não chega.
 Aqui em Colvá temos o nosso condutor especial e quase privativo que, juntamente com os seus três filhos da mesma profissão assegura as nossas deslocações: é o Aleixo Caridade Almeida que fez o sêgundo grau e de quem já falei por várias vezes. O clã Almeida é católico, nas respectivas viaturas há imagens de Cristo, da Senhora de Fátima, e, claro, de São Francisco Xavier. Queixam-se do mesmo mal: a ausência de turistas pelo menos em quantidade muito significativa.
E à volta, em Sernabatim, Benaulim, Majordá, praias lindas, vêm-se muito poucos estrangeiros. E os que se encontram nas ruas que dão acesso à beira-mar são principalmente ingleses e alemães. Eduardo Faleiro, um excelente Amigo dos tempos da Faculdade de Direito, que em 1961 optou pela nacionalidade indiana e foi ministro de Estado das Relações Exteriores e, depois das Finanças, acentua o problema. Militante do Congresso dos Gandhis e por isso opositor do BJP que desde o ano passado é Governo.
Pelas seis da tarde vem buscar-nos no seu carro com condutor ao Ocean Groves, uma magnífica urbanização onde se situa o famoso apartamento (à borla, como já o escrevi por várias vezes) do Francisco Mascarenhas primo/padre da Raquel, para irmos até à praia onde conversamos. Eduardo foi objecto de uma melindrosíssima operação e com o nosso convívio em que relembramos a nossa época de estudantes (aliás ele nasceu em Lisboa…) vai matando o tempo. Está a organizar a sua biblioteca e as horas que está connosco é um verdadeiro refrigério – diz ele. Curiosamente foi contemporâneo da Raquel no Liceu Nacional Afonso de Albuquerque, tendo rumado ambos a Lisboa no mesmo ano 1957. Na beira-mar para onde foram levadas as mesas e as cadeiras dos restaurantes e onde se colocam velas, o espectáculo é inebriante, lindo de morrer. As pessoas vão bebendo os seus copos e conversando, arte por excelência de Goa. O oceano acompanha-as com o marulhar – e nós comungamos a ocasião. Conto as últimas anedotas que o divertem muito, acentuo a minha opinião com o (des)Governo de Portugal e em especial do putativo PR. Eduardo conheceu Cavaco como primeiro-ministro aquando de uma das viagens oficiais que fez ao nosso país. Conto-lhe da incultura do esprito vingativo, das calinadas do autor dos “cidadões” e do “façarei” e ele risse-se. Mas logo acrescenta que não se quer meter – e não se mete – na política portuguesa, o que é natural. Porém há um nome que respeita e admira: Mário Soares que, quando sabe que vou a Goa envia-lhe sempre um abraço de amizade. O pai de Eduardo (defensor da teoria de dois países com a mesma bandeira, a portuguesa) ensinou inglês no Colégio Moderno. Dizem as más línguas que foi o “responsável” pelo macarrónico ou mesmo inexistente do “inglês” de Soares… Eduardo não contesta, solta umas gargalhadas. Para ele a pai da democracia portuguesa é o maior!

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2 Comments:

Blogger opjj said...

V.Exª tem uma obcessão doentia e de má índole contra Cavaco. Se se acho tão bom e cheio de virtudes, tem agora uma oportunidade de mostrar-se. Cavaco já se submeteu aos eleitores 5 vezes e ganhou por maiorias.Onde está o seu povo que lhe dá tais direitos? Pois é a insignifiCãncia e dôr de cotovelo dá nisto.

27 de abril de 2015 às 12:56  
Blogger Unknown said...

Senhor OPJJ

Em Liberdade e Democracia todo o direito de opinião não é... delito de opinião. Não gosto de CS desde o antes do 25 de Abril - e disse-lho. Agora só me estou a repetir.

Muito obrigado pelo seu comentário

29 de abril de 2015 às 21:27  

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