16.9.14

Voltando ao calafrio nas costas

Por Ferreira Fernandes 
Parece bater sempre na mesma tecla, e é. Tenho o pescoço sensível e, sim, volto ao Estado Islâmico. Temos, então, o referendo na Escócia, na próxima quinta. O primeiro-ministro britânico David Cameron disse que a independência escocesa não seria um convite para tomar chá mas um "divórcio doloroso." E insistiu que o "sim" à independência seria um ato irreversível, seria "para todo o sempre." Reparo que Cameron não lembrou um dos factos deste referendo: a decisão sobre a unidade será tomada por uma só parte, os residentes na Escócia. Como eu já disse aqui, um português que não saiba quem foi Livingstone, nem queira saber, e viva em Edimburgo há três anos porque a empresa belga o lá colocou, pode votar. Já um inglês e um escocês que vivam em Londres não podem votar, apesar da decisão lhes dar a dor de perderem, a um a Escócia, a outro a Inglaterra, partes da sua vida, memória e cultura. Temos, pois, para voltarmos à imagem de Cameron, um divórcio litigioso em que a parte que decidiu partir é que decide unilateralmente, sem recorrer à arbitragem de um terceiro, um juiz, como prudentemente os casamentos de pessoas se deram para acabar o melhor possível. Quer dizer, a haver saída da Escócia, não haverá melhor possível. Será rutura de consequências incontroláveis e imprevisíveis, como foi o fim da URSS. Logo, o melhor exército europeu, o britânico, acaba. Logo, o meu pescoço está mais frágil. Como eu disse, volto à minha tecla.
«DN» de 16 Set 14

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