18.7.14

Dois voos para a coincidência tremenda

Por Ferreira Fernandes
Por uns dias ou num pouco provável mistério eterno, vai ficar sem se saber quem abateu o avião malaio na Ucrânia. Ontem, já se dava como mais ou menos certo que foi um míssil terra-ar. Mas de quem? O tal míssil apontaria, hipótese mais plausível, os secessionistas russos como culpados - são eles que utilizam aquelas armas porque os adversários ucranianos têm aviação militar e eles não. Mas essa lógica joga também contra si - afinal, estamos numa guerra e atirar as culpas para o inimigo é arma comum e eficaz. Ação deliberadamente criminosa de pró-russos ou de pró-Kiev são, pois, ambas credíveis, até porque as guerras civis (como esta, no fundo, é) são capazes de tudo. Mas, já numa maldade minimamente aceitável, a hipótese que menos chocaria a consciência universal (bastante amolecida, vemos telejornais todos os dias) seria um míssil lançado equivocadamente para o alvo errado. Isso tudo saber-se-á, talvez. Outra coisa é um avião da Malaysia Airlines, em março, desaparecer com 239 passageiros, no voo MH 370 - um mistério tremendo - e, cinco meses depois - coincidência também tremenda - outro avião da mesma companhia, voo MH 17, matar 295 passageiros. Ontem, alguém em Kuala Lumpur soube mostrar o estupor: "Não estamos preparados para isto tão cedo depois da tragédia do MH 370." Quem apertou o gatilho deveria ficar também com esta frase na consciência. Se a tivesse.
«DN» de 18 Jul 14

Etiquetas: ,