27.6.14

A culpa é toda minha e todinho continuo...

Por Ferreira Fernandes
Rebobino: bastam os três minutos finais. Vão lá ver. Para quem acredita em si durante um longo tempo de trabalho, uma vida ou 90 minutos, não preciso de explicar que a felicidade é possível. Esses sabem, são gente de bem consigo, são os holandeses desta vida. Falo para os outros, os que remetem as ganas para os três minutos finais. Esses podem ter sorte, mas é raro. Porque o tempo é tão curto, acontece uma perna adversária interpor-se ou o capricho de um ressalto e, aí, apesar da sucessão de boas oportunidades, falha-se. As ganas se são só finais quase sempre acabam esganadas pela pressa. Mas não é essa a melhor lição a tirar. À luz do que foi possível nos três minutos finais, a lição é: e se eu tivesse começado mais cedo? E se no resto anterior da minha vida (ou nos precedentes 87 minutos) eu já quisesse, aprendesse e insistisse? Claro que não falo só daqueles infelizes 13 ou 14 rapazes de ontem ao fim da tarde. Eles eram nós em calções. E nós, apesar do tanto interesse pelo futebol, que fizemos antes dos três minutos? Eu, por exemplo, perante um facto notório - Paulo Bento não poder ser treinador da seleção - porque não fui fazer uma greve de fome para o cimo da estátua do Marquês? Pelo menos, eu devia ter-me recusado a escrever-lhe o nome enquanto ele ocupasse, sem ter unhas nem saber, lugar tão importante. Ele quem? Ele. Comecei agora a não querer ficar esganado nuns quaisquer três últimos minutos do Europeu de 2016.
«DN» de 27 Jun 14

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