20.5.14

Declaração de voto

Por Ferreira Fernandes 
Porta dos Fundos é um site brasileiro de humor na internet (*) que descobriu o seu negócio. Admiro gente que faz onde os outros desconseguem. Por exemplo, os jornais, não só os portugueses, andam à procura da rolha. Ir pela net é inevitável, mas como fazê-lo de forma rentável? Ainda ninguém sabe. Até o The New York Times não sabe, a diretora acaba de cair por isso. O mais difícil foi conseguido, o jornalismo foi inventado para a internet, com ela ele é mais rápido, mais bonito, mais completo. Mas porque ainda não se sabe como fazer pagar a evolução, o novo jornalismo patina. É como se o automóvel fosse inventado meio século antes das estradas. Aí, entra o Porta dos Fundos, com um desafio - certo, mais fácil - que venceu. Fez vídeos de humor, meteu-os no YouTube e parecia que trabalhavam só para aquecer. Mas eram tão bons, tão bons, que viraram peito de CR7, bom de colar anúncios. E, agora, o Porta dos Fundos vive das visualizações que tem. Mas isso é negócio, que não é a minha praia. Como é que o Porta dos Fundos é tão bom?, isso já me interessa. Acho que são bons porque dão lições de vida. Como naquele vídeo em que um casal fala no café, ele pede uma cola e a empregada diz: "Essa não tem. Pode ser Pepsi?" E o rapaz faz uma careta de desdém, não mais, e volta a falar com a namorada. Arraso é isso. Iluminou-me para domingo. Na mesa de voto peço um partido decente. Se me disserem: "Esse não tem. Pode ser...?", desprezo o remedeio. 
«DN» de 27 Mai 14
(*) - Ver, p.ex., [aqui].

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