16.4.14

O inalienável direito à garganta funda

Por Ferreira Fernandes
Não é um qualquer. Foi reeleito presidente do maior grupo parlamentar europeu, o Partido Popular Europeu, e é dos mais influentes a preparar a substituição de Durão Barroso. Joseph Daul, de 67 anos, é um conservador francês, deputado europeu pela direita. Ontem deu uma entrevista a um jornal da sua região, Dernières Nouvelles d"Alsace, isto é, falou com cuidado, para quem o elege. Perguntaram-lhe como motivar os jovens sobre a Europa. Respondeu: "Digo-lhes que quando tinha a idade deles e ia a Khel, na Alemanha, a poucos quilómetros de minha casa, para ver um filme pornográfico, proibido em França, perdia horas na alfândega e chegava atrasado. Quando digo isto aos jovens eles percebem o que a Europa quer dizer." Joseph Daul não respondeu ao lado, falou certo. No ano passado, escrevendo sobre o 25 de Abril, lembrei-me do Sr. Glória, dono de uma papelaria na Alameda, frente ao Instituto Superior Técnico. Por aqueles dias de 1974, antes do grande dia, era comum haver manifestações. O comerciante, que servia uma cliente, não levantou a cabeça quando disse: "Ontem lá houve mais bordoada entre estudantes e polícias." Fez mal em não levantar a cabeça, não reparou num desconhecido. Este era um guarda da PSP que "logo lhe deu voz de prisão" (relatou o Diário de Lisboa, 1-2-74). O Sr. Glória foi a tribunal por "propagação de boatos". A liberdade é sagrada. Incluindo ver filmes pornográficos e não levantar a cabeça quando se fala.
«DN» de 16 Abr 14

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