8.3.14

Ser e não estar, eis a questão

Por Ferreira Fernandes
O que os políticos dizem não "são" frases, "estão" frases. Quem fala português, com a sorte de poder escolher entre os verbos ser e estar - uma das palavras, ser, vinda do latim sedere, "estar sentado", com todo o tempo do mundo, e a outra, estar, vinda do latim stare, "estar de pé", em situação passageira -, deveria reconhecer a armadilha que é a sua opinião deixar-se influenciar demasiadamente pelo estar e não pelo ser. 
Anteontem, Maria de Belém Roseira, ex-ministra socialista, agora dirigente da oposição e com intenção de voltar ao poder, falou segundo a sua posição atual nessa peregrinação. Quando falou, deixou-se condicionar por onde ela "está", pela situação de pé, transitória, em que agora se encontra. E onde está ela? Na oposição. Daí que, na TVI, a despropósito da manifestação policial, dissesse isto: "As manifestações mais impressionantes a que eu tenho assistido no País são aquelas, silenciosas e anónimas, das mães que matam filhos e se matam a seguir." Esta frase não "está" demagógica. "É" demagógica. E, infelizmente, nem posso dizer que "está" indecente porque corresponde a esta oposição. De outras oposições, em fases diferentes do carrossel do poder - quando o PSD e o CDS lá estavam -, também ouvi frases indecentes similares. A frase de Maria de Belém "é" indecente porque corresponde à maneira perene e constante com que a maioria dos políticos não "é" estadista. "Estão", a dado momento, para ali virados. 
«DN» de 8 Mar 14

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