12.2.14

O cardeal Clemente

Por Baptista-Bastos
Li, há dias, no Público, uma entrevista a D. Januário Torgal Ferreira, antigo bispo das Forças Armadas. Um refrigério, se a compararmos com a dicção monótona, precaucionista, desagradável e espalmada de, por exemplo, D. Manuel Clemente. 
O patriarca de Lisboa é uma sombra melancólica do que foi. E foi um homem desenvolto quando reitor do Seminário dos Olivais. 
Conheci-o num debate promovido pela SIC e moderado por Margarida Marante. Um regalo para os olhos e para o espírito. Dois homens cultos, que se respeitavam e desejavam expor, sem gritaria, as suas visões de mundo e as características das respectivas singularidades. 
Carteámo-nos por e-mail e, mais tarde, com ele participei, no Porto, em uma controvérsia sobre exclusão social, sob o patrocínio do Montepio Geral. 
Ouço-lhe as homilias, os comentários, leio-lhe as entrevistas e as enunciações. Tentava descobrir, no homem de hoje, o padre aberto, dialogante e claro de outrora. Nem sequer a mais ligeira recomendação sobre o Papa Francisco. 
A homilia há dias proferida na Capela de Santa Maria constituiu um fluxo de banalidades, mais comuns a pároco de aldeia e não ao fino intelectual interventivo e solidário que foi e deixou de ser. 
Parece, inclusive, nas evasivas, nas sinédoques e metáforas com que ornamenta a oração, não estar disposto, como devia e seria imperioso, a arguir, a denunciar, a verberar a situação portuguesa, em todas as vertentes da sua desgraçada miséria. 
O mutismo do patriarca Clemente chega ser inquietante, e nada tem a ver com o vendaval moral e cultural que varre o Vaticano. Aliás, ele não está só nesta incongruência desacreditante. 
O Episcopado rege-se pela mesma pauta e pratica o silêncio como forma de passar ao lado. O Papa quer punir os padres pedófilos, através das leis civis. Quanto a esse assunto, oclusão absoluta, de que é paradigma o caso de D. Carlos Azevedo. 
A Igreja regressou ao breviário mais reaccionário e mais infame. Nos momentos em que mais precisamos da sua voz e do exemplo dos seus melhores homens, desvia-se e entoa outros cantares. 
Habitualmente, segue a música do suserano. Cabe-nos, também, modificar essa obediência, que possui algo de servidão e de medo.
"DN" de 12 Fev 14

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3 Comments:

Blogger Unknown said...

Bom dia.
Não há nenhum cardeal Clemente.
O Patriarca de Lisboa é bispo.

12 de fevereiro de 2014 às 12:16  
Blogger Leo said...

Como é possível que ainda se ouçam os padres... O pior cego é o que não quer ver.
Dois homens cultos que não deixam de ser herdeiros e o rosto visível de uma instituição de passado sangrento e que no futuro, espero, possa vir a ser responsabilizada pelas atrocidades que praticaram e que ficaram impunes, crimes praticados contra a Humanidade praticamente inteira e que resultaram na maior burla que a humanidade conheceu e no atraso do desenvolvimento dos povos e nações.
Léo.

13 de fevereiro de 2014 às 10:42  
Blogger brites said...


DIFÍCIL PARA QUALQUER UM NÃO É SER REVOLUCIONÁRIO NA JUVENTUDE,DIFICIL É MANTER-SE!SOBRETUDO SE SUBIU NA PIRÂMIDE...

14 de fevereiro de 2014 às 10:40  

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