26.12.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
Rui Rio geriu durante 12 anos a Câmara do Porto. Impôs rigor nas contas do município, contrariou o despesismo e o endividamento reinantes em muitas autarquias (contrastando com o exemplo da vizinha e superendividada Gaia), fez finca-pé na separação de campos da política com outros poderes como o do FC Porto, enfrentou alguns lóbis e incompreensões dos meios artísticos, conviveu sempre mal com a liberdade crítica da comunicação social que lhe era desafecta, foi conquistando influência e mais votantes de eleição para eleição.
Mas, ao longo desses 12 anos, Rio raramente ultrapassou a sua condição regional e pouco revelou sobre um pensamento político mais amplo e estruturado: não ficaram na memória ideias ou intervenções suas sobre a crise da dívida, a dimensão do Estado social, a baixa produtividade da nossa economia, a sustentabilidade das pensões ou o federalismo na UE.
Essa indefinição, essa espécie de folha em branco programática, talvez tenha contribuído para Rio ter sido, agora, colocado na sebastiânica lista de promessas políticas com grande futuro. O curioso é que Rui Rio decidiu dar corda a esse sebastianismo e tem-se desdobrado em colóquios, conferências e monólogos em locais tão improváveis e politicamente tão surpreendentes como a Casa-Museu do pai de Mário Soares ou a Associação 25 de Abril.
E o que foi propor Rio a tão sugestivas audiências? Coisas tão populistas, demagógicas e inquietantes como cavalgar a onda de desancar nos partidos que “não põem cá fora o que a sociedade precisa”, apoucar os “políticos de hoje” que são de “qualidade inferior”, denegrir o “sector da Justiça que causa aflição” ou agitar o papão de “uma ditadura sem rosto ao virar da esquina”. Para obstar a tamanha degradação, Rio sugere receitas tão básicas e perigosas como as de “a abstenção eleger cadeiras vazias no Parlamento” ou “o voto obrigatório”. Tudo o mais no seu périplo conferencista são tiradas politicamente balofas dirigidas aos desencantados com os partidos.
Parece que Rui Rio, apesar desta vacuidade populista, tem ambições de chegar alto no partido e na política nacional. Porque não? Não chegou, também, Luís Filipe Menezes a líder do PSD? Tudo é possível.
«SOL» de 20 Dez 13

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Politicamente, não sei onde Rui Rio vai chegar, se é que vai chegar, ou se merece chegar.
Mas parece-me meridiano que os partidos, com a sua "apropriação" da democracia - porque raio não podem os cidadãos sem partido propor outros cidadãos como deputados seus representantes na assembleia da república? - com o seu funcionamento endogâmico e as suas "escolas" de juventude, têm mesmo produzido políticos de qualidade inferior.
Também não se percebe como é que o parlamento precisa de 230 deputados, quando boa parte deles não sabe a gente o que fazem ou para que servem, senão para ocuparem o poder e receberem o vencimento. Então a "ciência política" a a matemática não conseguem uma assembleia mais representativa e igualmente proporcional, com (muito) menos gente?
E não é menos linear que o nosso sistema de justiça causa mesmo aflição: aos que dela precisam e a todos aqueles a quem não inspira confiança nenhuma.
Quanto a ditaduras, não sei se não vivemos sob o jugo de várias, pelo menos o da sujeição à incompetência e falta de seriedade de quem nos (des)governa e o da voracidade dos grandes tubarões financeiros, em cuja boca nos metemos.
É claro que ainda podemos escrevinhar ou berrar. Mas, o que (me) interessa(va) teria que ser um bocadinho mais efectivo, digamos...

26 de dezembro de 2013 às 20:21  

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