23.10.13

O Governo é burro

Por Baptista-Bastos
PAULO PORTAS chegou, falou e disse: "Os pobres não se manifestam, nem vão à televisão." Por antinomia, deduz-se que quis afirmar: quem se manifesta são os ricos, assim como são eles que vão à televisão. Como sabemos que o presidente do CDS-PP não é tolo inclinamo-nos para a triste e dura hipótese de que ensandeceu. A verdade é que não tem andado bem: os direitos, os deveres e as características de quem governa têm sido espezinhados, com faustosa leviandade.
Ele, eles não sabem o que fazem. E a proibição de a CGTP organizar a manifestação na Ponte 25 de Abril, sob a alegação dos perigos a haver foi o absurdo dos absurdos. O processo intentado contra os valores que definem a democracia tem sido contornado com maior ou menor êxito. E o caso da Ponte 25 de Abril demonstrou que a imaginação possui uma força que o poder permanentemente ignora. A desorientação dos habituais panegiristas do Governo, que procuraram minimizar a importância do acontecimento não obstou a que ele tivesse a monta desejada. O Marcelo chegou a ser grotesco; Marques Mendes, coitado!, exteriorizou a habitual pungente mediocridade; Sarmento conseguiu fazer-nos entediar mais do que costuma, levando-nos, de novo, a perguntar o que faz ali a funesta criatura.
Luís Delgado salvou a honra do convento, criticando a decisão eruptiva do Executivo com a veemência de quem condena uma indesmentível burrice. Depois, surgiu o Portas, com o brilho fanado pelas "incongruências problemáticas" de um homem ferrado pelas irresoluções de carácter. Não compreende, ou faz por isso, que a pequenina ascensão do CDS resulta da queda do seu parceiro de coligação. No meio desta baderna, entre a asnada, a incompetência, a sobranceria desesperada dos que naufragam, o dr. Cavaco, no estrangeiro, assevera que não vai levantar pendências ao Tribunal Constitucional sobre as evidentes inconstitucionalidades do Orçamento.
Claro que todos estes incidentes são sintomas do mal-estar da sociedade portuguesa, e da degradação da democracia, em que o sentido da dignidade é amiúde mortificado pela "indiferença actuante" de um Presidente da República que o não sabe ser, fazendo pender o prato da balança para um só lado.
Sabe-se que a política, lato senso, foi substituída pela "gestão" e esta comandada pela finança e pelos interesses de grupo. É total o contraste entre a exigência de justiça e de equidade social e a evidência falsa e inútil do discurso dos dirigentes. Há poucas vozes protestatárias na imprensa e a grande rábula da "independência" e da "imparcialidade" ficou amplamente comprovada, como rábula e ardil, naquele abjecto programa na RTP, no qual o Passos Coelho "respondeu" ao País, sem responder a nada.
Como disse um teólogo, "vivemos mergulhados no mal da alma", e se a pátria tem passado por interregnos terríveis, sempre surgia uma luz, que nos conferia esperança. Agora, é isto.
«DN» de 23 Out 13

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