16.9.13

Os cartazes toscos são uma boa notícia

Por Ferreira Fernandes
LEIO que os partidos têm menos para gastar nas eleições. Leio também que a ingenuidade dos cartazes tem animado esta campanha autárquica. Junto a com b: a crise aguçou - mesmo que por vezes de forma ridícula - o engenho. Acontece isto quando a tecnologia facilita a feitura da propaganda. Alguns resultados têm sido iguais aos da velhota espanhola de Borja que "restaurou" uma pintura de Cristo: artisticamente, um desastre, mas todos falaram disso... 
Como a propaganda eleitoral é exatamente para que se fale, vivemos talvez um momento feliz. Em Torre de Moncorvo, Carla Neves, candidata a uma das freguesias, abrilhantou um dos cartazes com uma foto - vestido rosa tomara que caia e cabelo armado - parecendo de baile de debutante. Ela própria admitiu no Facebook que a foto era "horrível", mas, graças a ela, passou a ser "a pessoa mais amada do meu querido Portugal." Exagero, talvez, mas que o eco (ou pelo menos a photoshop da candidata) chegou longe, chegou. 
A conclusão essencial a tirar é que a crise descentralizou as campanhas eleitorais e que os candidatos locais podem ver nisso uma janela (ou cartaz) de oportunidades. Os soberbos catalogam os cartazes de "tesourinhos deprimentes". Mas estes podem ser a devolução aos candidatos da sua condição de nos convencerem. Por mais toscos que sejam os de hoje, são mais democráticos do que as resmas mandadas pela sede do partido, com fotos perfeitas e palavras de ordem não discutidas. 
«DN» de 16 SEt 13

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