18.9.13

De recuo em recuo até ao tapado geral

Por Ferreira Fernandes
HÁ ALGUNS anos, escrevi uma crónica em que exagerei, deliberadamente exagerei. O que eu queria dizer era: ainda não chegámos a este ponto, mas que vamos para lá, vamos... A crónica era sobre dois talibãs que desembarcaram numa praia algarvia e anunciaram a guerra santa. Exército, força aérea e fuzileiros cercaram os invasores, que ameaçavam com uma espingarda enferrujada e um canivete. Negociações. Horas depois, um oficial anunciou a vitória da democracia: os talibãs recuaram nas exigências! Eles tinham começado por querer que as mulheres portuguesas usassem burca. Mas chegou-se a um compromisso, suspirou de alívio o nosso oficial: "A burca só será usada a sul do Mondego. Conseguimos que, a norte, a medida fosse adiada por cinco anos..." 
Ontem lembrei-me dessa crónica exagerada. O Daily Express contou um julgamento em Londres. A ré apareceu de niqab - vestes negras da cabeça aos pés, luvas e só uma nesga nos olhos. O juiz começou por dizer que ela tinha de tirar toda aquela ausência de identidade. Ela negou-se. O juiz aceitou que ela fosse a uma salinha para uma funcionária confirmar que era bem ela. Ela voltou e vai poder ficar tapada durante as audiências: só quando prestar declarações é que tem de mostrar a cara ao juiz e ao júri... O advogado dela vai recorrer. Fez mal em precipitar-se, se ele conseguir aguentar o julgamento durante cinco anos, também aquele norte do Mondego já estará conquistado.
«DN» de 18 Set 13

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