24.8.13

Ditadores longevos

Por Antunes Ferreira 
HÁ, NA HISTÓRIA dos XX e XXI séculos alguns casos de longevidade de ditadores. No que concerne a tiranos efémeros o caso fia mais fino. Felizmente são muito mais. De qualquer forma, trago à baila uma expressão criada por Sir Winston Churchill e que ficou para os anais do mundo político. Por certo já a enunciaram, mas, pelo sim, pelo não, ela aqui fica: a melhor ditadura é sempre pior do que a pior democracia. Isto, dando de barato que há ditaduras boas… 
Robert Mugabe foi “reeleito” Presidente do Zimbabwe para um sexto mandato à frente dos destinos do país. Uma vez mais ter-se-ão verificado chapeladas nas urnas; uma vez mais também o ditador africano ignorou as críticas sobre as fraudes eleitorais que o levaram ao poder, depois de atraiçoar Joshua Nkomo, que tinha fundado nos tempos do colonialismo britânico, a ZAPU, a União Africana dos Povos do Zimbabwe. 
Em 1980 foi nomeado primeiro-ministro e forma um governo de coligação entre o partido que fundara, a ZANU, ou seja a União Nacional Africana do Zimbabwe, e a ZAPU. Mas, logo em 1982, depois de ter afastado Nkomo, num processo muito duvidoso, aboliu o redime parlamentar e tornou-se o único detentor, bem entendido com a ZANU por trás. Tomou posse no estádio nacional de Harare na passada quinta-feira, 22 de Agosto perante uma verdadeira multidão de adeptos que enchiam o recinto. No seu discurso de posse, Mugabe ignorou a contestação interna e usou um tom conciliatório ao referir que só que nas eleições é que “há competição, vencedores e vencidos”. “No Governo, não há competição, somos todos pelo Zimbabwe”, garantiu. 
E ainda afirmou que “quanto aos países ocidentais que podem ter uma visão diferente, negativa, do nosso processo eleitoral e dos resultados, bem, não há nada que possamos fazer por eles. Rejeitamos essas pessoas vis cuja torpeza moral só podemos lamentar. Eles têm o direito às suas opiniões, desde que reconheçam que a maioria do nosso povo aprovou o resultado das eleições". Ditadura que já existe há 33 anos… 
Mais longas do que ela, podem citar-se a salazarista que durou 36 anos, mas que, se lhe juntarmos os quatro em que o “Esteves” (Era uma das alcunhas do homem de Santa Comba Dão, pois os noticiários relatavam quase sempre “esteve ontem de visita a; esteve ontem na cerimónia de; esteve ontem no palácio de, etc, pelo receio que tinha de sofrer um atentado…) pontificou no Ministério das Finanças, alcançou os 40… E o caso de Frederico Franco, mesmo aqui ao lado, também não é de desprezar: 36 anos este o déspota galego à frente dos destinos da Espanha, depois de ter ganho a Guerra Civil. Chegou a Generalisimo e funcionou como Regente do Reino, tudo títulos para camuflar o que verdadeiramente era. 
Mugabe em questões de longevidade de ditadura está pois bem acompanhado. Vale a pena enunciar uns quantos mais exemplos que a História registou. No Egipto, depois de Nasser ter governado 16 anos, seguiu-se-lhe Mubarak que foi “faraó” durante 30 anos; na antiga Jugoslávia o marechal Tito durou 27 anos no poder; na União Soviética Estaline completou quase 31. Mas o recordista pode ser considerado o tirano da Coreia do Norte, Kim Il-Sung que “reinou” ao longo de 46 anos. Há que registar e louvar todos quantos tiveram e têm a coragem e a vontade política de afrontar as ditaduras, fosse qual fosse o lugar onde existiram e, infelizmente, ainda existem. A luta pela liberdade e pela democracia que lhe é irmã gémea siamesa, pois estão intimamente ligadas, constitui um dos maiores heroísmos que a História encerra. 
O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, tomou posse para um sexto mandato à frente dos destinos do país numa cerimónia organizada num estádio da periferia de Harare.
Mugabe, de 89 anos, que está no poder há 33, jurou "fazer respeitar e defender a Constituição do Zimbabwe e todas as leis do Zimbabwe" diante de milhares de apoiantes. "Quanto aos países ocidentais que podem ter uma visão diferente, negativa, do nosso processo eleitoral e dos resultados, bem, não há nada que possamos fazer por eles. Rejeitamos essas pessoas vis cuja torpeza moral só podemos lamentar. Eles têm o direito às suas opiniões, desde que reconheçam que a maioria do nosso povo aprovou o resultado das eleições", disse Mugabe. 
À sua chegada ao estádio, Mugabe foi aclamado pela multidão, vestida com T-shirts com o seu rosto. Mugabe foi reeleito na primeira volta das presidenciais de 31 de julho com 61% dos votos, contra 34% de Morgan Tsvangirai, seu rival nas últimas três eleições. Este anunciou que não assistiria à cerimónia, por contestar o resultado eleitoral. 
Nos anos dos seus mandato, Mugabe, sendo um marxista que se afastou completamente dos seus ideais com o fim da URSS, deu seguimento a um conjunto de políticas de carácter socializante, nacionalizando várias indústrias ao mesmo tempo que expropriava várias terras dos seus proprietários originais e seguia os seus planos de aumento de impostos e de controlo de preços, alastrando assim o controle do estado sobre os diversos setores da economia. Promoveu investimentos no setor educacional e elevou a qualidade de vida do Zimbábue a níveis anormais para países emergentes. Em 1991, promoveu um programa de austeridade visando absorver os profissionais graduados do seu então brilhante sistema educacional, com o auxílio logístico e financeiro do FMI, o que resultou em uma queda brusca no estilo de vida da maioria pobre. Resultando em uma marginalização crescente da população, o programa foi cancelado pelo FMI. A economia está em grave declínio e a população severamente afetada pelo desemprego, fome e SIDA, e mesmo assim a oposição ao regime de Mugabe dificilmente conseguiu ter apoio político para um governo de coligação.
Surgiram vários casos de violência e de intimidação, perpetuados contras os opositores políticos de Robert Mugabe. O seu governo é considerado um dos mais corruptos de todo o continente africano, sendo suspeito de vários esquemas paralelos de venda de diamantes e outros minerais do país. Governando num regime de caráter autoritário e antidemocrático, Robert Mugabe, um exacerbado nacionalista, é responsabilizado por aprovar polémicas restrições ao direito de voto e uma lei que permite o afastamento dos observadores independentes, além de uma severa perseguição à imprensa interna. Da mesma forma, limita os direitos civis dos cidadãos do seu país.

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2 Comments:

Blogger Fernando S. Marques said...

Este senhor abusa da paciencia da malta. Já era assim no Diário de Notícias. E com a conivensia do sr. Medina as coisas estão cada vez piores. Agora deu-lhe para o Mugabe, amanhã será o Obama, depois o Putine e assim sussessivamente.

Isto é mau, é uma merda!

27 de agosto de 2013 às 00:53  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caríssimo,

Não é a 1ª vez que surge esta confusão:
Os artigos publicados com a minha "conivência" (para usar a sua expressão) são apenas os dos "autores convidados".
Os dos "contribuidores" são-no por direito próprio, e eles escrevem o que querem e lhes apetece.
É este o caso do Antunes Ferreira, que é "contribuidor" deste blogue há muitos anos, onde afixa, em média, 1 crónica por semana.

27 de agosto de 2013 às 09:02  

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