28.5.13

O artista antes conhecido como Sheen

Por Ferreira Fernandes
NO ROMANCE O Vendedor de Passados, José Eduardo Agualusa vai na esteira de uma ideia magnífica: na Angola ambiciosa, um espertalhão vende árvores genealógicas à burguesia nascente. Ser "primo de", isto é, ter um passado chegado ao de poderosos, é meio caminho andado para garantir um futuro. Se um nome não é para nos catapultar, para que serve imprimir cartões de visita? Agora, Charlie Sheen decidiu mudar o nome. No seu último filme, Machete Kills, aparece no elenco como Carlos Estévez. Mas, de facto, o que vai acontecer é, pela primeira vez, ele usar o seu verdadeiro nome: foi o seu pai, o também ator Martin Sheen, que abandonou o nome galego com que fora batizado (Ramón Estévez)... Por Charlie Sheen ter delapidado com escândalos o seu patronímico de duas gerações e por os nomes "latinos" serem hoje mais aceites nos EUA, assistimos a este regresso ao passado, oportunista como deve ser para quem está no mercado da fama. 
Não mereceria menção aqui, se não fosse dar-me mais uma oportunidade de evocar uma das mais belas histórias que conheço do cinema. Karl Malden (1912-2009) nasceu Mladen Sekulovich mas mudou por razões óbvias, para não atrapalhar a carreira. Mas quando se tornou famoso e ganhou um Óscar, nos contratos obrigava a haver alguém no filme com o nome do seu pai, imigrante sérvio em Chicago. Por isso há um "Sekulovich" - em cenas breves mas há - em O Homem de Alcatraz, em Patton, em Há Lodo no Cais...
«DN» de 28 Mai 13

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Crónica de Francisco José Viegas no «Correio da Manhã» acerca de «O vendedor de passados»:
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Há um extraordinário romance de José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados (em adaptação para cinema), em que o personagem principal, Félix Ventura, tem um estranho negócio: reescreve a biografia dos seus clientes consoante as necessidades e as exigências da vida corrente num novo regime político. Em Portugal, a avaliar por episódios recentes, teria alguma procura. Em 1975 essa indústria foi bastante lucrativa e, nos anos 80, teve uma retoma extraordinária. O Expresso, por exemplo, redescobriu alguns textos de Paulo Portas no semanário O Independente, nos quais zurzia em figuras com que agora tem de negociar e de se relacionar. É a vida. Há quem se escandalize e quem esconda o seu próprio passado, ou quem fique apenas desejoso de reconstruí-lo à medida das conveniências. Não é grande solução: o inferno tem uma grande e profundíssima memória. A imprensa está cheia de deslizes.

28 de maio de 2013 às 11:58  

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