16.2.13

Os céus são bazófias comparados connosco

Por Ferreira Fernandes
COMO no álbum A Estrela Misteriosa, de Tintim, ontem um asteroide passou-nos uma tangente e um meteoro caiu algures na Terra. Sem ousar abusar da imaginação, Hergé juntou ambos: o meteoro era um fragmento do asteroide que prosseguira viagem (no fundo, foi um único fenómeno). Mas, no acontecido ontem, a realidade pôde permitir-se uma extraordinária coincidência: de manhã, uma chuva de meteoritos espalhou-se pelos Urais e, à noite, sem ter nada a ver com o fenómeno matinal, o asteroide 2012 DA14 cruzou-se connosco. Foi como se duas estrelas de Hollywood, Clooney e Travolta, sem combinarem, se encontrassem por mero acaso num café em Mogadouro. 
O asteroide de ontem foi o que mais se aproximou da Terra sem com ela chocar. E a chuva de meteoritos foi a que mais feridos causou, mil. Antes dela, só consta um cão morto por um meteorito em 1911, no Egito, e um miúdo ugandês ferido, em 1992. 
Os céus, apesar de ameaçadores, não passam disso. Já os fenómenos cá de baixo têm sido mais eficazes. O álbum A Estrela Misteriosa foi publicado em 1942, na Bélgica, e um seu quadradinho mostra um velho desesperado a bater num gongue: "Vem aí o fim do mundo! Arrependei-vos!" No quadradinho seguinte, o judeu Isaac diz ao judeu Salomão, esfregando as mãos: "Que bom negócio, assim não vou ter de pagar aos fornecedores..." Nesse 1942, em Auschwitz, os chuveiros de gás Zyklon B matavam mais do que até hoje as chuvas de meteoritos. 
«DN» de 16 Fev 13

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Ontem, às vinte horas, assistia eu ao telejornal das vinte horas no canal 1 da RTP. Muito didáctico, o apresentador, um escritor famoso que às vezes empisca o olho, tinha no final um especialista para comentar a acontecimento. Eufórico e enfático, o jornalista, apresentador, escritor, não se cansava de referir o asteroide que fez uma "razia" à Terra. E insistia na razia. E outra vez razia. Assim, tantas vezes, que até interrompia o especialista, o qual, por ser especialista, explicava calmamente e bem o fenómeno. E melhor o explicaria se não fosse interrompido tantas vezes, quase sempre com o conceito de razia.
Razia fez aquele sujeito na minha paciência, que cheguei a gritar um "irra!"
Será que já alguém lhe disse o que significa "razia"?

16 de fevereiro de 2013 às 15:43  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

E o "dizimar", do género:
Fulano "dizimou" o braço do inimigo...?

16 de fevereiro de 2013 às 19:50  

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