29.11.12

A nossa falta de jeito para o crime

Por Ferreira Fernandes
SE BEM percebi, uma inspetora da PJ, tendo programado um crime de morte, deixou o telemóvel em casa, para que as antenas não lhe seguissem o percurso, e do Porto para Coimbra não foi pela A1, para as portagens não a denunciarem. Tudo bem, serviu-se dos saberes profissionais. Depois, meteu 13 balázios na avó do marido com uma 9mm que roubara a uma colega, pistola de calibre das distribuídas aos inspetores da PJ, e deixou no local do crime as cápsulas, de um lote que, seguido, foi dar à PJ-Porto. Para mais, nem arrombou a porta da morta nem a casa ficou desfeita simulando um roubo. 
Enfim, tudo mal, a inspetora apontou para si o crime. 
A confirmar-se tudo isto, atazana-me esta dúvida: o que tramou a inspetora foi ela conhecer truques que um bom polícia conhece ou ela foi traída por mostrar tanta tolice que só podia ser de um polícia português? 
Digo isto porque a tolice à portuguesa começa a ser uma marca do nosso ADN. Por isso saúdo as minhas duas colegas do Público que acabaram o seu texto de ontem sobre o caso da inspetora com uma autoironia soberba. Sobre os repórteres que dão de barato os bitaites de vizinhos de crimes, escrevem elas dessas testemunhas: "Aos jornalistas dizem que se quiserem que passem outra vez à noite, depois dos telejornais. Nessa altura já saberão mais do caso." 
O jornalismo português, sobretudo a reportagem, precisa mais de profissionais assim, que saibam desmontar a realidade do reality show
«DN» de 29 Nov 12

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1 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

Devo dizer que li a notícia e que apreciei sobremaneira o comentário, irónico e certeiro, das jornalistas.

29 de novembro de 2012 às 14:09  

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