30.10.12

Os "rankings" das escolas

Por Maria Filomena Mónica                      

OS JORNAIS publicaram recentemente as listas de rankings, ou seja, a ordenação das escolas segundo as notas obtidas pelos estudantes. À cabeça, surgem as privadas, o que nos pode levar a pensar que os seus docentes são melhores do que os das públicas. Erro: o êxito académico não depende apenas do que se passa dentro das instituições, mas de uma multiplicidade de factores, de que a origem social, associada à localização, é um dos mais importantes. Basta lembrar que, por hora, os filhos dos ricos são expostos a mais 1.500 palavras do que os dos pobres, o que leva a que, aos 4 anos, exista já uma diferença, a favor dos primeiros, de cerca de 32 milhões de palavras.
Uma vez que as públicas têm de cobrir o território nacional, as do interior exibem elevadas taxas de insucesso. A secundária de Portalegre não conseguiu uma única média positiva; na da Guarda, três das cinco melhores escolas não conseguiram atingir os 10 valores; na freguesia de Rabo de Peixe, na ilha de S. Miguel, verificaram-se, no exame do 9.º ano, as piores classificações do país. O Presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares lembrava que, em vez de se concentrarem no lugar nos rankings, os docentes se deviam preocupar antes com «a mais valia» que as escolas traziam aos alunos, após o que, com razão, salientava que nada é uma fatalidade, ou seja, que mesmo os alunos desfavorecidos podiam alcançar bons resultados. Era esse o caso das Escola Básicas de Rio Caldo (Braga), Dr. Manuel Magro Machado (Portalegre) e Couço (Santarém) que, nos exames de Matemática e de Português do 9ª ano tinham subido mais de mil lugares.
Felizmente, as leis sociológicas não são férreas. Não foi em Lisboa que as melhores notas foram obtidas. No universo das públicas, destacaram-se a B+S de Vila Cova (Barcelos), com a média mais alta do país em Matemática A (142,55) e a Secundária da Gadanha da Nazaré, com a mais elevada nota em Geometria Descritiva (178,25). Curiosamente, provando que as pessoas são mais importantes do que os edifícios, o Liceu Passos Manuel cujo restauro, no âmbito da Parque Escolar, exigiu ao Estado 26 milhões de euros, ficou em 481.º lugar, com uma média de 7,8 valores, o que o coloca entre os dez piores. É sabido que o grupo social que mais importância dá à educação é a classe média. Não me espanta assim que a melhor escola secundária de Lisboa tenha sido a José Gomes Ferreira, em Benfica, cujos pais têm uma participação nas reuniões na ordem dos 70 a 80 %.
Portugal teve de fazer um grande esforço depois de 1974. Nem tudo correu bem, mas o país conseguiu escolarizar a maior parte dos jovens, facto que levou a que as escolas sejam hoje muito diferentes das que existiam na minha adolescência, quando, ao terminar a primária, apenas 2 em cada 10 alunos continuava a estudar. Para muitos, a escola contemporânea representa um mundo radicalmente novo. É por isso que o difícil não é ensinar filhos de privilegiados mas sim jovens que, em casa, nunca viram os pais abrir um livro. 
«Expresso» de 27 Out 12

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5 Comments:

Blogger brites said...

a proposito e a despropósito...vem sempre a parque escolar! indigencia de argumentação ou proselitismo dissimulado?

30 de outubro de 2012 às 10:39  
Blogger José Batista said...

Este comentário foi removido pelo autor.

30 de outubro de 2012 às 11:33  
Blogger José Batista said...

Uma boa análise.
De facto, os professores das escolas privadas não são melhores do que os das escolas públicas. Nas escolas privadas que conheço, os seus professores são também professores de escolas públicas. Ou foram, no caso de aposentados da escola pública, de que se fartaram, que continuam a lecionar no privado.
A grande diferença entre umas e outras está na possibilidade de as privadas poderem (ou terem podido, até aqui...) escolher os seus alunos. Conheço escolas privadas onde os maus alunos simplesmente não têm lugar. Agora, com as dificuldades económicas de tantas pessoas, talvez isso mude...
Claro que uma forma de ordenar legitimamente as escolas seria através da "mais valia" que cada uma conseguisse proporcionar aos alunos. E já há uns estudos e umas aplicações sobre isso. Sobram, porém, algumas dúvidas sobre a sua fiabilidade...
Quanto à "parque escolar" não são por demais as referências à sua influência nas escolas: lembro-me de uma responsável da empresa dar uma entrevista ao "Público" a defender a importância da arquitectura na aprendizagem... Um delírio!. Em conformidade com outras medidas como a retirada obrigatória dos estrados (parece que o professor ficava acima dos alunos...), a escolha do mobilário para as salas, o qual impede ou dificulta muito a realização de testes com os alunos separados (sem que cada um veja o teste do colega do lado, ou mesmo dos dos dois lados...), da própria dimensão das salas, em tantos casos diminuída, o que, entre outras dificuldades, acentua o problema referido. Já a diminuição do "pé direito" das salas obrigou a reduzir as janelas, motivo por que agora têm que ser sempre iluminadas com a luz elétrica, etc.
Não digo que foram tudo erros. Mas foram muitos e muito caros. E sobretudo traduzem-se em dificuldades maiores para professores e alunos. Agora há que diga que foi uma festa. Eu diria uma festança. Especialmente para quem ganhou dinheiro, muito dinheiro.

30 de outubro de 2012 às 11:47  
Blogger José Batista said...

Raios, escrevi o texto anterior à pressa e, querendo pré-visualizá-lo, publiquei-o. Eliminei-o de seguida e tentei corrigi-lo, só que mais à pressa ainda. E ficou-me com alguns erros. Mas não vou voltar a eliminá-lo para o re-escrever, porque o fundamental entende-se.
Embora não goste dele como está. Sobretudo por entender que as pessoas deste blogue merecem (o) melhor.

30 de outubro de 2012 às 20:47  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro J. Batista,

Não se preocupe.
A escrita nestes 'media' de publicação instantânea é mesmo assim...

31 de outubro de 2012 às 09:42  

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