19.8.12

A vingança de Francisco Louçã

Por Ferreira Fernandes
AINDA em março o New York Times, para falar delas em título, tinha de fazer sons onomatopaicos: "Russian Riot Grrrrrls Jailed" ("Presas as russas Rrrrraparigas da Revolta"). Vão dizer-me: mas como pode haver pudor em dizer o nome da banda russa, Pussy Riot, quando atrizes respeitáveis interpretam "The Vagina Monologues"?! Acontece, porém, que em inglês "pussy" está para "vagina" - sendo a mesma coisa - como na culinária a sandes de courato está para o tornedó. Por isso, há meia dúzia de meses, os jornais anglófonos escondiam com mil cuidados as Pussy Riot. Mas elas acabaram de saltar para os títulos. Ontem, o NYT já não as negava e o londrino Times tinha uma manchete de fazer corar a rainha Vitória: "Pussy Riot uproar" (O Rebuliço das Pussy Riot). 
Não queiram saber a novidade que isto é para um debate político quase centenário... A seguir à Revolução de Outubro de 1917, os russos estavam divididos entre as teses de Estaline e as de Trotski. Os estalinistas, satisfeitos com o que tinham, a revolução num só país, apesar de a velha Rússia ser atrasada e de camponeses; os trotskistas, convencidos de que o socialismo só podia vingar se fosse exportado para os países industrializados e modernos. Na luta de poder em Moscovo, ganhou Estaline. Ora, o que agora vemos é que três raparigas punk conseguiram o que Trotski falhou. As Pussy Riot, à falta de impor a "riot" (revolta) à Rússia, impuseram a "pussy" aos ingleses e americanos.
DN de 19 Ago 12

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