21.7.12

Uma jornada de rapazes malucos

Por Ferreira Fernandes
ONTEM, pela manhã, vinha uma mulher de cabelos ao vento correndo por uma rua de Gravesend, Inglaterra. Anna Skora, de 23 anos, era de Lublin, no leste da Polónia. Gravesend, que na Guerra dos Cem Anos foi saqueada por uma esquadra castelhana e na II Guerra Mundial bombardeada pela Luftwaffe, ontem era um lugar de amizade entre os povos. A tocha olímpica que Anna segurava celebrava esse conceito bom - e estranho, de tão recente. Foi então que saltou do passeio, cheio de gente a aplaudir, um jovem que gritava: "Alá é grande!" Ele quis agarrar a tocha, mas foi manietado pelos guardas que protegiam Anna e deitado com as trombas para o asfalto. Pouparam-no de ver que a mulher de cabelos ao vento e sorriso descoberto nem se assustou e prosseguiu a corrida, orgulhosa por ter vindo de tão longe e sentir-se entre os seus. 
Horas antes, em Denver, nos Estados Unidos, num cinema que estreava o novo filme de Batman, um rapaz mascarado de Bane, um dos personagens maus, começou a atirar balas reais e a atingir gente real - 12 mortos e mais de 50 feridos. 
A questão é: quem, dos dois rapazes, mais depressa cairá na realidade? O maluco de Denver, dando-se conta de que o seu vilão só devia ser de filme e de banda desenhada? Ou o de Gravesend, convencendo-se de que o seu Alá que nem consegue deter a corrida de uma mulher de cabelos ao vento e sorriso descoberto não é tão grande como isso? 
«DN» de 21 Jul 12

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