26.5.12

Bom dia, Gustavo

Por Antunes Ferreira
 
HÁ TRÊS DIAS, o Gustavo foi finalmente sujeito à transplantação de medula que lhe deve salvar a vida. O Gustavo é um menino de entre os muitos que sofrem de uma doença chamada aplasia medular. Porém, tornou-se o mais conhecido depois de Cristiano Ronaldo ter lançado um apelo para ser encontrado um dador para o filho do seu companheiro na seleção nacional de futebol, Carlos Martins.

A operação de transplante correu dentro do normal de acordo com a equipa médica o que foi excelente, como é óbvio. A saga do pequeno Gustavo transformou-se num enorme movimento de solidariedade com milhares e milhares e milhares de potenciais dadores a inscrever-se. A grande questão era a compatibilidade entre o dador e o doente. Enfim dos Estados Unidos surgiu um nome que correspondia à necessidade. E as coisas parece terem corrido bem. Agora, dentro de um mês poderá dizer-se que sim.

Este texto não devia ser assinado por mim, pois é apenas a introdução de uma carta maravilhosa enviada ao menino pelo Casal das Letras, blogue excelente da autoria da Maria Augusta Silva e do Pedro Foyos, grandes jornalistas, que comigo trabalharam – e muito bem - no DN. A nossa amizade já vem de muito mais longe e tenho acompanhado a luta da Maria Augusta contra um cancro, o seu cancro, desde Luanda e antes do 25 de Abril.

Sem lhes pedir autorização, falta que, estou certo, o casal me perdoará, aqui fica o registo desse texto impressionante e excecional. Que, como disse, saiu no www.casaldasletras.com.

Nos últimos tempos, Gustavo, muito se tem falado de ti, não só pela demora desesperante de oito meses para encontrar um dador de medula mas também e sobretudo pela notoriedade futebolística do teu pai, propiciadora de uma impressionante onda de solidariedade. Finalmente, Gustavo, vai ser possível realizar o transplante alogénico que debelará a tua aplasia medular. Desculpa empregar estas palavras complicadas, mas as doenças terríveis escondem-se sempre nestes emaranhados para aliviarem o peso da realidade.

De momento, Gustavo, agora que tudo foi feito no sentido de o teu organismo não vir a rejeitar as novas células que vai receber, é importantíssimo que saibas o seguinte: estará sempre a acompanhar-te uma equipa fabulosa, tanto que, se fosse possível transpô-la para o campo futebolístico, nem o teu pai conseguiria evitar uma derrota por dez a zero!

O velho capitão dessa equipa invencível chama-se Manuel Abecassis. Já o deves ter visto aí no IPO. É aquele senhor de cabelo branco com laivos de prata e olhos doces que de vez em quando te espreita e te sorri enquanto vai conversando rodeado dos restantes jogadores: conversas sobre táticas de ataque, fintas, coisas assim, bem conheces a toada.

Sabes que ele foi o pioneiro em Portugal neste género de desafios? Pioneiro quer dizer: foi o primeiro a driblar em toda a linha um adversário de respeito no campo em que tu estás agora, precisamente aí. Esse adversário, com o feiíssimo nome de Leucemia, levou cá uma cabazada! O costume, dez a zero, toma lá e vai decorar. Porém, a grande vencedora, quem levou a Taça da Vida, maior do que ela própria, foi uma menina da tua idade, chamada Inês. Ela estava muito doente, a vida por um fio. A estratégia de então foi engraçada. Havia hipóteses de ser salva se tivesse um irmão ou uma irmã. Mas a Inês não tinha irmão nem irmã. Então os pais, com muito amor, resolveram fazer um bebé, ao qual seria dado o nome de João Miguel. E o João não esteve com meias medidas. Logo-logo que nasceu, a primeira coisa que fez foi salvar a Inês. Um dia terás interesse em conhecer "A história de Inês". Ficarás espantado com as coisas extraordinárias que acontecem neste mundo. A começar por ti.
Gustavo: vemo-nos no final do dérbi, na festa da vitória. 

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1 Comments:

Blogger Maria said...

AF
Tenho a certeza, que o Gustavo vai vencer. Ele tem cara de lutador.
Faço um apelo; Quem puder doar sangue ou medula, faça-o.
Infelizmente, devido à idade e problemas de saúde, já não posso fazê-lo.
Durante anos, dei sangue. A paz e tranquilidade, que sentia depois, não sei descrever. Um pouquinho de sangue ou medula, que não nos faz mal nenhum, pode salvar uma vida.
Senti-me sempre muito feliz, depois de dar sangue. Não custa nada e pode salvar uma vida.
Força Gustavo, Inês e todos os meninos ou crescidos, que precisem. Ainda há pessoas com sentimentos.
Como a Inês, deve amar o irmãozinho.
Maria

26 de maio de 2012 às 20:35  

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