27.4.12

Cravos

Por João Paulo Guerra
HÁ 38 anos, o 25 de Abril foi o dia das surpresas, como tal profetizado num poema de José Saramago musicado e cantado por Manuel Freire. E foi assim que, de então para cá, de surpresa em surpresa, os portugueses se terão surpreendido agora ao verem os ministros do actual Governo, de cravo vermelho ao peito, na enfadonha sessão do Parlamento no dia 25.
Observando aquela cariofilácea bancada governamental, os portugueses terão concluído que os cravos, como a democracia, andam com más companhias por muito duvidosas lapelas. Um cravo pelos cortes e congelamentos de salários? Outro cravo pelos cortes dos subsídios de Natal e de férias? Mais um cravo pelos cortes nas reformas? E outro cravo ainda pelo corte de outros subsídios sociais, como seja o abono de família? Um ramo de cravos pela facilidade nos despedimentos, pelo desemprego, pelo corte nos subsídios de desemprego? Cravos e mais cravos pela liquidação do SNS e pela ruína da Segurança Social? Cravos pelo aumento sem travão dos impostos? E ainda uma plantação de cravos pela hipoteca da independência nacional e da soberania do povo?
Nada disso, a menos que à socapa o Fisco tenha penhorado o cravo, ou que os cravos em exibição em São Bento sejam do jardim de frau Angela Merkel ou do horto privativo de Nicholas Sarkozy, ou ainda de importação dos países que já mandam mais em Portugal que as instituições e os cidadãos portugueses. Mas o mais provável é que haja aqui um pequeno equívoco semântico ou um pequeno lapso ortográfico.
Porque em verdade este não é um Governo de cravos mas uma companhia de cravas, tantas e tais são as maneiras e vias que o Executivo descobriu e aplicou para ir aos bolsos dos cidadãos.
«DE» de 27 Abr 12

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