21.2.12

A verdade, esse problema

Por Manuel António Pina

O NÚMERO de vezes que Passos Coelho garantiu que "este Governo não pedirá mais tempo nem mais dinheiro" à UE e FMI só deve ser comparável ao número de vezes que, durante a campanha eleitoral, garantiu que, com o PSD no Governo, não haveria aumentos de impostos. Só que se soube que, enquanto Passos Coelho garantia isso, o seu Governo ia desenvolvendo contactos para... pedir mais tempo e mais dinheiro.

O empobrecimento do país que o actual primeiro-ministro se propõe (ele próprio o confessou, num dia em que, como o outro, se achou mais pachorrento) tem sido marcado por tantos e tão lamentáveis episódios que a conversa de Vítor Gaspar com o ministro alemão das Finanças sobre a renegociação do programa da "troika", gravada pela TVI, suscitou só uma polémica mansa, logo esquecida mal surgiu a polémica seguinte.

Passos Coelho nem sequer é original; a mentira tornou-se coisa "normal" na prática política. A sua única originalidade é talvez o facto de ter sido eleito acusando o anterior primeiro-ministro de mentir.

A UE, porém, leva as aparências a sério. Assim, decidiu suspender por um mês o jornalista da TVI que apanhou Gaspar a dizer em voz baixa o contrário do que diz em voz alta. E na reunião de ontem do Eurogrupo já pôs em vigor novas regras limitativas do trabalho dos jornalistas. Era o que faltava, que os media revelassem verdades, em vez de serem câmaras de eco acríticas das declarações oficiais.
«JN» de 21 Fev 12

Etiquetas:

3 Comments:

Blogger José Batista said...

E se alguma vez, algum dia, por hipótese (remota) nos falar(em) verdade, não conseguimos acreditar.

No estado em que estamos, queremos (e precisamos?) que nos mintam completamente. Tão completamente que toda a mentira nos pareça verdade e toda a verdade nos pareça mentira.

Quem achar que minto, engana-se.
E quem disser que (me) engano, mente.

Páro por aqui. Não vá acabar (primeiro?) ministro.

21 de fevereiro de 2012 às 15:24  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Na semana passada, Marcelo R. Sousa, questionado acerca disso, respondeu que o facto de o ministro dizer em Portugal uma coisa (a falsa) e no estrangeiro a oposta (a verdadeira) está correctíssimo, e é mesmo assim que deve ser...

Costuma dizer-se que, «na guerra, a primeira vítima é a verdade». Não admira, pois, que na guerra da política suceda o mesmo.
Mas a malta parece que gosta...

21 de fevereiro de 2012 às 16:22  
Blogger José Batista said...

E Marcelo Rebelo de Sousa sabe do que fala.
Ele mesmo parece-me agora envolvido numa guerra. Uma guerra que vem longe mas que (me) parece que já o faz mexer. Digo isto pelo ataque que desferiu a Durão Barroso, o qual, na sua ótica, vai afinando as baterias para se candidatar à presidência da república (escrevo com minúscula de propósito). Esqueceu-se, porém, de reconhecer que o mesmo pode ser dito dele...
Como se pode dizer de outros. É o que eu digo de António Barreto, por exemplo, sempre que ele se aplica naqueles (imensos) discursos pedagógicos institucionais.
E mais afirmo que, a cada um deles, preferia na sucessão a Cavaco Silva uma cadeira vazia. Para se não notar muito a mudança...
E até nem me fazia diferença nenhuma que se extinguisse cargo e função, uma vez que não estão a servir para nada. Poupava-se algum em salário e outras despesas e evitava-se a humilhação e a frustração.
Já outro galo cantaria se alguém insistisse com Manuel Carvalho da Silva para se candidatar. Não sei se ele poderia fazer alguma coisa por nós. Mas sempre era um "desfastio"...
Bem sei que estar a falar disto a esta "distância" é escandaloso. Mas maior escândalo é a desgraça em que nos colocaram, com a nossa (diligente) colaboração.
E é atrevimento inqualificável ser eu a fazer afirmações destas, aqui ou em qualquer lugar.
O que não me faz mossa, digo.
A si peço paciência, meu caro Carlos Medina Ribeiro, por este manifesto de ingenuidade(s).

21 de fevereiro de 2012 às 19:36  

Enviar um comentário

<< Home