18.2.12

Uma Gralha na Varanda - Sinfonia de buzinas


Por Antunes Ferreira

NA ÍNDIA, todos os veículos motorizados, incluindo os tractores, podem prescindir de diversos componentes que, para um ocidental são considerados incontornáveis: espelho retrovisor, pisca-pisca, isqueiro, rádio e sei lá mais quais. Há um, porém que é imprescindível: a buzina. Isso mesmo, a buzina. E… Goa é Índia. Por isso ela não poderia aqui faltar; ela, obviamente, a buzina. Que é, igualmente, atributo imprescindível nas bicicletas. Nas vacas sagradas não é.

Há-as de todas as qualidades, feitios e, sobretudo, decibéis. Nas estradas e nas cidades, vilas, aldeias, freguesias, ruas, largos, vielas, becos, travessas e similares são as notas de uma sinfonia rodoviária realmente extraordinária. Há, como em toda a parte, os mais prevenidos: carrinhas, camiões e afins, solicitam nas respectivas traseiras, HORN PLEASE. E o pessoal corresponde, cumpridor e honesto.

Buzinar é, assim, uma prática saudável, sentida e entusiástica. Permanente, pois até de noite ela acontece. Mais vale prevenir do que remediar. Se o cavalheiro do lado apita, por que bulas há-de o concidadão não buzinar? De resto, o trânsito indescritível justifica perfeitamente esta orquestra ciclópica e desafinada. Pelo sim, pelo não o cláxon é instrumento, simultaneamente de alerta, de aviso, de defesa; de ataque, por vezes, também. E não há solistas, cada um toca o que sabe.

Se algum dia alguém, paternalmente, me aconselhasse a conduzir por estas bandas - não podendo responder menos educadamente, a gente tão amável de cá não o mereceria -, em vez de a mandar para qualquer local ou atributo conhecidos e pouco recomendáveis, teria duas alternativas: a fuga ou o suicídio. Já viram um formigueiro em que se tivesse eliminado a rainha? Imagina-se a desordem nas filas (indianas?) dos insectos trabalhadores. É apenas uma modesta comparação com a forma de circular aqui. Quanto maior a confusão – melhor.

E o que é mais espantoso é que se registam poucos acidentes. Aliás, quando acontecem, normalmente saldam-se por umas quantas vítimas mortais. Ou seja, quando se bate, bate-se. De resto, é o desvario. As ultrapassagens são, muitas vezes, no mínimo, emocionantes. Deveria, quiçá, escrever aterrorizantes. Mas isso foi ao princípio, em 1981, quando aqui vim pela primeira vez. Agora, sentado calma e sossegadamente ao lado do condutor, acho-as normalíssimas.

Cruzamentos, rotundas, são emaranhados mais… emaranhados do que teias de aranhas múltiplas e sobrepostas. E, curiosamente, enquanto se esgueiram motos, scooters, bicicletas, motorizadas e riquexós por entre os 12,7 centímetros que separam as restantes viaturas, ninguém insulta ninguém: buzinam, com alma e denodo. Igualmente interessante, motivo para study case que se preze, são as filas de veículos. Ziguezagueantes. E, no que toca a traços contínuos ou passadeiras, louve-se quem os pintou para serem tranquilamente ignorados.
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NOTA (CMR): juntei o vídeo que em cima se vê, onde constam algumas impressionantes passagens a ferro...

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1 Comments:

Blogger Maria said...

A.F,
Tentei várias vezes contar os acidentes mas, não consegui.
Tem cuidadinho na rua. Mesmo habituado ao nosso caótico trânsito, aì é muito pior.
Maria

19 de fevereiro de 2012 às 16:52  

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