17.2.12

Gerir expectativas

Por Manuel António Pina

APESAR dos esforços do Governo na luta contra o desemprego (basta consultar o "Diário da República" e ver as nomeações feitas todos os dias), o INE anunciou ontem que os portugueses desempregados são já 771 mil. E o ministro Relvas diz-se (que outra coisa haveria de dizer?) "preocupado".

Mas Relvas ocupa no Governo a perplexa pasta do Optimismo, também dita da Propaganda e, não podendo deixar de mostrar-se pesaroso, nem podendo (pelo menos em público) dirigir cumplicemente uma piscadela de olho liberal à Sra. Merkel exibindo esse número como prova de que, quando o Governo diz que vai "além da troika", vai mesmo, apressa-se a tranquilizar o povo: o Governo está a "fazer o caminho certo".

"O caminho certo" é uma expressão ambiguamente feliz. Com ela, Relvas realiza o milagre retórico de, ao mesmo temo, falar verdade e mentir.

Fala verdade àquele patronato que alimenta justificadas expectativas de que o "caminho certo" do Governo, embaratecendo e facilitando os despedimentos, lhe oferecerá um exército, cada vez mais numeroso, de mão-de-obra dócil e disposta a trabalhar por uma malga de arroz; e mente aos 771 mil desempregados, mantendo-os expectantes de que tal "caminho certo" os conduzirá, num futuro radioso por vir e apesar da galopante recessão para que o INE igualmente aponta, a um posto de trabalho (quem sabe se num dos aparentemente inesgotáveis lugares de assessor do gabinete do próprio Relvas?).
«JN» de 17 Fev 12

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