20.2.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima

ANTÓNIO José Seguro resolveu fazer um caso da conversa informal mantida entre o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e o seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, no início da reunião do Eurogrupo.

«Depois de tomadas decisões substanciais na Grécia – e isso é crucial – se houver necessidade de um ajustamento no programa de Portugal, nós estaremos preparados para fazê-lo», confidenciou Schäuble. «Ficamos muito agradecidos», retorquiu cortesmente Gaspar. O líder do PS viu nesta ocasional troca de amabilidades uma tenebrosa maquinação política, «uma espécie de situação indescritível» em que o ministro português esteve «às escondidas a conversar com o Governo alemão». Às escondidas?!... Situação indescritível?!... António José Seguro já não mede bem o que diz, no seu afã de mostrar que faz oposição e de se libertar do colete-de-forças do memorando da troika, solicitado e assinado pelo PS. Depois de se ocupar com temas tão estruturais para o país como o acordo ortográfico no CCB ou as demissões na RDP, no debate com o primeiro-ministro, transforma uma troca de cumprimentos de circunstância numa conspiração de lesa-pátria.

MAS este episódio revela que Seguro, com a sua enorme candura política, não percebeu duas evidências. Primeira, que nenhum Governo é levado a sério ou respeitado se começar a pedir a flexibilização, o alargamento de prazos ou a revisão das condições do programa de ajustamento a que se comprometeu, antes mesmo de demonstrar que é capaz de o cumprir. Segunda, que a disponibilidade e abertura transmitidas informalmente pelo ministro alemão, ao invés de comprometerem a posição de Vítor Gaspar e do Governo português, são uma boa notícia para o país. Por todas as razões: porque comprovam que o caso português é visto como distinto do caso grego, porque revelam confiança dos responsáveis europeus na execução do programa que está a ser feita em Portugal, e porque evidenciam compreensão e espírito de entreajuda por iniciativa própria e não a pedido.

Seguro bem pode continuar a ver fantasmas e conspirações nos acontecimentos mais corriqueiros. O facto é que as palavras de simpatia de Schäuble estão a fazer o seu curso e já foram secundadas por outros dirigentes europeus. E o ministro Vítor Gaspar bem pode estar agradecido à indiscrição das câmaras da TVI. O efeito que tiveram não podia ser melhor.
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«SOL» de 17 Fev 12

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