31.8.11

Lisboa - Largo de Martim Moniz
.
Alguém bem intencionado tentou dar alguma beleza a um incaracterístico vidrão, decorando-o. Mesmo sem ter feito mais nada, deu razão ao aforismo «dar pérolas a porcos».

Irresponsáveis e perigosos

Por Rui Tavares

QUEM ESPIA um jornalista, também escuta um político, chantageia um empresário ou viola os direitos de qualquer cidadão.

Parece que o governo anda à procura de serviços do Estado para extinguir. Sugiro então que façamos uma experiência.

Imagine-se um serviço do Estado do qual os cidadãos não sabem o que faz — ou, quando sabem, é porque há notícias de que faz coisas ilegais. Imagine-se um serviço do Estado que só pode ser controlado quando é para dizer que está tudo bem. Mas que, quando não está tudo bem, representa um perigo para o próprio estado de direito.

Então, que vos parece? Um candidato à extinção imediata? Bem, a verdade é que esse serviço existe. Até são dois: o SIS e o SIED.

Ah, diz o governo, mas esses serviços são muito importantes! São as “secretas”, uma interna e outra externa. O estado — que pode prescindir do serviço público de televisão, de uma transportadora aérea, de um ministério da cultura, da água pública e de mais uma montanha de coisas — não pode prescindir de ter duas “secretas”.

Isto agora não é preciso imaginar; aconteceu: um dirigente máximo do SIED enviava informação privilegiada a empresas privadas a partir do seu email doméstico, demitiu-se nas vésperas de um evento em que estava em causa o interesse nacional, e foi contratado por uma das empresas a que enviava informação. Foi noticiado que este senhor pertence a uma loja maçónica importante para algumas pessoas do PSD, da qual se diz que nutre rivalidades com outras lojas maçónicas onde há gente do PS. O Expresso garante que ele mandou investigar as comunicações telefónicas de um jornalista do Público — o que é duplamente ilegal, pois além de uma invasão de privacidade, é espionagem interna, vedada ao SIED.

No meio de tudo isto, o primeiro-ministro tem na mão um relatório sobre o SIED que não envia ao Parlamento porque, segundo diz, este revela nomes de espiões e métodos de investigação. Estamos portanto a brincar com coisas sérias. Os nomes de espiões rasuram-se, como é evidente, antes de enviar os documentos. Quanto ao resto do conteúdo, em que deputados não confia o primeiro-ministro? Nos da oposição — ou nos da maioria?

Será preciso explicar ao governo que é ele que depende do Parlamento e não o contrário?

Os serviços secretos têm tido uma vida privilegiada, em Portugal e no resto do mundo. Numa década em que os estados cortaram em tudo, de hospitais a universidades e infantários, eles cresceram até serem maiores do que em qualquer momento da história, mesmo quando havia guerra fria ou duas guerras mundiais.

Quanto menos controlados são estes serviços, mais susceptíveis de abuso se tornam. Quanto mais irresponsáveis, mais perigosos. Quem espia um jornalista, também escuta um político, chantageia um empresário ou viola os direitos de qualquer cidadão. Um cartão das “secretas” e o “segredo de estado” é quanto basta para que um técnico de uma operadora telefónica se vergue primeiro e negue depois.

No Leste da Europa o panorama é preocupante: nas secretas dispõem-se camadas sucessivas de espiões oriundos de governos opostos. Os ministros do interior vivem fascinados por estes serviços como rapazinhos por jogos eletrónicos. As notícias de abusos são constantes, mas só se conhecem através de vinganças internas, pois o controlo parlamentar é nulo.

Estaremos longe disto em Portugal? Não quero mandar palpites. Quero saber. O parlamento tem todas as condições — sessões à porta fechada, responsabilização dos deputados — para descobrir e, sobretudo, para evitar que cheguemos lá. Ou se limpam e arrumam as “secretas”, com garantias para o estado de direito, ou é melhor acabar com elas.

Uma última nota, muito a propósito: o governo quer agora enviar à Assembleia da República um acordo de transferência de dados pessoais de cidadãos portugueses para os EUA, à revelia do parecer da Comissão Nacional de Proteção de Dados. Relembro que já há vários meses os meus colegas Ana Gomes, do PS, Carlos Coelho, do PSD, e eu mesmo, alertámos para várias questões de conteúdo e oportunidade deste acordo, no quadro das negociações UE-EUA para proteção de dados, e nos pusémos à disposição do parlamento para quaisquer esclarecimentos nestas matérias.
In RuiTavares.Net / 30 de Agosto de 2011

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Lisboa - mupi na Av. da Igreja
Está visto que, em relação à aplicação do Acordo Ortográfico (pelo menos no Minipreço...), bem podemos estar "péssimistas"...

A democracia sob escuta

Por Baptista-Bastos

AO QUE PARECE andam por aí a escutar-nos. E, anteontem, o DN publicou as inquietações de algumas pessoas, umas conhecidas, outras nem assim, sobre tão respeitável problema. Creio que todos nós, de um modo ou de outro, escutámos um clique suspeito no nosso telefone. Houve quem vociferasse impropérios e obscenidades, e quem se resignasse com a displicência aprendida no conceito segundo o qual não há nada a fazer. Nos dois casos, o Governo era sempre desconfiável. A PIDE varejava-nos com eficácia e tenacidade. Mas o País estava moralmente enfermo. Sabe-se que cerca de quatro milhões de portugueses estavam com ficha na polícia política; e, segundo fontes fidedignas, mais de quatro mil portugueses eram informadores.

Pasma-se como isto foi possível. Mas foi. E o clique telefónico que, ocasionalmente, continua a ouvir-se resulta desses comportamentos, afinal estruturados, que permitem todas as nossas desconfiadas conjecturas.

É muito difícil construir-se a democracia sem serviço de informações. Como é difícil aceitar esse serviço de ânimo leve, sobretudo os que, como nós, portugueses, fomos marcados por três séculos de Inquisição, pelos "moscas" do Pina Manique e pela polícia política de Salazar. Adicione-se o facto de possuirmos características de coscuvilheiros e de a inveja fazer parte da nossa condição. O medo e a desconfiança coabitam connosco. Fome, miséria, desemprego, velhice sem segurança, juventude privada de futuro, eis o que nos deixa sem salvação social, cívica e moral.

Haverá falta de legitimidade quando nos escutam? Dizem que não, e que as leis nos protegem. Mas tudo isto apresenta-se, agora, com traços fraudulentos. E as notícias recentes, se exprimem um certo culto da subjectividade, não deixam de constituir aquilo que Jean-Pierre Le Goff chamou a "barbárie melíflua" (La Democratie post-totalitaire). O poder, em Portugal, sempre foi paternalista, e encarrega-se, ele próprio, de assegurar o que devemos ser e velar sobre como devemos estar. Quando Passos Coelho declara que não vai enviar ao Parlamento o resultado do inquérito às fugas de informação e às escutas, sob o pretexto do "segredo de Estado", a figura do poder e o desprezo pela democracia revelam-se sem dissimulação.

A criação de uma democracia fictícia encontra-se no vocabulário e na construção do discurso governamental. Não só neste: em todos. E as noções empregues definem-se pela ambiguidade. Há dias, na SIC Notícias, Ângelo Correia esclareceu, com ironia, que, quando os inquéritos são longos e rigorosos, prolongam-se sem conclusões, e quando são rápidos e lestos não chegam a conclusões nenhumas. Não há melhor explicação do real circundante. O pior é que está a solidificar-se a cultura da indiferença, filha da ideologia da negligência.
«DN» de 31 Ago 11

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É SEMPRE bom quando um determinado objecto pode ter mais do que uma utilização. Há casos pouco nobres (como o do livro que também é usado para calçar uma cama empenada), mas há outros bem curiais - como estas sacas amarelas, concebidas para guardar ou transportar materiais (mais comummente, pedras de calçada). Na imagem de baixo vê-se como servem para colocar lixo doméstico.

30.8.11

Por favor, não mastiguem pneus

Por Ferreira Fernandes

VOU DIZER o que quis dizer o jornal El Mundo, ontem, quando escreveu: "(...) este joven que cumplió 32 años en cautividade."
O jornal espanhol falava de Matthew VanDyke, documentalista americano que foi preso na Líbia em Março passado e foi libertado agora. Como se vê nas duas fotos publicadas, a de agora e a de antes de ser preso, VanDyke continua jovem, apesar de mais magro. Logo, o que El Mundo diz não é que o jovem "(...) cumpriu 32 anos de prisão". Mas, isso sim, que ele "(...) passou o seu 32.º aniversário quando estava preso." OK?
Por favor, jornalistas portugueses, ao traduzir não patinem. Pelo menos, não tanto quanto alguns têm indecentemente patinado com o que os serviços secretos fizeram ao jornalista Nuno Simas. Não, que se saiba, as secretas não escutaram o jornalista. Fizeram outra coisa, também ela ilegal, que foi obter a lista dos telefonemas que ele fez e recebeu. Esse facto é suficientemente grave para ser investigado por jornalistas e denunciado - e não substituído, como acabou por acontecer, por um não facto (escutas)! Uma coisa são listas, com números e nomes, outra coisa são palavras ouvidas entre dois interlocutores. É verdade que ambas estão relacionadas com telefones, mas isso não as faz iguais.
As câmaras de ar e os donuts são redondos e têm, ambos, um buraco no meio e no entanto os jornalistas, mesmo os mais estúpidos, não os confundem. Então, que façam esse exercício também com as notícias. Obrigado.
«DN« de 30 Ago 11

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29.8.11

Soldadinhos de uma guerra perdida

ULTIMAMENTE, tenho visto, com mais frequência, estes simpáticos carrinhos "grão de bico", cuja função, como se sabe, é desimpedir as paragens da Carris e as faixas BUS.

Em tempos, li que havia apenas 3 unidades para fiscalizar os 600 ou 700 km de linhas da empresa. Não sei se os números ainda serão esses; sei apenas que a eficácia deste carrinho, que aqui se vê na mesma zona e em dias diferentes, é (passe o eufemismo...) "variável"...

Gatunos dão gasolina à crise

Por Ferreira Fernandes

SEGUNDO dizem os telejornais, já há mais uma consequência da crise: aumentam os condutores que atestam o depósito nas bombas de gasolina e fogem sem pagar. A culpada, portanto, é a crise. É? Eu tinha ideia que 130 condutores, por dia (números da Associação Nacional de Revendedores de Combustível, ANAREC), abastecerem e fugirem sem pagar tinha por culpados 130 gatunos. Mas, não, é a crise.
É pena a ANARES não ter números, para saber se ela também ilustra a crise. Gente que vai às marisqueiras, come e foge sem pagar também deve haver - infelizmente, a Associação Nacional de Revendedores de Santolas deve ser avessa a estatísticas e não temos mais esses números para os telejornais.
Voltando às octanas: os portugueses com vergonha na cara que, por não terem dinheiro para o combustível, deixam o carro estacionado à porta de casa, ou até o vendem, e se põem a andar de autocarro e metro, devem ser multados por enganar o país? Como não roubam as bombas de gasolina, impedem os telejornais de mostrar mais um indício da crise... Ou, extremando a lógica parva com que nos noticiam as coisas, em caso de crise tão crise em que ninguém mais pudesse ter automóvel - e, logo, deixasse de haver 130 portugueses, por dia, a fugir nos postos de gasolina - seria natural decretar-se o fim da crise. Ou não?
Esta foi a minha crónica subordinada ao tema "a crise dá para tudo: de sociologia barata nos noticiários a álibi para gatunos."

«DN» de 29 Set 11

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NUMA altura em que tanto se discute se esta ou aquela entidade vigiam este ou aquele cidadão, vale a pena fazer a seguinte experiência a partir da foto que aqui se vê, e que mostra uma multidão de tamanho muito razoável:

Clicar [AQUI] (para abrir a imagem), apontar o rato para uma zona qualquer, e clicar sucessivamente. (Em alternativa, pode movimentar-se o cursor que surge do lado esquerdo, em cima).

O resultado talvez espante. E mais ainda quando se sabe o que pode ser feito a partir das imagens finais. Neste aspecto, o essencial já era descrito, em 1992, por Michael Crichton no seu livro Sol Nascente - não como ficção futurista, mas sim como uma tecnologia que os japoneses já nessa altura dominavam.

O que eles fizeram pelas Ciências da Terra (9)

George-Louis Leclerc
(Conde de Buffon)
(1707-1788)
Por A. M. Galopim de Carvalho

MAIS CONHECIDO por conde de Buffon, foi um naturalista, matemático e escritor francês. As suas teorias influenciaram duas gerações de naturalistas, entre os quais se contam Jean-Baptiste de Lamarck (1744 - 1829) e Charles Darwin (1809 - 1882). Como matemático, correspondeu-se com o homólogo suíço Gabriel Cramer. Inspirado em Gottfried Wilhelm Leibnitz e em Johann Gottlieb Lehmann, Buffon foi o centro de todo o pensamento na história natural da segunda metade do século XVIII.
Frequentou o Colégio dos Jesuítas a partir da idade de dez anos e, em seguida, a Universidade de Angers. (...)

Texto integral [aqui]

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28.8.11

Sonhadores e engenheiros

Por Ferreira Fernandes

A SAMSUNG e a Apple lutam em tribunal. A americana acusa o Samsung Galaxy Tab de ser cópia do desenho do iPad. Em sua defesa, a sul-coreana passou uma cena do filme 2001: Odisseia do Espaço, de Stanley Kubrick, filmado em 1968 (na pré-História dos computadores). Dois actores manipulam tablets rectangulares, com ecrãs até aos bordos, cantos arredondados e superfície plana e negra - tal como o iPad e o Galaxy Tab...
O tribunal vai decidir entre a Samsung e a Apple, não prognostico a sentença. Mas anoto que o tribunal não tenha em conta uma outra solução: porque é que ambas, Samsung e Apple, não pagam a quem, mesmo sem saber como pôr em prática, soube sonhar antes das empresas? Isto é, ao visionário Stanley Kubrick?
As invenções precisam tanto de sonhadores como de cientistas. Todas as questões básicas da bicicleta - a roda, a transmissão por pedais, a manilha para controlar a direcção, o selim... - eram conhecidas séculos antes, mas ela só foi inventada no começo do séc. XIX, fazendo-a contemporânea do automóvel a vapor, bem mais complicado. Até no romance Um Americano na Corte do Rei Artur, o grande Mark Twain pôs cavaleiros medievais a andar de bicicleta, para sublinhar esse estranho atraso de invenção...
Mais inteligente do que o debate jurídico entre a Apple e a Samsung, foi a Intel, empresa de processadores, que contratou quatro escritores de ficção científica para espevitar os seus engenheiros.

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Imposto sobre heranças

HÁ ALGUNS anos, quando o meu pai faleceu, foi necessário fazer partilhas. Os herdeiros eram vários e, no meio dos bens, o único com valor significativo era um terreno, que foi vendido, e cujo dinheiro foi repartido nas proporções legais - dinheiro esse que tivemos de declarar no IRS (em Anexo próprio).

Como não foi há tanto tempo como isso, não percebo a celeuma que por aí vai acerca do facto de as heranças passarem a pagar (?) imposto. Eu paguei, e pareceu-me lógico.

Luz - Berlim, 2010

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem, para a ampliar
Muito perto da antiga porta de Brandenburgo, ao lado do Reichstag (Parlamento) renovado e das sedes de alguns departamentos do governo, há uns grandes passeios à beira rio e locais para repousar ou bronzear.

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27.8.11

Com a bênção de S. Firmino

Por Alice Vieira

JÁ NÃO
estava com paciência para aquelas coisas
.
Mas a filha tanto insistira (“ó mãe, até um cego consegue ver que o Firmino está mesmo caidinho por ti!”) que ela acabara por ceder.
A princípio concordou em convidá-lo para um café, coisa normal entre vizinhos, mais do que isso estava fora de causa.
A filha franziu o sobrolho.
“Um café? Que graça é que isso tem? Não, senhora, vais convidá-lo para um jantar aqui em tua casa. Não és tu que, por tudo e por nada, fazes jantarinhos cá em casa? Ou e porque o Benfica ganha, ou e porque o Benfica perde… Não me digas que não consegues encontrar agora um motivo para o convidares… Dizes que é para festejar, sei lá, a lua cheia, o equinócio, uma coisa qualquer que te passe pela cabeça…" (...)

Texto integral [aqui]

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Ah, assim está melhor!

O TOCO de árvore que há muito ornamenta o passeio do lado poente do Rossio, em Lisboa (imagem de cima), até nem ficava mal, pois era uma espécie de contraponto ao monumento a D. Pedro IV. Mas há que reconhecer que a existência de um outro, do lado nascente da praça (foto de baixo), permite um equilíbrio urbanístico ainda melhor!

Bem-haja, pois, quem assim zela pela harmonia de tão nobre zona da cidade!

Que Mundo é este?

Por Antunes Ferreira

QUE RAIO de Mundo é este que os homens vêm destruindo desde que baixaram das árvores? Que raio de Mundo é este em que o progresso da chamada Sociedade cada vez mais significa retrocesso da alegada Humanidade? Que raio de Mundo é este em que, quotidianamente se repete Maquiavel, ou seja, os fins justificam os meios?
Muitos dirão que este questionário peca pelo exagero, o que tenho de aceitar, pelo pessimismo, o que também tenho de aceitar, pelo desengano e desespero, que de igual modo sou constrangido a aceitar. Mas, deixem-me que enumere uns quantos acontecimentos de ontem, de anteontem, de transantontem, que me levam a estas conclusões bastante fundamentalistas.
Ontem mesmo um gang armado assaltou um casino em Monterrey, no México. Um mais, dir-se-á. A violência que campeia pelo orbe terráqueo pelo que se vê não tem limites, mas este caso é um sinónimo de horror levado ao extremo. Os criminosos deitaram fogo ao salão de jogos onde se encontravam mais de 150 pessoas, seres humanos como eles e causaram mais de meia centena de mortos.
Ontem ainda, George Bush II, o ex-Presidente dos Estados Unidos da América, em entrevista que não tivera qualquer estratégia perante o inconcebível ataque da Al-Qaeda no dia 11 de Setembro cujo décimo aniversário vai decorrer daqui a dias. Tanto quanto se sabe, pelo menos quando escrevo estas linhas, a desastrosa intervenção militar no Iraque, pela alegada existência das armas de destruição total, não teve o mesmo tratamento durante a conversa que durou oito horas.
Ontem, também, um pai pegou num filho de seis anos e atirou-se para baixo de um comboio; ambos foram trucidados, obviamente, e um jornal da nossa praça, mais precisamente o Correio da Manhã, que deu a público a notícia interrogando-se o que terá motivado a horrível atitude, quais os motivos psicológicos que estiveram na base dela.
Ontem em Tripoli ceifaram-se vidas na busca desenfreada do ditador Muammar Khadafi que ainda não tinha sido capturado, porque não tinha, naturalmente, sido encontrado. O olho por olho, dente por dente continuava o seu caminho desnaturado, sem que se constatasse qualquer arrepio ao mesmo.
E o ditador da Síria? E o ditador de Pyongyang? E os ataques selváticos em Londres e em Berlim? E os milhões a morrerem de fome na Somália? E, e, e?
Por cá, entretanto, no meio da crise famigerada, dos cortes ao povo, por parte de um Governo pela trela da troika, o caso da semana foi o do árbitro João Ferreira que se recusou a dirigir o jogo Beira-Mar – Sporting e a actuação, boa, do juiz Fernando Idalécio Martins, da Regional ,que o apitou.
Querem mais? Chamem-me o que quiserem, tenho costas largas, dou a mão à palmatória mas, sem rebuço, reforço a pergunta: que filho da puta de Mundo é este?

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26.8.11

À atenção da 'troika': «O passivo da EMEL aumentou...»

«Em locais bem referenciados da capital, onde a impunidade do estacionamento selvagem é a regra, a EMEL 'olha para o outro lado' e segue em frente...».
ESTA foto (de uma elucidativa sequência publicada recentemente no Passeio Livre) é muito mais do que uma alegoria, pois é um exemplo real e concreto daquilo que todo o lisboeta sabe.
Neste caso, trata-se das famigeradas esquinas sul da Av. Sacadura Cabral com a Rua David de Sousa, em Lisboa, onde os pilaretes, oportunamente, sumiram e nunca foram repostos.
Podia indicar-se aqui uma mão-cheia de outros locais (só nas avenidas novas) onde isso sucede,
mas a lista, além de fastidiosa, não acrescentaria nada ao que é do domínio público.

O GRANDE mistério é saber por que diabo é que - mesmo com a toika a vigiar as despesas ao pormenor! - temos de continuar a pagar os ordenados desta rapaziada toda - desde o fiscal (m/f) mais 'míope' até aos gestores de topo que, como qualquer pessoa que anda pelas ruas de Lisboa, sabem muito bem o que se passa (ou será preciso levá-los pela mãozinha a visitar esses sítios "intocáveis"?).

Era tão bom aprender a lição

Por Ferreira Fernandes

HOUVE em tempos uma campanha, "Ler jornais é saber mais", que dizia o essencial: jornais. No plural. Com jornais é como com médicos. Ouvir uma segunda e terceira opinião cura-nos da estupidez, com jornais, tal como com médicos pode salvar-nos a vida.
Na semana passada, a revista francesa L'Express revelava que o relatório médico de Nafissatou Diallo, a mulher que acusava Strauss-Kahn, dizia: "Causa dos ferimentos: violação". Ora, esta semana, o procurador de Nova Iorque que investigava o caso nem o levou a tribunal, por total falta de provas. Então não havia pelo menos a "prova" do relatório médico para se discutir em tribunal? Quem só leu
L'Express deve ter ficado estupefacto. Mas a resposta deu-a a agência Reuters, que foi buscar um procurador americano para explicar o que são os relatórios médicos preliminares. E ele disse: "Se eu for de bicicleta, caio, e digo ao médico que fui agredido, ele escreve no relatório 'Causa: agressão'".
Cabe, depois, à polícia e aos procuradores investigarem (nomeadamente confirmando com médicos se aquele tipo de ferimento pode ser de agressão ou de outra causa). Foi o que fez o procurador de Nova Iorque. Investigou e fez um relatório de quase 60 mil caracteres dos quais mais de 6 mil (tamanho de cinco crónicas minhas) foram dedicados às "provas médicas". Conclusão do procurador: nada de provas.
A certeza do
L'Express vinha-lhe de não saber do que estava a falar. Acontece tanto.
«DN» de 26 Ago 11

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25.8.11

Lisboa - Av. Almirante Reis
A Língua Portuguesa em saldo

Passatempo-relâmpago

Moinho
O DESAFIO consiste em ser o primeiro a responder correctamente, em comentário, à pergunta «Qual o nome da freguesia onde se situa este moinho?». Cada leitor só poderá dar uma resposta.
(Sugestão: clicar na imagem, para aceder aos dados que permitem chegar à solução).
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O PRÉMIO consiste numa estada de 24 horas, até 4 pessoas, num dia à escolha do vencedor e em que a propriedade esteja disponível. Os convidados só terão de levar roupas de cama e toalhas.

Actualização (15h47m): o passatempo terminou, pois já foi dada a resposta certa.

Kadhafi falha o número final

Por Ferreira Fernandes

DESARMADA a tenda líbia, desapareceu o principal artista do circo. Isto é, ele deixou de ser visto, embora continue a apresentar o seu número por mensagens. Numa delas, Muammar Kadhafi anunciou que não fugiu, anda por ali, e até "passeou discretamente por Tripoli". O que só pode ser mentira. Um Kadhafi discreto - sem óculos escuros, nem vestes esvoaçantes - seria até hoje o seu mais extraordinário número, dificilmente executado por um artista em fim de carreira. Em todo o caso, sem tenda e estando nas lonas, Kadhafi desapareceu de cena sem mesmo organizar aquele espectáculo de despedida com que todos os ditadores partem e encantam os jornalistas.
O cronista brasileiro Luis Fernando Verissimo chamou "torneiras de ouro" a essa grand finale. Torneiras de ouro foram, por exemplo, os sapatos de senhora Imelda Marcos, das Filipinas, e os lustres do palácio de Saddam, do Iraque. São aquele exagero com que gostamos de explicar o que levou um ditador a sê-lo.
Um dia, nos arredores de Bogotá, o Exército levou-me à vivenda do capo de narcotraficantes Rodriguez Gacha "El Mejicano", que acabava de cair como um ditador: os seus rolos de papel higiénico eram impressos com imagens de pinturas clássicas...
As "torneiras de ouro" de Kadhafi, a sua marca de exuberância, eram as vestes com que espantava nas reuniões internacionais. Ao que parece, um raid da NATO bombardeou-lhe o guarda-fato. Kadhafi vai-se sem explicação.
«DN» de 25 Ago 11

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Memórias Fardadas (6) - Na caserna, de manhã, antes do café

Por A. M. Galopim de Carvalho

JÁ CONTEI noutra crónica (17. 07. 2011) que, quando entrei na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, no ano de 1953, para o curso de oficiais milicianos (COM), estava lá a prestar serviço, como soldado pronto o 501/52, meu primo, de nome Manuel Vaz Galopim. O pai deste meu parente e conterrâneo era segundo primo da minha mãe. Caiador, pintor e decorador de interiores, o “primo Galopim”, assim se lhe referia a minha mãe, era um artista na profissão e um amador teatral de muito mérito, na primeira metade do século que passou, na cidade de Évora. Foi amigo pessoal do grande actor José Maria Alves da Cunha, da companhia Rey Colaço - Robles Monteiro, que muito o admirava e estimava e muito o encorajava a prosseguir. (...)

Texto integral [aqui]

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A Madeira e as contas públicas

Por C. Barroco Esperança

ALBERTO João Jardim, Governador vitalício da Região Autónoma da Madeira, tem todos os defeitos que o deviam inibir do exercício de cargos políticos. É um ex-salazarista que nunca respeitou a democracia e um governador que esbanjou recursos e não se conteve nos gastos, para alimentar a máquina eleitoral que o eterniza no poder.

Usa uma linguagem de carroceiro, insulta os órgãos da soberania, desrespeita as leis e faz chantagem com todos os governos da República. Não se percebe que os diversos primeiros-ministros e presidentes da República lhe tenham consentido os dislates e tolerado o regabofe despesista, à custa de todos os portugueses. (...)

Texto integral [aqui]

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24.8.11

Alguém sabe o que esteve na origem deste puzzle?
E como é que, depois, foi rapidamente resolvido?

O PS na clandestinidade

Por Baptista-Bastos

ONDE SE ENCONTRA António José Seguro? Que estará a fazer António José Seguro? Porque não aparece António José Seguro? O PS sumiu-se? As perguntas, aflitas e arquejantes, cruzam-se nas Redacções dos jornais, das televisões, das rádios. Os políticos interrogam-se, por telefone, por mail, por facebook. Até o dr. Sarmento, de hábito muito bem informado, anda tão perplexo e agitado, talvez mais agitado e perplexo do que é costume, vive mergulhado nas trevas da ignorância, acerca de tão augusto problema. Falou com Lobo Xavier, também este gravemente atingido pela inquietação, que não conseguiu esclarecer a funesta dúvida, a qual apoquentava o seu patrão, o eng.º Belmiro, atacado de persistentes insónias.

Começou a dizer-se, à boca pequena, que o circunspecto Seguro se encafuara num gabinete do Largo do Rato, folheando dossiês sobre dossiês, a fim de se preparar para a abertura das hostilidades com Passos, e aceitando o martírio para conquistar a glória. Outros sussurravam que se encontrava, em sigilo, com Mário Soares, para receber lições de como ser astuto sem o demonstrar, e justiceiro com a displicência de um felino.

A mortificação de Seguro tinha razão de ser. E a procura de ajuda espiritual era um forte esteio. Os embates que tivera com Passos haviam-se saldado por melancólicos desaires. E os avanços, os projectos, as decisões, as propostas, os decretos, as leis em catadupa, insinuosamente expostos ou claramente apresentados pelo presidente do PSD desorientavam o adversário.

Que fazer? A leninista interrogação obtinha respostas dúbias. Pouco mais do que ter birras restava a António José Seguro. O seu partido assinara um memorando draconiano e mandam as regras do bom nome que os compromissos se respeitem. Não será bem assim, tanto mais que Passos tem-se adiantado ao que foi estipulado, excedendo a combinação. O Governo comete injustiças das mais bravas e dolorosas e o PS de Seguro está desaparecido sem combate. Como se diz num velho samba: "ninguém sabe / ninguém viu" o que é feito desta gente. Ao menos um arrobo de protesto, um gesticular de indignação, por modesto que fosse. Nada. E o PSD aproveita todas as oportunidades para aparecer, seja nas praias algarvias, seja em declarações absurdas mas úteis para a "visibilidade." O dr. Relvas até foi à Colômbia, apoiar moralmente a selecção de subvinte, enquanto o PS nem um ramo de rosas pálidas enviou como congratulação de "sermos" vicecampeões.

Onde estará Seguro? Onde se esconde o PS? Paralelamente tristes, votam-nos a uma melancolia atroz, que nem a satisfação provocatória do Governo consegue amenizar. Claro que nada disto é eterno ou estável. Porém, a cada dia que passa perdemos um sonho, uma réstia de esperança, um pequeno gomo de fé, uma fatia de confiança.
«DN» de 24 Ago 11

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23.8.11

O estado da informática do Estado

SEMPRE que nos presenteiam com notícias como a de cima - o que é feito como se fosse a coisa mais natural do mundo!-, recordo-me deste desenho que o Paulo Buchinho (cartunista do Expresso) fez para a capa de O Clube dos Inventores (*): um bando de garotos a quem um tio info-excluído cedeu um cantinho para eles brincarem aos informáticos.
Pelos vistos, e apesar de o boneco ser do século passado (os mais velhotes decerto se lembrarão do Netscape...), continua actual a metáfora que esteve na sua origem.

(*) A 1ª parte veio a ser publicada pela Plátano Editora que, no fim, remetia a leitura da 2ª para o seu site. Apesar de o livrinho estar esgotado, o texto completo ainda se pode ler - embora só formato Word.

Os Distúrbios Ingleses

Por Maria Filomena Mónica

PODIA LÁ resistir: se há coisa de que gosto é de uma polémica. Devido à tradição nacional do respeitinho, aliada ao corporativismo da sociedade portuguesa, as ocasiões são raras, especialmente na academia, que considera a crítica a colegas como um crime de lesa-majestade. Com o seu artigo sobre os distúrbios ingleses do último dia 14, Boaventura de Sousa Santos – sempre ele! – ofereceu-me uma oportunidade doirada.

Salto por cima do lirismo infantil, da ideologia revolucionária e do jargão sociológico, que caracterizam a sua prosa, para me concentrar nas causas que aponta para o que aconteceu nalgumas cidades inglesas. Na sua opinião, são quatro: «a promoção conjunta da desigualdade social e do individualismo, a mercantilização da vida individual e colectiva, a pratica do racismo em nome da tolerância (sic), o sequestro da democracia por elites privilegiadas e a consequente transformação da política em administração do roubo 'legal' dos cidadãos e do mal-estar que ele provoca».

O nível de abstracção do argumento leva-me a imaginar o autor, sentado num salão VIP's de um dos países do Terceiro Mundo para onde gosta de viajar, tentando escrever frases eternas. É por não conhecer a realidade dos bairros incendiados que nos presenteia com frases como esta: «Entre o poder neo-liberal instalado e os amotinados urbanos há uma simetria assustadora». Para ele, os criminosos não são os jovens que roubaram e agrediram Asyraf Haziq, o jovem malaio de 20 anos, caído a sangrar na rua onde se deslocara a fim de comprar o jantar, mas «os desordeiros que estão no poder», ou seja, o Executivo inglês.

Não nego que, na Grã Bretanha, há desemprego juvenil, o que explicará grande parte da revolta. Depois de terem deixado a escola, os miúdos pobres andam pelas ruas sem saber o que fazer. Mas isto não explica tudo: alguns dos amotinados tinham emprego. E, no entanto, pareciam sobretudo interessados em pilhar, em desafiar a polícia e em destruir. Curioso ainda é o facto de não termos ouvido reivindicações políticas, nem visto ataques a símbolos do poder. No fundo, os distúrbios tiveram menos a ver com raça ou com a classe social do que com a mistura explosiva de testerona juvenil, de ausência de perspectivas e do sentimento de impunidade. Sei que do facto de a violência não ter sido dirigida a um alvo preciso não posso concluir que não tenha significado. Tem-no, mas não serão os cientistas sociais de Coimbra que o descobrirão.

De repente, lembrei-me do que as cenas vistas na televisão me traziam à memória: não, não eram os motins de Brixton dos anos 1980, mas a vagabundagem de Alex, o personagem central de A Laranja Mecânica, de A. Burgess, uma obra adaptada ao cinema por S. Kubrick. Está lá tudo, a falta de convicção política, o recurso à violência como divertimento e até o vestuário usado como símbolo de pertença: o chapéu de coco preto de Malcom McDowell foi agora substituído pela camisola com barrete, o chamado hoodie.

«Expresso» de 20 Ago 11

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22.8.11

De Doutor a Engenheiro

Por Alfredo Barroso

BONDADE
imensa a do Mário Crespo, que me encarrapitou nas cumeadas da república, logo a abrir a crónica que dedicou à altercação entre Teresa Caeiro e eu próprio na SIC Notícias. Claro que, quanto mais alto o cume, maior o trambolhão que eu daria. Mas, ao invés do que ele sugere, não sofro de qualquer «complexo do doutoramento nacional». Nunca fiz nem desejei fazer doutoramentos, muito menos um doutoramento ad hoc.
A Licenciatura em Direito (que só dá direito a dr., não a Doutor nem a Prof. Doutor), obtive-a na Universidade de Lisboa no tempo da outra senhora. Aluno de cinco ministros de Salazar (Raul Ventura, Paulo Cunha, João Lumbrales, Marcelo Caetano, Cavaleiro Ferreira), nem assim fui contaminado pelo «complexo do doutoramento nacional», que, segundo Mário Crespo, é revelador de «questões de fundo da nossa sociedade». (...)

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As páginas de um grande livro

Por A. M. Galopim de Carvalho

FECUNDADA pela radiação solar, fonte de energia que alimenta os processos geológicos e biológicos próprios da sua capa externa, a mãe Terra dá nascimento aos seres vivos que a habitam na sua zona mais superficial, aos solos e às rochas sedimentares, três conjuntos a que correspondem três disciplinas fundamentais: a Biologia, a Pedologia (Edafologia dos autores espanhóis) e a Sedimentologia. Deixemos a Biologia e a Pedologia para quem delas saiba falar e fiquemo-nos com a Sedimentologia. (...)

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Os pequeninos armados em vedetas

Por Ferreira Fernandes

OS PEIXES-PILOTOS acompanham o tubarão, limpam-no de parasitas e devem ficar por aí, na sombra. São os secundários do grande actor dos mares: já viram algum filme chamado "Peixe-Piloto", com sequelas "Peixe-Piloto II", "Peixe-Piloto III"?
Aos peixes-pilotos de todos os espectáculos está destinado o anonimato do qual só deveriam sair quando são excelsos na sua insignificância. Foi o caso de Francesc Satorra, responsável há 30 anos do túnel dos balneários do Camp Nou. Há dias, num Barcelona-Real Madrid, José Mourinho meteu o dedo no olho do treinador-adjunto catalão e Satorra foi apanhado mesmo no meio do vídeo escandaloso. Os treinadores adversários naqueles preparos esquisitos e o homem do túnel como lhe competia: impávido, olhar fixo, bigode sem mexer, gravata impecável. Graças à sua total falta de protagonismo, Francesc Satorra virou estrela e apareceu estampado em T-shirts (onde, ironia das ironias, Mourinho e o outro foram apagados).
Entretanto, por cá, o árbitro (peixe-piloto por definição: só são bons quando não se dá conta deles) João Ferreira seguiu caminho inverso. Decidiu ser estrela negando-se a arbitrar um jogo do Sporting porque o presidente do clube chamara incompetente a certos árbitros. Cabia a Ferreira, achando-se insultado, accionar tribunais. Em vez disso, tentou boicotar o espectáculo dos artistas. Azar dele, substituído por um árbitro de escalão inferior, ninguém lhe sentiu a falta.
«DN» de 22 Ago 11

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21.8.11

A malta do «É igual ao litro»

Lisboa - Praça Francisco Sá Carneiro - (Areeiro)
Mais uma imagem, para a infindável colecção de absurdos que se pode ver [AQUI]

Luz - Macau, 1998

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem, para a ampliar
Loja de peixes de aquário. Em cada saco de plástico vive um peixinho exótico de cor berrante ou às riscas e às manchas.

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Não competiria à ASAE combater os erros de ortografia que alguns estabelecimentos exibem em plena via-pública?

20.8.11

As gravuras que não sabem nadar

Por Antunes Ferreira

DURANTE doze dias deambulei pelo Reino Maravilhoso – foi um ilustre trasmontano de São Martinho da Anta, o licenciado em medicina Adolfo Correia da Rocha que assim escreveu – e voltei de cabeça lavada, de olhos lavados, de alma (se é que a temos…) lavada. Miguel Torga que, em meu entender e no de muito boa gente devia ter sido o Português Nobel da Literatura, grafou então frase que ficaria nos anais da cultura nacional: «para cá do Marão, mandam os que cá estão». Mas o escritor imenso não era comunista, nem teve nenhuma Pilar del Rio…
Há anos que por ali não andava. A Bragança, recordo-me vagamente, tinha os meus onze anos, fui numa excursão da minha turma no Liceu Camões. Um largo hiato se registou até que pelos anos oitentas um bom Amigo me levou até Vila Real, Chaves e Murça, a ver o berrão de seu nome A Porca.
Agora, tirei a barriga de misérias. Em todos os sentidos, porque na região tudo é excelente, incluindo a comida e a bebida. As montanhas – excelentes; as paisagens – excelentes; as gentes – excelentes e as curvas – excelentes. Das estradas com pavimentos quase excelentes, tenho de o dizer. E as das moçoilas não lhes ficam atrás.
Trás-os-Montes, no que respeita às comunicações rodoviárias está numa revolução: as obras da auto-estrada que chegará a Bragança fervilham, os desvios são uma constante, respira-se trabalho por todos os poros. Por entre montes e vales, o que quer dizer a subir e a descer continuamente, as curvas repetem-se, acrescentam-se. De tal sorte que lá meti requerimento às autoridades competentes para que me fosse passado diploma oficial de curvador encartado. Continuo a aguardar resposta. O documento fará parte da minha colecção de atestados e outros.

Uma dúvida, porém, me assaltou o espírito. O tráfego por aquelas bandas justificará a auto-estrada? Num território com uma elevada percentagem de emigração, que, infelizmente, agora se está repetindo, circulam, por vezes, viaturas espaçadas. Indústria, não há. O Cachão, do engenheiro Camilo de Mendonça da outra senhora, morreu depois do 25 de Abril. Restam as amendoeiras, as oliveiras, as vinhas, os cortiços do mel e da cera e um turismo incipiente.
Mas, alto lá. Tudo merecem as gravuras do Vale do Côa, nos seus 20 mil anos postos em sossego, como a Inês, que me emocionaram a tal ponto que se me humedeceram os olhos. E o fantástico museu sobre essa maravilha da arte rupestre ao ar livre, a maior e melhor do Mundo. Só as gravuras (que não sabiam nadar e continuam a não saber) justificam o que se faça.

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19.8.11

A malta do «É igual ao litro»

Lisboa - Alameda D. Afonso Henriques.
Há aqui qualquer coisa estranha, não há?

Para lá das quatro linhas

Por Ferreira Fernandes

AFINAL, o Portugal actual do nosso descontentamento também pode ser bem vivido: vejam os sub-20. Esses já interiorizaram que não podem ter férias em Punta Cana: é só jogo raso, trabalho e esforço.
Há 20 anos, tempo de vacas gordas, Portugal era o talento brilhante de João Vieira Pinto, Figo e Rui Costa. Hoje, nada de fogachos individuais, só mediania de cada um, mas um patamar colectivo extraordinário, muito acima da soma das partes.
Quis o destino que anteontem à noite se pudessem ver os dois Portugal ao mesmo tempo. Num televisor (Barcelona-Real Madrid), um Portugal que já não se pode ter, o da prima-dona Cristiano Ronaldo, pensando que todos jogam para ele e que chuta a 40 metros, sem consequência, quando tinha outros para servir, enfim, um Portugal de Mourinho, number one e exibicionista. E que perdeu. Noutro televisor (Portugal-França, sub-20), um Portugal que só pode ter o que tem, que remédio, mas, porque assumiu a modéstia, um grupo coeso. E que venceu.
Só no sábado se saberá se este sub-Portugal atinge os píncaros. Mas, se o conseguir, aqueles que andam a convencer-nos que os tempos são de contenção terão o melhor dos pretextos e o melhor dos exemplos nesta selecção de Fulano e Sicrano (os nomes varreram-se-me). Nos próximos anos Portugal está condenado a ser assim, anónimo e esforçado. E, pelos vistos, ser isso até pode ser bom.
«DN» de 19 Ago 11

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Lisboa - Av. João XXI
NESTAS coisas de placas, há dois erros que são tão frequentes como irritantes: trata-se do Proíbido e do Residêncial.
No caso que esta imagem documenta, aqueles que, como eu, se interrogam se isso fará parte do Novo Acordo Ortográfico, têm a resposta lá escarrapachada - e até no plural: ACORDOS. Bem-hajam!

A Costa Nova

Por Alice Vieira

RUY BELO chamava às esplanadas “as nossas pequenas pátrias provisórias”.
Completamente dependente de esplanadas, vou estabelecendo muitas pátrias dentro da minha.
Mas há aquelas que se guardam apenas na memória, aquelas que só de longe em longe visitamos - e aquelas a que voltamos sempre.
A Costa Nova (com o prolongamento da Barra acoplado) é a pátria a que todos os anos regresso no verão.
Mas também às vezes no outono. E também às vezes no inverno. Pátria é onde um homem (e quando um homem) quiser.
Tenho de adormecer a olhar para o farol, tenho de acordar a olhar para o farol. (...)
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18.8.11

Petiscos, aperitivos, entradas, pratinhos e outros pitéus

Por A.M.Galopim de Carvalho

QUER em casa, quer em recepções e reuniões diversas mais ou menos alargadas, em hotéis e restaurantes, quer ainda em tasquinhas, tabernas ou em confraternizações ao ar livre, entre amigos, ou em simples piqueniques de família, dispomos de um sem número de confecções, muitas delas frias e secas, fáceis de fazer, de transportar e de servir, normalmente em pequenas quantidades. São os petiscos, as entradas, os acepipes, os pratinhos, as tapas e outros pitéus.

De origem ainda obscura o petisco é, em grande parte, o produto de uma arte culinária mais popular entre homens, que Monarca Pinheiro (1999) tão bem associou a «comes e bebes em tardadas e noitadas de ascensões celestes nas tabernas, caçadas e pescarias». (...)
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Avaliações dos professores – de recuo em recuo

Por C. Barroco Esperança

NÃO SEI quem teve a infeliz ideia de acabar com os exames no ensino obrigatório e de tornar quase impossíveis as reprovações.

Se os alunos progridem sem aquisição de conhecimentos necessários, por analogia deve acontecer o mesmo aos professores. Em ambos os casos trata-se de uma injustiça.

Os ministros esforçam-se por impor avaliações e os sindicatos não abdicam de gerir as escolas e de, aproveitando o horror às avaliações, usarem a adesão dos docentes. (...)

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17.8.11

Ramalho Ortigão, comentando a crónica anterior...

Para ler mais, clicar [AQUI]

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«Dito & Feito»

Por José António Lima

ANTÓNIO Capucho, que já se queixara publicamente de ter sido preterido a favor de Fernando Nobre na corrida à presidência da Assembleia da República, voltou agora a lamentar-se de ter sido afastado do Conselho de Estado sem aviso prévio da direcção do PSD. E de ter sabido da notícia «pelos jornais».

O que, reconheça-se, não é uma forma muito civilizada de tratar titulares de cargos políticos desta importância. Passos Coelho lá saberá.

Resignado, Capucho adiantou que, apesar disso, considera as escolhas de Passos Coelho – «o militante n.º 1 do partido, Francisco Balsemão, e dois ex-líderes, Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes» – como «um critério inteligente e imbatível». Ora, não parece muito inteligente nomear uma figura como Menezes, que não tem percurso político, nem dimensão intelectual, nem reconhecimento nacional para ascender a um órgão com a relevância do Conselho de Estado. Percebe-se que Passos Coelho quis, com este gesto, retribuir o contributo que Menezes lhe deu, junto das bases regionais do partido, para ser eleito líder do PSD. Mas os favores do aparelhismo partidário não se pagam com lugares no órgão de aconselhamento do Presidente da República.

Nem parece «imbatível» o critério de Menezes ser ex-líder do PSD (cargo que, aliás, ocupou por efémeros seis meses). Porquê Menezes e não Manuela Ferreira Leite, também ex-líder? Porquê Menezes e não Santana Lopes, que além de ex-líder foi até primeiro-ministro?

Este tipo de nomeações, a que acresce a desqualificada lista de suplentes apresentados por PSD e PS, apenas tem o efeito de degradar o prestígio do Conselho de Estado, onde, além das inerências, só deveriam ter assento figuras politicamente respeitadas e com reconhecidos méritos cívicos. O que não é manifestamente o caso.

É DIFÍCIL entender, por outro lado, que Passos Coelho não tenha dado ao líder do seu parceiro de coligação, o CDS, um lugar no Conselho de Estado. Como Durão Barroso deu, naturalmente, em 2002. Não fazia parte do acordo de coligação nem o CDS fez questão disso – alegam com hipocrisia na S. Caetanoà Lapa. Estavam à espera que Portas e o CDS o pedissem?... Eis um gesto que revela bem o grau de confiança e de cooperação reinantes na coligação governamental.

«SOL» de 12 Ago 11

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Pontal: uma inutilidade

Por Baptista-Bastos

NÃO SE DESCORTINA a ideia que levou Pedro Passos Coelho a escolher o Pontal para a rentrée do PSD. O local foi, em tempos, símbolo de um certo ânimo "laranja" e permitia, inclusive, tomar o pulso ao país político. Também no Pontal se adivinhavam as tensões e as crispações no interior do partido. Os discursos, congestivos e gesticulantes, agitavam as hostes e todos saíam muito contentes. Aos poucos, o símbolo deixou de o ser, apesar dos manifestos esforços, em especial de Mendes Bota, para o fazer ressurgir. Agora, o regresso pareceu-me acabrunhado, a retórica de Passos Coelho vazia de sentido, e o próprio Passos Coelho um homem cabisbaixo, fatigado e, até, um pouco triste.

Os comentadores, nas televisões, bem se esganiçaram para dar lustre a uma festarola a que nem as bandeiras e o som pós-síncrono conferiram a mais escassa emoção. A própria intervenção de Passos Coelho não empolgou ninguém, e o que disse não adiantou nem atrasou nada para apoio do seu projecto. A frase: "Há mais de cinquenta anos que não havia nada de paralelo, no respeitante aos cortes às despesas", é pífia, um pouco desmantelada, e não suscitou aos presentes mais do que pálidas reacções.

Tomemos de mão Oliveira Martins e leiamo-lo: "Os que aconselham e apoiam o primeiro-ministro não procedem por amor à pátria mas somente por se segurarem, escapando ao castigo do crime de encurtarem o nosso património." Averiguadamente, o chefe do Governo, apaixonado pela moda neoliberal, demonstra pouco interesse pelo factor humano. Não sou eu só que o digo. E as obstinadas decisões tomadas, que deixam cada vez mais exaustas e perplexas as camadas pobres da população, denunciam um poder distanciado e inacessível.

Pedro Passos Coelho teve, talvez, no Pontal, a possibilidade de estimular diferenças e esclarecer indignações. Mas, pelos vistos, não o embaraçam as diferenças nem as indignações, simbolizando, assim, um autoritarismo que nem a sua serena afabilidade consegue disfarçar. O que pode encorajar as tendências para a rejeição de um projecto, já de si cheio de remendos e de contradições.

As dificuldades extremas por que o País atravessa, origem indiscutível da nossa infelicidade, exigem não apenas respostas "políticas" como a manutenção da nossa identidade cultural, seriamente ameaçada pela incompreensão do facto. Rodeado de tecnocratas, de "sábios" que não pertencem nem à consciência geral nem à memória da nossa sociedade, o primeiro-ministro pode acentuar uma grave e irreparável decomposição do tecido social. Não basta apelar ao "entendimento" e à "concertação" se não houver leis que recusem o aleatório e defendam a expressão das nossas necessidades.
«DN» de 16 Ago 11

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16.8.11

No reino das Leis-da-Treta

Público de 16 Ago 11
A PERGUNTA que se coloca não é «porque é que as multas não são aplicadas?» mas sim «porque é que alguém perde tempo a fazer uma notícia destas?».
Explicando melhor - recorrendo a outra pergunta: «quantas multas foram aplicadas desde que foram criadas as que punem quem toma banho em praias com a bandeira vermelha hasteada?» (*)
Esta gentinha ainda não meteu na cachimónia que a criação de sucessivas leis-da-treta (aquelas que ninguém cumpre nem faz cumprir) é das coisas que mais corroem a democracia?

(*) Aqui fica uma pista para a resposta: segundo os números oficiais, no 1.º ano de "aplicação da lei" (no país todo e durante toda a época balnear) foram elaborados 17 autos, ignorando-se quantos deles se traduziram em multas; e os números de então para cá não têm sido muito divulgados - até porque parece que ninguém os pede...

O oposto

Lisboa - Praça de Londres
12 Ago 11
A SEGUIR a um 'post' com imagens de desleixo imperdoável, é grato mostrar um exemplo do oposto: depois de feito o habitual aviso para a "Direcção de Operações de Cliente e Infra-estruturas" da PT, a reparação desta tampa (onde, devido à sua localização, com frequência tropeçavam - e muitas vezes caíam - pessoas) demorou apenas algumas horas a ser feita.

15.8.11

O "cúmulo"

SANTANA Lopes está sempre disponível para tudo o que lhe der visibilidade, excepto para fazer aquilo para que foi eleito e para que os contribuintes lhe pagam: fazer uma oposição eficaz naquela outra "santa casa" que é a autarquia de Lisboa.
Há dias, disseram-me que essa minha acusação era injusta. Seja ou não seja, o certo é que ficou sem resposta a questão que, em seguida, coloquei:

«Então indique-me UMA ÚNICA acção (ou intervenção) de Santana Lopes – sim, uma única! – real, concreta e com impacto sério – face ao caos em que a capital se tornou. É que nunca se viu Lisboa tão desumana, tão porca, tão esburacada, tão intransitável, tão desorganizada, tão despersonalizada como agora – um local de que só apetece fugir! E o que faz Santana Lopes, face a esse verdadeiro maná de oportunidades que António Costa lhe dá de mão-beijada?».

Possivelmente, Santana Lopes tem má-consciência, e com alguma razão, pois as desgraças da cidade também tiveram, a seu tempo, o seu contributo:
Aliás, desde o CDS até ao BE (passando pela CDU, pelo PS e por Independentes - destes, gosto especialmente daquele simpático cavalheiro que tem a alcunha de “vereador para a mobilidade”!), Lisboa tem conhecido uma inumerável colecção de pândegos que nos saem caros e bem caros. Santana Lopes é apenas mais um - embora com pinta de bom rapaz, valha-nos isso.

Passatempo: das fotos aqui apresentadas, quais foram as tiradas no tempo de Santana Lopes e quais o foram já no de António Costa?

A propósito de "tempos parvos"

Os dois de cima são do Mercado de Arroios.
O de baixo é da Rua Frei Amador Arrais

Que saudades dos tempos parvos

Por Ferreira Fernandes

NOS BONS velhos tempos, havia todos os anos a silly season. Quer dizer, silly season, silly season, por cá, só começou a haver depois de O Independente, de Miguel Esteves Cardoso nos pôr a todos a falar inglês (um dia, ainda se há-de escrever sobre isso, uma das poucas revoluções portuguesas conseguidas: em meia dúzia de anos, o fim de décadas de gerações francófonas...)
Mas a ideia de silly season, sempre houve. Chamávamos-lhe modorra do Verão e era aquele período em que os jornais desportivos gritavam nomes na primeira página com muitas consoantes e de quem nunca mais voltávamos a ouvir falar (quanto mais ler em manchete): "Vladcx já assinou pelo Benfica!"
E os outros jornais nem isso tinham, a política e os negócios estavam a banhos.
Para vender papel, restava inventar rumores, sublinhar ninharias e fenómenos do Entroncamento, espicaçar separações de famosos, enfim, noticiar o nada até porque o fenómeno era universal, lá fora o Verão também atacava e as agências noticiosas secavam. Daí, o sucesso da tal expressão bem apanhada: silly season, estação parva. Sempre houve, desde os bons velhos tempos.
Pois, apesar de estarmos em pleno Verão, período sem nada a assinalar por definição, tenho a dar uma notícia bombástica: a silly season morreu. Terrorismo na Noruega, falência na América, motins em Londres, as Bolsas em pânico e nós por cá sem saber se chegamos ao Outono.
Que saudades dos tempos suaves e parvos.
«DN» de 15 Ago 11

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O que eles fizeram pelas Ciências da Terra (8)

Torbern Olof Bergman
(1735 -1784)

Por A.M. Galopim de Carvalho

NOTÁVEL químico e físico sueco, contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento da mineralogia e da petrologia. Foi considerado pioneiro da análise química inorgânica quantitativa e fundador da mineralogia química. Doutorado em 1758, pela Universidade de Uppsala, ensinou física e matemática antes de se tornar professor de química. (...)

Texto integral [aqui]

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Apontamentos de Lisboa

Esquina do lado Sul
Esquina do lado Norte
ESTAS imagens mostram duas esquinas, fronteiras uma à outra, na Av. de Paris, em Lisboa. O que as distingue é o seguinte: sendo ambas apetecíveis para os pinta-paredes, uma (a do Montepio) é invariável e imediatamente limpa quando esses 'artistas' actuam; a outra... nem por isso.
Ora, sabendo-se como é importante, para esses "pintores", que as suas marcas fiquem (eles, como os cães que urinam nos candeeiros e nas árvores, quem dizer à comunidade «Eu passei por aqui!», é fácil de constatar, por quem ali passa com frequência, que os resultados, em termos de (des)encorajamento são reais.