26.12.11

Natal

Por João Paulo Guerra

O FILHO do carpinteiro lá nasceu, como estava previsto, e agora vem a caminho a Troika de reis magos para o adorar.

Está previsto que chegue a 6 de janeiro e, tratando-se de uma Troika de reis, a chegada e estadia serão altamente mediatizadas, com diretos na televisão e bisbilhotices nas revistas cor-de-rosa. Trazem ouro, incenso e mirra, para resgatar a família do pequeno, mas os juros são a 44 por cento. E para lá dos juros há uma série sem fim de outras imposições.

A criança, que nasceu de pai artesão a recibos verdes e de mãe desempregada sem subsídio de desemprego, vai ter uma infância desvalida, própria de uma geração à rasca. O mais certo é que abandone o ensino sem completar o secundário. E quanto a saúde, se a quiser, que a pague. E assim, com um futuro tão incerto no seu território ocupado, o mais provável é que mais cedo ou mais tarde venha a ser aconselhada a emigrar.

Com tal currículo, o jovem será previsivelmente um indignado. Participará em acampamentos, ocupações, manifestações vídeo-vigiadas, ficará com cadastro e será rotulado para a vida. E se um dia vier a falar entre os doutores, será para ser enxovalhado pelos senhores do pensamento único e pelos seus numerosos missionários, lambe-botas e louvaminheiros. Entre os que o ouçam e sigam não vão faltar os provocadores, bufos e delatores, prontos a denunciá-lo e a exagerar a denúncia para valorizar e acrescentar os 30 dinheiros da recompensa.

E um dia o filho do carpinteiro vai passar as marcas e dizer blasfémias como "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no reino dos céus". Os senhores do poder e do dinheiro têm medo mas perdem a paciência, crucificam-no mas benzem-se. E a Troika dos reis magos não levantará um dedo para o salvar.

«DE» de 26 Dez 11

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