29.11.11

Entre sonhos e pesadelos

Por Ferreira Fernandes

EM LISBOA, um congresso sobre os 25 anos da adesão à CEE. Ontem, discutiu-se isto: "Foi esta a União Europeia com que sonhámos?" Irónico, na semana em que a capa do Economist era um pesadelo, o fim do euro...
Para perceber melhor o tema, viajei (pelos jornais) até 12 de Junho de 1985, a data da adesão. Nesse dia, o DN dedicou a capa ao acontecimento. O editorial de Mário Mesquita, então director, evocava Eça, para nos dizer que os ventos de além Pirenéus sempre nos entusiasmam na razão inversa do que percebíamos, de facto, das novidades.
No tempo de Eça, eram os livros franceses que chegavam pelo Sud-Express; em 1985, era a União Europeia. E, também desta vez, embarcámos em mitos ingénuos como, por exemplo, o de a Europa ser "sinónimo, no plano económico, do advento da riqueza". Para contraponto das ilusões, Mesquita aconselhava-nos atenção a todas as perspectivas, sobretudo as contraditórias. Ele alinhou uma dúzia, eis duas delas: a Europa próspera e protestante do Norte e a Europa pobre e católica do Sul...
Dir-me-ão, hoje: que banalidade, quem não conhece essas duas diferenças? Mas claro que as conhecemos, só que o fervor pelos ventos, pelo Sud-Express, enfim, pelo milagre, convenceu-nos que se tinham esbatido. Daí, o espanto quando o que nos sucede não acontece à Holanda.
Outra coisa (ou talvez a mesma): nos dias anteriores à adesão, à magna adesão!, os jornais só falavam da crise interna, do fim da coligação PS-PSD.
«DN» de 29 Nov 11

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