15.11.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

ANTÓNIO Costa abandonou em 2007 o Governo de José Sócrates para se candidatar à presidência da Câmara de Lisboa e poder trilhar, com maior autonomia política, o seu caminho rumo a uma futura liderança do PS.

Mas, na prática, de 2007 a 2011 nunca se demarcou verdadeiramente do socratismo nem acautelou a mínima distância crítica face ao endividamento e à irresponsabilidade crescentes da governação de Sócrates.

Pelo contrário. Nos espaços de intervenção pública que sempre manteve, Costa foi apoiando todos os Orçamentos de Sócrates, um a um, desde o despesista e eleitoralista OE de 2009 até ao derradeiro e desesperado OE de 2011. Não regateando, pelo meio, justificações e elogios a todos os PEC, desde o PEC 1 em Março de 2010 ao funesto PEC 4 em Março de 2011.

Não deixa, por isso, de ser intrigante ver agora Costa a defender, nas reuniões do PS, o puro e duro voto contra este OE de 2012. Que é, por sinal, como lembrou António José Seguro, «o primeiro Orçamento que decorre do compromisso que o PS negociou com a troika». Eis um pormenor que António Costa, no seu afã oposicionista ao novo líder, parece ter esquecido: foi o próprio José Sócrates quem chamou a troika a Portugal solicitando um plano de resgate financeiro para tirar o país da bancarrota, foi o mesmíssimo José Sócrates quem assinou o memorando, com todas as suas consequências de cortes e austeridade na vida dos portugueses.

Que coerência política e que sentido de responsabilidade pública restam a António Costa para votar contra um Orçamento que é a consequência da governação de Sócrates e do PS, que resulta dos OE e dos PEC do PS que ele – António Costa – sempre aprovou, que tem por base um memorando negociado e assinado por Sócrates e o PS?

Na véspera das eleições de Junho, com Portugal prestes a mudar de página, Costa continuava a dar provas do seu delirante socratismo: «O país precisa de alguém que agarre o leme, que não se resigne, como José Sócrates», insistia. Como agora conclui António José Seguro, «os portugueses foram muito claros: querem o PS na oposição, deram-lhe 28%». António Costa é que parece que não deu por isso. Ainda não saiu da fase socrática.
«SOL» de 11 Nov 11

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