25.8.11

Kadhafi falha o número final

Por Ferreira Fernandes

DESARMADA a tenda líbia, desapareceu o principal artista do circo. Isto é, ele deixou de ser visto, embora continue a apresentar o seu número por mensagens. Numa delas, Muammar Kadhafi anunciou que não fugiu, anda por ali, e até "passeou discretamente por Tripoli". O que só pode ser mentira. Um Kadhafi discreto - sem óculos escuros, nem vestes esvoaçantes - seria até hoje o seu mais extraordinário número, dificilmente executado por um artista em fim de carreira. Em todo o caso, sem tenda e estando nas lonas, Kadhafi desapareceu de cena sem mesmo organizar aquele espectáculo de despedida com que todos os ditadores partem e encantam os jornalistas.
O cronista brasileiro Luis Fernando Verissimo chamou "torneiras de ouro" a essa grand finale. Torneiras de ouro foram, por exemplo, os sapatos de senhora Imelda Marcos, das Filipinas, e os lustres do palácio de Saddam, do Iraque. São aquele exagero com que gostamos de explicar o que levou um ditador a sê-lo.
Um dia, nos arredores de Bogotá, o Exército levou-me à vivenda do capo de narcotraficantes Rodriguez Gacha "El Mejicano", que acabava de cair como um ditador: os seus rolos de papel higiénico eram impressos com imagens de pinturas clássicas...
As "torneiras de ouro" de Kadhafi, a sua marca de exuberância, eram as vestes com que espantava nas reuniões internacionais. Ao que parece, um raid da NATO bombardeou-lhe o guarda-fato. Kadhafi vai-se sem explicação.
«DN» de 25 Ago 11

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1 Comments:

Blogger A. João Soares said...

Como texto de jornalista está muito interessante mas, do ponto de vista de relações internacionais e de geoestratégia, deixa muito a desejar.

Em conflitos desta dimensão, nunca se deve menosprezar as capacidades do adversário. Aos primeiros ataques da NATO, Kadhafi saiu da zona alvo, onde não poderia sobreviver por muito tempo.

Entretanto, deve ter andado em viagem com paragens em sucessivos abrigos subterrâneos, bem escondidos e guardados por população da sua confiança, da sua tribo.

Nesses buracos compridos e sinuosos de toupeira pode vir a manter a sua resistência durante muito tempo e incitar a luta tribal que vai iniciar-se e criar mais oásis de sangue num deserto árido.

Poderá até, por si ou por forças interpostas, propor ao Tribunal de Justiça Internacional o julgamento das autoridades estrangeiras que foram autores da ingerência armada num conflito interno de país independente e soberano, matando inocentes civis e destruindo património nacional de variadas características. Se isso acontecer será o fracasso total da ONU e do TJI.

Talvez, apercebendo-se disso, a ONU não fez igual ingerência na Síria!!!

Veremos o que se vai passar e convém meditar sobre formas mais éticas de ajudar a conseguir entendimentos internos, de forma pacífica, em confusões que podem acontecer em qualquer País, em Londres ou nas Puertas del Sol...

Cumprimentos
João

25 de agosto de 2011 às 15:49  

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