21.6.11

Indignação

Por João Paulo Guerra

EM LISBOA, Atenas, Paris e Berlim, com diferentes graus de motivação e adesão, mas sobretudo em Madrid, cidadãos saíram domingo às ruas para manifestar a sua indignação. E o que porventura mais incomoda os poderes é que, as pessoas estão indignadas com a falta de democracia e de representatividade dos que decidem. As pessoas estão indignadas porque decidem por elas e contra elas.

Claro que em reacção às manifestações, concentrações e desfiles de domingo surgiram logo as acusações de que as manifestações de rua constituem um desafio à democracia representativa. O que é certo é que estes preopinantes não se incomodam nada que as políticas conduzam à abstenção e a abstenção ao declínio da representatividade: um partido com pouco mais de 20 por cento do eleitorado inscrito pode governar um país. E ainda se incomodam menos que empresas de ‘rating', sem qualquer legitimidade e representando apenas os interesses particulares dos respectivos accionistas privados, deitem abaixo governos eleitos, condenem países à bancarrota e povos à miséria.

Os movimentos de indignação que se manifestam nas ruas têm crescido quanto mais se acentua a viragem à direita na política europeia. A Europa é governada, a nível comunitário e no plano de cada estado, por uma patrulha de pancrácios neoliberais que têm o símbolo do euro onde o comum dos humanos tem as meninas dos olhos. As políticas anti-sociais, agravadas em alguns estados pelas imposições do FMI, vão contribuir decisivamente para que cresça a indignação. Resta saber se a mão que puxa os cordelinhos não tem mesmo por objectivo dar cabo de qualquer veleidade de união europeia. Pois se até o clube de Bildeberg está preocupado em intrometer-se com "os tristes episódios das dívidas soberanas"!
«DE» de 21 Jun 11

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1 Comments:

Blogger GMaciel said...

Enquanto que por cá a carneirada segue, cabeças baixas, murchas orelhas.

Por cá vende-se a ideia - já feita razão indiscutível - de que não há democracia sem partidos, ao invés de se fazer constar que a democracia não termina nos ditos.

É esta a ideia, inculcada e propalada até por quem se diz de esquerda, que tolhe e vicia o jogo, tornando os portugueses numa sociedade ultra passiva.

Não percebem, esses bem-pensantes e bem-falantes comentadores, que fazem o jogo de quem segura os cordéis.

21 de junho de 2011 às 11:51  

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