21.6.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

AO QUE PARECE, Paulo Portas tentou até ao fim, nas negociações com o PSD para a formação do novo Governo, contrariar a privatização da RTP.

Eis um paradoxo que não terá explicação política fácil. Já em Setembro último, no Parlamento, o CDS havia feito coro com o PS, o PCP e o BE contra a hipótese de se privatizar um canal da RTP. Foi um alinhamento político curioso e não menos difícil de entender.

O que levará o CDS a defender o estatismo televisivo ao lado de toda a esquerda, mesmo a mais conservadora nestas matérias? O que argumentará o CDS, que tanto clama contra o desperdício de dinheiros públicos, para sustentar os mais de 360 milhões de euros que o Estado gastou, só em 2010, no poço sem fundo da RTP: 121 milhões em indemnizações compensatórias, 118 milhões na taxa do audiovisual (que pagamos subrepticiamente nas facturas de electricidade e que terá um aumento de 30% neste ano de 2011!...) mais 120 milhões em dotações de capital? Tudo isto além dos 50 milhões de receitas de publicidade que a RTP angariou? O que justifica tal sorvedouro dos depauperados cofres do Estado, um gasto de um milhão de euros por dia?

Na campanha eleitoral, Paulo Portas chegou a contrapor que «há serviços públicos que são indispensáveis, como a electricidade, a água ou a televisão». A televisão?! O único serviço público, verdadeiro e concreto, da RTP são os canais para o mundo lusófono e as comunidades de emigrantes: a RTP-Internacional e a RTP-África. E, eventualmente, algumas delegações regionais que atenuam a interioridade ou a insularidade. Mas os custos de manutenção destas estruturas não chegarão a 15% dos muitos milhões que entram na RTP.

O ponto é que a RTP1 é um canal comercial que mal se distingue da TVI ou da SIC – quer na informação quer na programação (tem concursos em vez de telenovelas e pouco mais – e, hoje em dia, no cabo, há muitas alternativas às novelas).

Privatize-se, pois, finalmente, a RTP1. Irá com isso melhorar a qualidade da programação? Provavelmente, não. Mas também não se notará grande diferença. E 300 milhões de euros do erário público por ano é um luxo a que um país remediado não se pode dar.
«Sol» de 18 Jun 11

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1 Comments:

Blogger GMaciel said...

Subscrevo, ponto final parágrafo!

21 de junho de 2011 às 15:05  

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