26.5.11

Tristeza

Por João Paulo Guerra

OS PORTUGUESES são dos europeus mais tristes com a vida que levam. O índice é da OCDE e agrega 11 tópicos que vão das condições materiais à qualidade de vida e à satisfação com a governação. Tudo apurado, apenas 36 por cento da população portuguesa se sente bem com a vida que leva. E não se diga que isto é da crise. Essa percentagem sobe para 43 por cento entre os gregos, 49 por cento em relação aos espanhóis, 73 por cento no que respeita aos irlandeses.

Esta é a verdadeira sondagem quanto à realização das aspirações dos portugueses. As intenções de voto são influenciadas pelo circo eleitoral, pelo arsenal dos preconceitos e das ideias feitas, e impostas pela manipulação, e pelo arraial de promessas jamais cumpridas, sem que o incumprimento seja de algum modo penalizado, desde que coberto por novas promessas.

A maioria dos portugueses vive num continente de insatisfação coabitando com os húngaros e polacos, os estónios e turcos, nos antípodas de dinamarqueses, suecos ou holandeses. Mas esta não é uma divisão entre Europa do Norte e do Sul. É uma discriminação entre a dignidade e a apagada e vil tristeza.

Tanto bastava para condenar a sucessiva governação do País. Mas no mesmo dia em que o índice da OCDE sobre a satisfação com a vida saiu nos jornais, páginas adiante ficou a saber-se também que um quarto da população assalariada está disposta a emigrar. Este foi um índice que mediu, durante muitos anos, os resultados da política portuguesa em ditadura, que não permitia outras formas de auscultação. Um país de onde um quarto da população activa está pronta a fugir representa um libelo contra uma política sem horizontes. O mais dramático é que o alterne da democracia formal não resolve a questão da tristeza dos portugueses.
«DE» de 26 Mai 11

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