19.4.11

Troika

Por João Paulo Guerra

O PRÓXIMO chefe do governo que emanar da Assembleia da República eleita a 6 de Junho pelos portugueses vai ser um mero encarregado de negócios para Portugal, um oficial às ordens ou, mais propriamente, uma ordenança do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. As condições do resgate da dívida são leoninas e colocam Portugal como uma província não autónoma da Troika que passa a mandar no país: o FMI, do dr. António Borges, a Comissão Europeia, do dr. Durão Barroso, e o Banco Central Europeu, do dr. Vítor Constâncio. Nenhuma medida com impacto orçamental pode ser aprovada e aplicada em Portugal sem a aprovação da Troika. Em lugar do "visto e aprovado" do Conselho de Ministros e do "Publique-se" do chefe de Estado, o que passa a valer é a rubrica de um burocrata de Bruxelas, um gestor da conta de Portugal.
Já o escrevi nesta coluna e reafirmo: durante a ocupação dos Filipes, entre os séculos XVI e XVII, Portugal teve um governador-geral com autonomia, e apenas as funções de representação do Estado cabiam ao rei de Castela, que era simultaneamente rei de Portugal. Mas a independência do território em questões de governação era incomparavelmente mais ampla e autónoma do que tem sido com a União Europeia - pior ainda na comunidade dos países do euro pois, com os Filipes, Portugal sempre cunhava a própria moeda - e agora com a Troika dos prestamistas, aos quais os decisores portugueses vão alegremente empenhar a independência do país e até a autonomia do seu governo.
Estamos a voltar rapidamente e em força aos tempos negros em que um burocrata se apresentou ao grande José Carlos Ary dos Santos, ostentando a qualidade de representante credenciado do Estado português, e ouviu do poeta a pergunta indignada: "E não tem vergonha?".
«DE» de 19 Abr 11

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2 Comments:

Blogger Táxi Pluvioso said...

Vai ser bonito vai. E a campanha eleitoral ainda mais. Já se vê uns toques com um cabeça de lista a dizer que não conhece o programa do partido (e isso também não interessa, nem aos concorrentes, nem ao povo, que deve votar como sempre, por camisola clubística).

Ao menos faremos História mais uma vez, o povo fazedor de História marca outra vez o mundo como as naus catrinetas: pela primeira vez na História as promessas eleitorais serão cumpridas: descerão salários, pensões, 13º e 14º meses etc. etc.; no final da legislatura ninguém acusará o Governo de não cumprir as promessas: alguém se lembra dos "150 mil postos de trabalho"? boa semana

20 de abril de 2011 às 04:17  
Blogger Bartolomeu said...

http://avancando.blogspot.com/2011/04/plano-para-salvar-economia-portuguesa.html

21 de abril de 2011 às 08:17  

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