12.2.11

«A Quadratura do Circo» - «O espantoso comprimido»

Por Pedro Barroso

ERA SUPOSTO que a grande diferença entre a Ditadura e a Democracia fosse a vergonha dos déspotas.
Mas, ultimamente, nesta nossa Democracia, ela perdeu-se.
Os cursos tirados ao domingo ou os Master's da treta? Não faz mal. É tudo boa gente.
Os escândalos e favorecimentos? Não faz mal, é tudo boa gente.
Os submarinos e as luvas? Não faz mal, é tudo boa gente.
o Freeport, o Godinho, a Casa Pia? Não faz mal, é tudo boa gente.
A reforma da mãezinha, as escutas destruídas? Não faz mal, é tudo boa gente.
O país encaminhado para o abismo de uma dívida incurável? Não faz mal, é tudo boa gente.
Temos o gasóleo mais caro? o IVA a 23%? os abonos a diminuir? Não faz mal, é tudo boa gente.
Vive-se no desprezo mais elementar pela Cultura? No autismo face à pobreza e encerramento de lojas, do pequeno comércio, de fábricas, face à falência de pequenos e médios empresários? Não faz mal, é tudo boa gente.
Gerimos mal no tempo das vacas gordas, e hoje desaparecerem biliões, falindo Bancos? Não faz mal - nós pagamos! Somos todos gente boa!

Era suposto que um só destes casos já fosse Watergate mais que suficiente para a demissão destes artistas.
E contudo.
Em Portugal, a actual Democracia comporta-se como uma oligarquia de eleitos em circuito fechado. Iluminados intocáveis.
A Ditadura tinha de nome Estado Novo.
Agora esta Democracia tem de nome Este Estado.
Na outra altura não podíamos falar, pois já sabíamos que éramos presos, torturados, sei lá que mais.
Hoje não; porque é tudo boa gente.
Podemos provar que mentem, forjam diplomas, inventam motivos, perdoam dívidas, promovem amigos, afundam o país.
Podemos pôr tudo escarrapachado nos jornais, na rádio, na TV, onde quer que seja.
Eles no dia seguinte lá estão, vestidos impecavelmente de cinzento, elegantes, sorridentes, inaugurando, explicando os esforços da classe dirigente e a ingratidão das massas que não compreendem o seu denodo infatigável em combater a crise.

Chega-se a uma conclusão. Devem tomar o mesmo comprimido da estória da diarreia que afligia o pobre paciente:
- O senhor parece muito melhor, mais satisfeito -, perguntou o médico. - Sente-se melhor, não é verdade?
- Eu não, senhor doutor! Nada, mesmo! Mas aquele comprimido que o senhor me deu faz-me um efeito fantástico! É que continuo com diarreia do piorio; só que agora já não me importo, quero lá saber!

Até quando andaremos a levar com as diarreias desta medonha, obsoleta e ridícula classe política?...
A solução afinal, se calhar, pode estar mais na nossa mão do que pensamos.
Porque, ao que parece, se estamos à espera de vergonha... eles tomam todos os dias o comprimido e já nada sentem na consciência.

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5 Comments:

Blogger GMaciel said...

É por isso que está mais do que na hora de trocar o comprimido por um supositório. Bem grande.

12 de fevereiro de 2011 às 18:51  
Blogger Bmonteiro said...

«a actual Democracia comporta-se como uma oligarquia de eleitos em circuito fechado»
Pois. Deu origem a uma Nova Classe,
semelhante à "Nova Classe" da Jugoslávia de Tito (livro de Milovan Djilas).
Ora, estando o poder nas mãos da Nova Classe, que pode esperar-se de diferente, se não a manutenção de um stato quo que lhes vai permitindo continuar a enriquecer?
Um dos seus arautos, pelo que oiço numa TV noutra parte da casa, é o PM que temos.

12 de fevereiro de 2011 às 19:01  
Blogger José Batista said...

Um dia destes passamos a andar com ovos ou tomates nas algibeiras e desatamos a atirá-los a quantos políticos encontrarmos?
Ou atiramos-lhes com sapatos (mas isso deixava-nos ainda mais descalços...)?
Ou perdermos de vez e de todo a vergonha e passamos a cuspir-lhes em cima, onde quer que os topemos?
Ou combina-se um dia e saímos de casa à "caça" aos políticos que tão zelosamente nos roubam?
Ou, sempre que passarmos por eles, ou eles por nós, gritamos: "agarra que é ladrão!"
Ou, optamos antes por gritar: "acudam, acudam, que posso ser roubado!"
Ou fugimos "atropeladamente" deles?...
Ou?
Ou?
Ou?...
Ou, sendo o anterior tão inadmissivelmente mau, limitamo-nos, como se fôramos crianças, a tirar-lhes a língua?...
Bolas, não há procedimento à altura do que eles merecem...
Desisto.

12 de fevereiro de 2011 às 21:58  
Blogger Fenix said...

Será possível passar de uma Democracia Representativa (que afinal não nos representa) para uma Democracia Directa sem ter que usar a violência?

Não estou a ser irónica. Sou leiga em política mas estou disposta a ser interventiva para uma mudança.

Cumprimentos
Ana Almeida

12 de fevereiro de 2011 às 22:50  
Blogger brites said...

regresso ao passado,nunca!
fui companheira de luta,ingénua,ignorante e inexperiente.
hoje,nao,obrigada!

13 de fevereiro de 2011 às 09:50  

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