26.2.11

"Não mexam nos meus pedais!"

Por Ferreira Fernandes

ONTEM, os jornais espanhóis online viram as suas caixas de comentários encher-se de barricadas: "No pasarán!" E o que levou a tanta revolta? O Governo acabava de anunciar que daqui a dias a velocidade máxima nas auto-estradas espanholas passará de 120 km/h para 110. Julgando que só o dinheiro motivaria os cidadãos, o ministro Pérez Rubalcaba (o braço direito de Zapatero) adiantou a poupança a que levaria a diminuição da velocidade: menos 18 milhões de barris de petróleo importados por ano. Mas isso sendo despesas públicas, e pouco interessando, logo ele passou para as vantagens pessoais de cada condutor: poupança de 11% no consumo de gasóleo e de 15% de gasolina (parece que a máxima eficiência energética dos automóveis é à volta dos 90 km/h, a partir daí havendo cada vez maior desperdício). Então, garantiu o ministro, com aquela anunciada queda de 10 km/h ganhava-se uma média de 7 euros, economizados de cada vez que se enchia o depósito... Tão seguro estava Rubalcaba do efeito cenoura desta poupança, que anunciou a medida já para o dia 7 de Março e mandou pôr autocolantes nos sinais de trânsito, emendando o antigo "120" para o próximo "110"... Porém, a reacção dos leitores dos jornais espanhóis mostra que, mais que lhes mexam no bolso, incomoda-os que lhes mexam nos pedais. Os cidadãos ganham certas manias que é prudente aos governos terem em conta.
«DN» de 26 Fev 11

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7 Comments:

Blogger Ribas said...

Será que o governo espanhol fez contas ao tempo que se vai levar a mais para atravessar o país (que não é nada pequeno)?
Quanto à poupança, não deveria, cada espanhol, poder escolher a condução que mais se adeqúe à sua capacidade financeira?
Não é com estas justificações que o governo vai mobilizar os espanhóis para a poupança de combustível.
Que tal uma campanha séria e pragmática!
Os espanhóis não gostam de tretas.

26 de fevereiro de 2011 às 14:53  
Blogger Ribas said...

Este comentário foi removido pelo autor.

26 de fevereiro de 2011 às 14:53  
Blogger JARRA said...

Andando-se mais devagar, passa cada viagem a demorar mais tempo, aumentando-se o congestionamento das estradas, com consequências certamente também negativas!
Mais trânsito, mais demoras, mais consumo de combustível ...
A engenharia social não é tão fácil como pensam os políticos. Agora se estão a pensar no que vão ganhar em multas, podem ter razão ...

26 de fevereiro de 2011 às 17:46  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Na realidade, a velocidade óptima (em termos de fluxo de tráfego) não é fácil de obter. E isso sucede devido a um paradoxo: aumentando-se a velocidade, o espaço entre carros aumenta também. Assim, em vias de muito tráfego, a uma velocidade maior nem sempre corresponde um débito (n.º de veículos/hora) maior.

Há ainda um outro dado a reter:

No caso de navios e aviões (em que a resistência do fluido é o principal obstáculo a vencer), o consumo sobe na proporção do cubo da velocidade.
No caso dos carros, não é só a resistência do ar que conta. Se fosse, também aí se aplicava o mesmo cálculo:

Potência=Força x Velocidade

Quando a força a vencer cresce com o quadrado da velocidade, o consumo é proporcional à 3ª potência - como muito bem sabe quem, na estrada, passa de uma condução de 90 ou 100 km/h para outra de 120 ou mais.

Mas estou de acordo que não é preciso impor nada, pois o bolso do freguês leva-o rapidamente a concluir isso - mesmo sem quaisquer conhecimentos de matemática nem de física:
Eu faço muitas viagens longas (nomeadamente pela A1, A2 e A23), e noto que o nº de carros que passam a 'velocidade de avião' baixa muito sempre que há aumentos bruscos dos preços dos combustíveis...

26 de fevereiro de 2011 às 18:43  
Blogger beijokense said...

Despesas públicas? Gastar mais gasolina não aumenta a despesa pública, aumenta a receita fiscal.

26 de fevereiro de 2011 às 19:10  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Beijolense,

É verdade. Em termos imediatos, mais consumo traduz-se em mais impostos.
Mas se esse consumo é de um bem importado, passa a ser gravoso para a balança de pagamentos.

Os países em crise, como os "periféricos" de que tanto se fala, precisam ABSOLUTAMENTE de aumentar as exportações e de reduzir as importações. E isso, tendo implicações de longo prazo (a dívida é coisa para dezenas de anos), sobreleva a vantagem imediata da receita.

Há um aparente absurdo, muito semelhante, quando o Estado depende do imposto sobre o tabaco e ao mesmo tempo luta contra os fumadores. Há um balanço que é preciso fazer entre as receitas de curto prazo) com o imposto e as despesas de médio e longo prazo (com a saúde).

É para gerir esses difíceis equilíbrios que existem políticos e governantes. O que sucede é que, muitas vezes, eles "navegam à vista", preocupando-se com os juros de hoje e com as contas do trimestre actual (esquecendo o longo prazo).

26 de fevereiro de 2011 às 19:31  
Blogger beijokense said...

De acordo. Apenas quis notar que o escriba escolheu mal os conceitos. Até dava a ideia de que seria o Estado a pagar os 18 milhões de barris...

26 de fevereiro de 2011 às 21:19  

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