19.1.11

Suíça

Por João Paulo Guerra

NÃO SEI se Julian Assange anda à procura de alguma modalidade de suicídio assistido. Mas o anúncio prévio de que, dentro de duas semanas, o Wikileaks vai divulgar informação bancária secreta ilegal de dois mil clientes, recolhida por um ex-funcionário de um banco suíço nas ilhas Caimão, deve estar a perturbar muita gente por todo o mundo.

O dinheiro das economias subterrâneas, o dinheiro em fuga aos impostos, o dinheiro sujo de negócios sujíssimos é mais do que o Mundo precisaria para erradicar a fome e a ignorância. Mas basta ler "Um traidor dos nossos", o mais recente livro de John Le Carré, cujas obras de ficção têm sempre um imenso fundo de verdade, para se vislumbrar quão misteriosos e labirínticos são os circuitos da lavagem de dinheiro. Há triliões provenientes dos mais obscuros tráficos a bom recato nas contas ‘offshore'. Mas o que Carré nos insinua no mais recente livro, e que muito provavelmente corresponde à realidade, é que a fronteira entre o dinheiro sujo e limpo está praticamente abolida em certos patamares do poder. E que as fortunas a bom recato - das crises, das oscilações dos mercados, das revoluções, das leis - dão imenso conforto a ditadores corruptos e a ‘gangsters' para que sigam descansados as suas vidinhas.

O anúncio de Assange terá causado alguns tremores até mesmo em Portugal. Já lá vão os tempos em que exportar divisas à candonga era um negócio chorudo. Agora é o tempo dos rendimentos não declarados, lucros resultantes das somas de constantes "prejuízos" e de fundos perdidos, milhões postos a salvo de percalços... e do Fisco, dinheiro de origem inexplicável. Este continua a ser o país onde a pista do dinheiro dos casos de corrupção acaba invariavelmente à porta de uma conta ‘offshore'. Duas semanas. Talvez haja surpresas.
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«DE» de 19 Jan 11

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1 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

"Talvez haja surpresas". Espero bem que sim.

20 de janeiro de 2011 às 00:29  

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