24.1.11

Esquerda desfeita, direita satisfeita!

Por Alfredo Barroso

HÁ, HOJE, uma diferença fundamental, cada vez mais evidente, entre a Direita e a Esquerda: enquanto a Direita identifica sempre sem qualquer dificuldade os seus interesses comuns, pondo de lado as suas divergências, a Esquerda identifica sempre com toda a facilidade as suas divergências, ignorando os seus interesses comuns.

Desde Blair e o «New Labour», e de Schröder e o «Novo Centro», a esquerda social-democrata europeia aderiu aos princípios e métodos do neoliberalismo, em nome da globalização – e deixou de pensar em verdadeiras alternativas políticas, económicas e sociais consistentes e credíveis. Em suma: deitou pela borda fora os princípios básicos da social-democracia genuína, esbatendo quase por completo as diferenças que a separavam da direita.

Em Portugal, a degradação, decadência e deliquescência dessa esquerda social-democrata, representada pelo PS, começou com Guterres e consolidou-se com Sócrates. Claro que a culpa não é só do PS. Mas o socialismo democrático já não vai além da mera retórica.

E agora foi mesmo um ar que lhe deu! Esquerda desfeita, Direita satisfeita!

É cada vez mais evidente que a Esquerda, no seu conjunto, vai ter de armazenar muita água para a longa travessia do deserto que tem pela frente… Como os camelos!

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4 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

A atracção pela divisão, que o autor refere no início do texto, não é de agora.

Remontemos, p. ex., às des-stalinização da URSS, que conduziu às divergências ideológicas entre soviéticos e chineses:
De imediato, e por todo o mundo, os comunistas se cindiram.
Em Portugal, saíram do PCP os "maoístas" que, por sua vez se dividiram e sub-dividiram até à pulverização.

Se, em 1958, ainda foi possível unir a Oposição portuguesa em torno de Humberto Delgado, já em 1969, para as "eleições" legislativas, a Oposição não se conseguiu unir: tivemos a CDE (apoiada pelo PCP) e a CEUD (apoiada pelo PS).

Em Portugal, a Direita não precisa de promover o «dividir para reinar»: a Esquerda fá-lo de livre vontade, e com todo o gosto.
Veja-se como Fernando Nobre comentou o resultado de ontem: «Foi uma vitória extraordinária!».

Não era Pirro que dizia: «mais umas vitórias como esta, e estamos tramados!»?

24 de janeiro de 2011 às 14:12  
Blogger SLGS said...

O que acontece em Portugal é que aqueles que deveriam ser os "moralizadores" e até estabilizadores da esquerda, dita democrática, sempre tiveram mais apetência para "pender" para a direita, não imagino (ou não quero imaginar) por que razão.
Discordo de Alfredo Barroso quando diz:
"...começou com Guterres e consolidou-se com Sócrates".
Eu diria:
começou com Mário Soares, quando se aliou ao CDS e "meteu o Socialismo na gaveta.

24 de janeiro de 2011 às 16:42  
Blogger Unknown said...

Acho o texto do Alfredo Barroso notável, na linha dos que habitualmente escreve. Mas, desta feita, é realmente notável.
Muito obrigado, Alfredo.

24 de janeiro de 2011 às 18:37  
Blogger António Viriato said...

Quem diria que acabo de concordar com os três primeiros parágrafos do artigo de Alfredo Barroso, de uma forma quase integral.

Esatrei equivocado ou Alfredo Barroso terá recuperado a lucidez, visivelmente turbada em alguns dos anteriores artigos aqui publicados ?

Melhor assim, que voltamos a contar com um meritório cronista, saudavelmente demarcado da clique socrática que tomou conta do PS, aparentemente sem encontrar significativa oposição interna, silenciada pelas maiorias entretanto por aquele conquistadas.

Está na altura de expurgar a nefasta criatura do lugar de destaque a que deslumbrado ascendeu.

Ou não restará na agremiação um punhado de socialistas ou social-democratas com um pingo da velha doutrina ou da antiga vergonha ?

27 de janeiro de 2011 às 23:31  

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