25.12.09

Mudam-se os tempos

Por Joaquim Letria

QUE ESTEJAM A PASSAR um Santo Natal, na companhia de todos os vossos entes queridos e na paz do Senhor! Eu não poderia ter mais paz, a olhar para uns preciosos álbuns de pintura que fizeram o favor de me oferecer com a amabilidade da pia desculpa de que não se sabe o que se pode oferecer a quem tem tudo.

Passo assim este Natal a desfrutar o chilrear dos netos e a descobrir que a pintura espanhola nem sempre foi do agrado dos britânicos, o que explica a pobreza da sua presença nas boas colecções inglesas onde praticamente se encontrava vetada em detrimento de Whistler e Gainsborough.

Os britânicos interessavam-se muito mais pelas paisagens destes pintores do que pelas caveiras, os sepulcros e as cruzes dos Anos do Ouro. El Greco, Murillo e Zurbarán foram mesmo ridicularizados pela deformação dos seus personagens e por aquilo que lhes imputavam como sendo “o culto da miséria e da morte”.

Interessante como na pintura os britânicos procuram hoje aquilo que, para eles, dantes era demasiado sombrio, demasiado misterioso, demasiado austero, demasiado católico e chegam ao ponto de descobrirem influências de Velazquez em Hazlitt, em Millais e em Whistler. Mudam-se os tempos…
«24 horas» de 25 de Dezembro de 2009

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