22.11.09

Espiões

Por João Paulo Guerra

O telefone não pára de tocar. Devo ter caído no ‘mailing’ de alguma central de contra-informação e a toda a hora recebo alertas angustiados sobre o caso das escutas por dentro do caso Face Oculta.
CHEGAM SEM REMETENTE e interrogam-se em aflição: "O que é que eles saberão mais?". Ou: "Haverá mais alguém escutado?". O ambiente é de romance de espionagem.

O jornal "El País", que como se sabe é propriedade de um grupo editorial de uma família ideológica e política aparentada com o "nosso" PS, escreveu sobre o caso das escutas dentro do processo Face Oculta designando-o por um "jogo de espiões". Mas quanto a jogos de espiões é francamente preferível o último romance de Robert Wilson, no cenário de corrupção transnacional entre Sevilha e Marbella, com ramificações para a Máfia russa e derivas para fundamentalistas do Magrebe.

Por cá, como diz a reportagem de "El País", o caso de corrupção subjacente a toda a embrulhada, ora, é mais um em Portugal, "el enésimo". A grande questão é que o primeiro-ministro ‘no salía bien parado' de conversas com ‘un ex político y banquero de dudosa integridad'. Mas o jornal da Prisa - grupo que, por sinal, também constará das conversas escutadas, gravadas e divulgadas - arruma a questão como mais um duelo de suspeições transformadas em "armas de arremesso". Mas de arremesso entre quem? "El País" escreve que os casos de escutas em Portugal ‘salpican a Sócrates y Cavaco'.

Estava neste ponto da escrita do texto da coluna, a reflectir sobre "salpicos", quando tocou mais uma vez o alerta de mensagens no telefone: "Já existem cópias de conversas em poder da comunicação social". Há gente mergulhada num pânico de tal ordem que ainda começa a falar sem que alguém lhe faça perguntas.

«DE» de 20 Nov 09

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