20.9.09

Sombra

Por João Paulo Guerra

Aqui há uns anos, ao sair do cinema onde tinha visto o filme “Wag the dog” (“Manobras na Casa Branca”, em português), um jovem casal comentava atrás de mim: “Como se isto fosse possível”.

O FILME DO REALIZADOR Barry Levinson, datado de 1997, conta a história de um “spin doctor” (Robert De Niro) que contrata um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman) para “fabricar” uma “guerra” com vista a esconder um escândalo sexual que envolvia um presidente em processo de reeleição. Ou seja: o filme mais parecia um documentário da política americana dos últimos anos mas o ingénuo casal português comentava: “Como se isto fosse possível”.

Recordo o episódio a propósito da publicação do livro “Fontes Sofisticadas de Informação”, da autoria de Vasco Ribeiro, ex-assessor de imprensa e actual docente de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Conclui o autor que só um terço do noticiário político publicado em Portugal resulta da iniciativa das redacções dos jornais. Mais de 60 por cento das notícias analisadas resultaram de indução por parte de assessores de imprensa, relações públicas, consultores de comunicação, porta-vozes e outros peritos em 'spin doctoring'. E os leitores, por regra, não detectam a intervenção de tais técnicos.

As notícias analisadas aleatoriamente pelo autor foram publicadas nas páginas de política do Público, Diário de Notícias, Correio da Manhã e Jornal de Notícias entre 1990 e 2005. Imagino que uma amostragem recolhida em tempo de eleições daria resultados bem mais escandalosos sobre a manipulação, a propaganda, os recados disfarçados de notícias. E sobre a ingenuidade dos que votam para continuar a ser enganados. Manipulação? Notícias da sombra? Como se isso fosse possível!

«DE» de 18 de Setembro de 2009

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