26.9.09

Em dia de reflexão

Por Alice Vieira

PARA QUEM AGORA me está a ler, hoje é sábado, dia 26 de Setembro, e o país está em período reflexivo porque amanhã vai a votos.

Mas eu estou a escrever nove dias antes do domingo das eleições.

Eleições que espero (como espero sempre…) que sejam muito participadas, com grandes filas nas assembleias de voto, com as pessoas todas motivadas a deitar nas urnas a expressão da sua vontade, seja ela qual for, incluindo a de fazer um grande risco no boletim, a liberdade também é isso.

Só não percebo muito bem a “liberdade de não votar”.

Talvez porque vivi muitos anos sem poder livremente votar em quem muito bem entendesse, não percebo como se pode desperdiçar um bem pelo qual tanta gente lutou tanto.

Tenho realmente dificuldade em aceitar os que viram a cara e dizem “não tenho nada a ver com isso, estou de costas”. Sobretudo — e isso cada vez é mais frequente — quando se trata de gente nova. (...)

Texto integral [aqui]

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6 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Diz a Alice:

«Talvez porque vivi muitos anos sem poder livremente votar em quem muito bem entendesse, não percebo como se pode desperdiçar um bem pelo qual tanta gente lutou tanto»

É um pouco como o indivíduo que passou fome em criança e, 35 anos mais tarde, ainda não percebe como é que há gente que faz dieta.
Mas o que é que isso tem de estranho?
Essa mesma pessoa pode, perfeitamente, não lhe apetecer comer o que, um dia ou outro, lhe põem à frente.

Ou pode querer fazer greve da fome.
Ou pode estar doente do estômago.
Ou... ou...

--

Eu também sou sócio da Associação dos Inquilinos Lisbonenses e nunca votei nas respectivas eleições (que suponho que existem).
E depois?!

E nos casos em que só há uma lista?

Claro que, sempre que possível, voto (mesmo que, de vez em quando, seja em branco).

Mas o "direito a não votar" também existe.
«Na dúvida, abstém-te», dizia Aristóteles.
«Quem se abstém, delega em quem vota». Se entender que deve atribuir essa "delegação", qual o problema?

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Finalmente:

Perante o nível da actual vida político-partidária (e o espectáculo tristíssimo que se vê), compreendo perfeitamente o desinteresse de muito jovens.

Como é que um jovem mentalmente saudável pode ter pachorra para ouvir uns quantos políticos em que eu estou a pensar (e cujos nomes não digo, pois hoje é dia de reflexão)?

26 de setembro de 2009 às 09:08  
Blogger R. da Cunha said...

Já várias vezes manifestei (e provavelmente também aqui) a minha opinião sobre o assunto: não entendo a abstenção. Dir-me-á que é uma outra forma de manifestção de vontade; não vou por aí. Entendo (e já os usei) os votos nulo ou em branco. Se calhar, quem não se dá ao trabalho de ir votar é quem mais protesta com os governos que lhe saem na rifa.

26 de setembro de 2009 às 12:57  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Algumas 'dicas':

1 - Durante muitos anos, fui adepto de um determinado clube. Pagava as quotas, ia aos jogos, etc.

Mas, quando havia eleições para os órgãos dirigentes, não me sentia atraído por nenhum candidato.

Aliás, os meus conhecimentos sobre o assunto não me permitiam fazer uma escolha criteriosa. Assim sendo, eu estaria a ser mais desonesto se votasse em alguém (pois estaria a fazê-lo "a olho") do que me abstendo.

Sucedeu o mesmo quando fui sócio do ACP, etc.

A máxima «Na dúvida, abstém-te» faz todo o sentido se for uma atitude reflectida e consciente.

2 - É, precisamente, por a abstenção ser um bom indicador da qualidade dos políticos (e da política) que eles ficam nervosos quando ela é alta.

Veja-se como a abstenção baixa quando as escolhas são interessantes (e importantes), e como sobe quando o que está em causa não interessa.

3 - Note-se que, em termos práticos, nada é feito para combater a abstenção. Refiro-me ao voto electrónico ou ao (menos problemático) voto por correspondência, antecipado, etc.

A minha mulher está, neste momento, a 220km de casa devido a doença da mãe. Terá de vir a Lisboa amanhã e daqui a 2 semanas (e regressar) se quiser votar!

O meu filho é professor. Como anda de terra em terra (e não pode mudar de residência de 3 em 3 anos), tem de se deslocar também. Está a mais de 300 km de casa...

No séc. XXI isso tem algum jeito?!

26 de setembro de 2009 às 13:34  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Eu julgo (mas já não garanto nada...) que tenho o direito de entrar numa loja e, depois de ver o que há, comprar alguma coisa ou sair sem comprar nada.

Isso não quer dizer que ache que os produtos sejam maus (dentro da metáfora, equivaleria ao "voto em branco"). Significa apenas que nenhum me "convenceu" (equivale a "abstenção").

E se o vendedor tiver a lata de me vir dizer que "sou obrigado a escolher qualquer coisa, porque, de contrário, estou a sabotar o pequeno comércio"... não sei mesmo se lhe responda.

26 de setembro de 2009 às 14:13  
Blogger R. da Cunha said...

Caro CMR
A sua argumentação é escorreita, mas não me convence. Isso de entrar numa loja e nao comprar porque lhe não agrada, é o que todos fazemos. Mas, se temos que comparar o bem ou serviço, vamos a outra loja atá que o encontremos. O mesmo diria de um restaurante, que não tem ementa ou preço que me interessem. É verdade que é raro votar no ACP e noutras associações de que sou membro, a maior parte das vezes porque tenho que o fazer por correspondência, com fotocópia do BI e outras chatices. Aqui, o problema parece-me mais importante e mais grave. Além de que a abstenção tem várias razões, atendíveis umas, outras nem tanto e nunca se consegue medir a abstenção de protesto, que o voto branco ou nulo quantificam.
Estou de acordo com a atribuição de um número nacional de eleitor e que o voto possa ser exercido em qualquer lugar, salvaguardado que seja o sigilo e se evitem fraudes.
Este é um daqueles assuntos que merece uma boa discussão, cuja arena não pode ser esta, como é óbvio.

26 de setembro de 2009 às 17:44  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Há países em que o voto é obrigatório - como a Itália, p. ex.

Sendo isso possível, então porque é que em Portugal nenhum partido propõe isso? E porque é que nenhum movimento de cidadãos faz uma petição nesse sentido?

Porque as pessoas sentem que uma coisa é o direito de votar, e outra seria a obrigação de o fazer.

Eu não digo que não vou votar.

O que digo é que existe o direito de não votar em nenhum partido, como existe o direito de não ter nenhum clube ou nenhuma religião.

-

Em termos de jovens (que é o que a Alice refere, nesta sua crónica), coloquemo-nos na pele deles:

Eu compreendo que muitos não queiram gastar tempo a escolher entre os pândegos que actualmente lhe põem à frente - algo entre MFL e Louçã (passando pelas outras "encomendas" todas).

«Mal-menor? Mas qual deles é o mal menor?! Chiça!»

Ultimamente, quando ligava a TV, JÁ NEM OS PODIA VER À FRENTE!!

26 de setembro de 2009 às 18:07  

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