30.5.09

Quem faz e quem deixa fazer

Ilustração de Gustave Doré para D. Quixote de la Mancha
DESDE os primórdios das sociedades organizadas que as leis que as regem convivem com duas realidades opostas: os que as violam e os que têm por missão evitar que isso suceda. Daí que, quando há um ilícito qualquer, não falte quem aponte culpas, também, a quem o deixou cometer - muito especialmente se a sociedade paga a esses fiscais para, como profissão a tempo inteiro, se dedicarem a essa actividade.
Vem este arrazoado todo a propósito das irregularidades que têm afectado alguns bancos, por esse mundo fora. E, como se sabe, não falta quem peça a cabeça de Vítor Constâncio devido ao que, nesse domínio, se tem passado em Portugal.
Ora, tendo sido feita essa abordagem na passada «Quadratura do Círculo», António Costa respondeu da seguinte forma (cito de memória): «Não há dúvida que, tanto nos casos actuais como no do BCP, houve falhas na supervisão. Mas querer punir o supervisor é o mesmo que querer prender um polícia (em vez do ladrão) por não ter impedido um roubo».
Pois bem, esse exemplo é óptimo!: se foi por incompetência que esse polícia não agiu, ele não deverá ser preso, mas certamente deverá ser afastado das suas funções, porventura mandado lavar carros-patrulha ou varrer o chão lá da esquadra.
Mas o certo é que isso é um bom pretexto para mais um passatempo com prémio:
*
NA IMAGEM, vê-se Sancho Pança a administrar justiça na sua ilha. Num desses julgamentos, confrontado com uma queixa de uma mulher, ele aplica uma filosofia que contraria a argumentação de António Costa. Pergunta-se: o que é que estava em causa, e como é que o conflito foi dirimido?
Actualização (20h18m): a resposta certa já foi dada por 'Mg'.
Já agora: ainda dentro do tema «a responsabilidade de quem deixa fazer», veja-se o que se passa mesmo à porta da minha casa, e depois digam-me se aquela rapaziada 'que deixa fazer' não está mesmo a pedir uma boa rabecada - [v. aqui]...

3 Comments:

Blogger Mg said...

Resumidamente:
a mulher queixava-se que havia sido abusada por um pastor rico, e que havia, em consequência disso, perdido a sua virgindade.

O pastor nega e declara que pagou pelo "serviço".

É ordenado ao pastor pague à mulher determinada quantia. Após esta sair do Tribunal, ordena-se-lhe que corra atrás dela e lhe roube o dinheiro entregue.

A mulher resiste ao assalto.

De volta ao Tribunal, o dinheiro é entregue ao pastor.

Se a mulhjer defendeu com garra e valentia um punhado de moedas, também deveria ser capaz de defender a sua virgindade...

30 de maio de 2009 às 20:09  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Mg,

OK, trata-se do Cap. XLV do volume II, e o prémio é seu...

30 de maio de 2009 às 20:17  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pode ser que a história do julgamento do porqueiro não se adapte 100% ao que está em causa.

Mas a ideia subjacente (a responsabilidade de quem deixa fazer algo, tendo tido possibilidade de o impedir) não anda muito longe - e achei que ficava bem aqui.

30 de maio de 2009 às 22:05  

Enviar um comentário

<< Home