30.4.09

78 horas

Por João Paulo Guerra
Mais de um século após as greves de Chicago de 1886 pela conquista da jornada de 8 horas de trabalho, consagrada quatro anos depois e que institucionalizou o Dia Mundial dos Trabalhadores no 1º de Maio, a Europa, berço da civilização, da democracia e dos Direitos do Homem, abre a porta à semana de trabalho de 78 horas.
POR ESTE ANDAR, não tardará que sejam derrogadas a semana de seis dias de trabalho, depois cairão as jornadas de 10, de 13, de 18 horas. Mais uns anos e teremos restaurada a escravatura.
A possibilidade da derrogação até às 78 horas, para a qual a Europa se encaminha atrelada a países do Leste recentemente e à pressa reciclados para a democracia, representa um retrocesso de mais de um século na legislação laboral e nos Direitos Humanos. Seria uma vergonha, se o neoliberalismo de uns e o "socialismo" ou "trabalhismo" de outros tivessem pinta de vergonha na cara. Não têm.
O neoliberalismo é uma praga muito pior que a gripe suína: para além de ter promovido e dado cobertura à delinquência financeira - dos "ladrões" como lhes chama D. Januário - que colocou o mundo à beira do colapso, reduziu os Direitos Humanos a miragens anteriores à Revolução Francesa. Como se não bastasse, tem dizimado os recursos da Terra e envenenado o ambiente.
A questão é que o neoliberalismo, só por si, não teria forças para tamanha cruzada. Foram necessárias muitas cumplicidades para que a ideologia neoliberal conseguisse pôr em prática o projecto para desarmar os estados e os enquadramentos legais de maneira a potenciar a rapina e a exploração. Os neoliberais fazem o seu papel e não enganam ninguém. Mas pelas leis do mercado, os seus cúmplices deveriam ser julgados e condenados por publicidade enganosa.
«DE» de 30 de Abril de 2009

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3 Comments:

Blogger Luís Bonito said...

Mais uns anos e teremos restaurada a escravatura?
Penso que basta ir aos "call centers", supermercados, etc, para ver que ela já existe...
Abraço

30 de abril de 2009 às 18:24  
Blogger António Rafael said...

Hoje quem é que faz 8 horas diárias de trabalho?
Com crise ou sem crise só é possível dar trabalho a 50% da população.
A educação dos filhos está entregue a instituições.
Os pais (os dois) quase só vêem os filhos aos fins-de-semana.
Manifestamente a sociedade está mal organizada.
Onde param os Sociólogos? Não vêem para onde caminhamos? Há 120 anos lutou-se por uma utopia - 8 horas de trabalho diárias. Onde estão as utopias de hoje, que serão as realidades de amanhã? Os nossos filhos exigem urgentemente fins-de-semana de 3 dias e jornadas diárias de 6 horas. Assim, não seriam necessárias tantas "Lay-off".
Abraços
António Rafael

1 de maio de 2009 às 22:20  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Resposta do autor da crónica ao comentário de A. Rafael:

«Muito bem dito
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2 de maio de 2009 às 15:25  

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