30.4.08

Muito provavelmente, hoje o Sorumbático não terá novos conteúdos, pois o webmaster encontra-se numa biblioteca pública, algures no Portugal Profundo, onde a única ligação à Internet é esta e mal funciona: para conseguir escrever estas linhas teve de penar mais de meia hora, e ainda nem sequer conseguiu abrir o correio... Até amanhã, pois.

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29.4.08

Sinais de decadência política

Por Alfredo Barroso
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VAI LONGE O TEMPO em que a política era, antes de mais, um combate de ideias sustentadas por pessoas. Hoje, a política é, sobretudo, uma disputa entre pessoas com poucas ou nenhumas ideias. É uma luta entre personalidades mais ou menos circenses, que se exibem como imagens de marca e se comportam como actores de telenovela no grande palco mediático em que se representa a política quotidiana.
Os partidos de poder e o próprio Estado transformaram-se, nas últimas décadas, em produtores de espectáculos exibidos em sessões contínuas. A vida política passou a ser uma sucessão ininterrupta de encenações medíocres para entreter telespectadores, e não para esclarecer cidadãos eleitores. Os políticos que aspiram ao poder, no partido ou no Estado, não são mais do que actores que cumprem um guião previamente elaborado por especialistas de imagem, comunicação, marketing e sondagens.
A política está, hoje, reduzida à imagem dos seus protagonistas, quase sempre superficial, ideologicamente indiferenciada e sem substância. O poder político formal, tanto no Estado como nos partidos dominantes, identifica-se com um rosto e um estilo, o corte dos fatos e a cor das gravatas. Não com um programa ou um conjunto de ideias e de políticas públicas. O discurso é oco e «politicamente correcto».
O verdadeiro poder ou poder real já não reside, aliás, nos órgãos de soberania do Estado democrático, designadamente nos Governos e nos Parlamentos, mas em outras entidades e instituições, sobretudo nos grandes grupos económicos e financeiros e nas elites de empresários, gestores e tecnocratas que os dirigem. É no ‘berço’ desses grupos poderosos que os partidos dominantes e os seus dirigentes vão ‘amamentar-se’. E já se sabe que «a mão que embala o berço é a mão que governa o mundo».
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TUDO ISTO É do conhecimento público e explica muito do que se passa nos palcos mediáticos da política. Para quem já o tenha esquecido, aí está, para avivar a memória, o espectáculo delirante e patético proporcionado pela crise em curso no PPD/PSD, como tanto gosta de o designar Pedro Santana Lopes (PSL). Como é hábito, não se discutem políticas, discutem-se pessoas. No palco mediático da crise, nenhum lugar para as ideias consistentes e sérias, todo o lugar para as personalidades e suas idiossincrasias.
É a imagem pessoal dos candidatos, o estilo, a capacidade de atracção mediática de cada um, que interessa pôr em confronto. Não propriamente as ideias e programas que eles venham, eventualmente, a apresentar. Ninguém melhor do que PSL sabe disso. Por instinto ou por cinismo, pouco importa. É exactamente por saber disso que PSL faz tábua rasa do seu currículo e das suas prestações políticas mais recentes com a inocência perversa dos inimputáveis ou, se quiserem, o descaramento dos irresponsáveis.
Pedro Santana Lopes está sinceramente convicto de que foi um bom Primeiro-Ministro e um óptimo Presidente da Câmara. E acha que só não foi ainda melhor porque sinistras forças de bloqueio se conluiaram para lhe tramar a vida e pô-lo no olho da rua. PSL considera-se uma vítima. Mas tem-se em altíssima conta. A sua megalomania já o levou a comparar-se a Sílvio Berlusconi. É o seu mito do eterno retorno.
Como não é multimilionário, nem dono de um império mediático ao seu dispor, PSL supre tais carências fazendo valer o capital mediático constituído pela sua própria pessoa. Tal como Benito Mussolini, modelo de Berlusconi, PSL quer «fazer da própria vida a sua obra-prima». E certamente não desdenharia subscrever estas palavras de Il Duce, escritas já lá vão oitenta anos: «É a maior prova de abnegação que eu poderia dar para edificação dos meus semelhantes: apresentar-me a mim mesmo».
A esta luz, percebe-se melhor o autismo de PSL, que se vê a si próprio como o melhor actor político, o melhor produto mediático à disposição do PPD/PSD, rótulo de uma embalagem sem conteúdo que ele não se cansa de promover em vão. E, no entanto, mesmo que venha a ser derrotado em mais esta corrida para a chefia do partido, poucos duvidam de que hão-de ser os próprios media a ajudá-lo a recuperar de mais um revés. È que o poder mediático precisa de PSL a «andar por aí», para entreter o pagode.
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AO PONTO A QUE ISTO CHEGOU, não espanta o crescente desinteresse pela política e o descrédito que ela suscita. PSL é apenas um epifenómeno, um sintoma que sobrevém numa doença já declarada e que afecta seriamente os partidos de poder em Portugal. No PS também há «casos sérios», mas a maioria absoluta tem servido de cimento às hostes. Já o PPD/PSD, tem o supremo azar de estar na oposição, sem rumo, sem ideias e sem programa desde que o governo do PS se encostou à direita e lhe puxou o tapete.
A decadência da política é consequência de múltiplos factores. A indiferenciação ideológica e a vacuidade do discurso político são certamente os mais chocantes.
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NOTA: As crónicas do autor encontram-se também arquivadas no blogue Traço Grosso

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«Acontece...» - Passatempo com prémio

Por Carlos Pinto Coelho

Desafio: fazer uma legenda-comentário para esta imagem, nela incluindo obrigatoriamente o nome do local onde a fotografia foi feita.
Será premiada (com um livro, como sempre) a melhor frase que vier a ser feita até às 24h de 30 de Abril, quarta-feira.
NOTA: esta fotografia, como todas as outras aqui afixadas em posts com o título genérico «Acontece...», é da autoria de CPC.
Actualização: o júri resolveu premiar o primeiro comentário. Pede-se, pois, a Fernando Antolin que contacte sorumbatico@iol.pt para combinar o envio do prémio. Obrigado a todos!

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Na morte de Adelina Campos

Por Alice Vieira
NO DIA 21 DESTE MÊS morreu Adelina Campos.
Ouvi a notícia, muito breve, creio que no fim de um telejornal na RTP, e por momentos pensei que se tinham enganado. Disparate. Podia lá ser. Ao tempo que a Adelina Campos devia ter morrido.
Mas era verdade. A actriz Adelina Campos acabava de morrer, com 103 anos de idade.
É terrível quando demasiados anos pesam sobre o silêncio que se faz à roda de nomes que deixaram de ser notícia – o que nos leva a pensar que já morreram quando afinal ainda estão vivos .
No dia seguinte todos os jornais deram a notícia: meia dúzia de linhas, lembrando que ela tinha sido actriz de teatro e de cinema, citando três nomes de peças, três nomes de filmes.
Todas as notícias iguais. Quem anda nestas lides sabe o que isso quer dizer: notícia de agenda, a mesma chapa em todos os jornais.
Três nomes de peças, três nomes de filmes – assim se esgota a carreira de uma vida.
Nem sequer uma fotografia.
Até mesmo a RTP não foi além disso: actriz de teatro e de cinema. Nem sequer o rosto
E pasmei.
Seria possível que a RTP não tivesse ao menos uma fotografia sua? Seria possível que na RTP já ninguém soubesse quem ela era?
Porque a verdade é que, nos tempos heróicos da RTP, a Adelina Campos foi presença muito assídua nos écrans. Nos tempos da televisão em directo, a preto e branco, e só algumas horas à noite. Nos tempos em que dava uma peça de teatro todas as semanas. No tempo em que as pessoas conheciam os actores pelos seus nomes ( e não pelo nome das personagens, como agora nas telenovelas), e falavam deles como se pertencessem à família, e iam vê-los depois ao Nacional, ou ao Avenida.
A Adelina Campos não terá sido uma figura de primeira grandeza a brilhar nos nossos palcos; mas foi uma daquelas personagens secundárias indispensáveis, que fazem brilhar os outros, sem os quais o teatro não funciona — e que nunca se esquecem.
A Adelina Campos era uma figura muito cativante. Ainda hoje tenho na memória o som da sua voz, e a doçura do seu sorriso.
Mas a memória das pessoas é muito curta — sobretudo quando se trata de alguém que teve a… felicidade?... infelicidade?...de viver para lá dos cem anos.
No entanto os habitantes de Vila Flor, sua terra natal, deram há dois anos o seu nome ao auditório municipal. E creio que lá se encontram muitos documentos e fotografias, numa espécie de pequeno museu. Ao menos isso.
Navego pela net durante uma tarde inteira, e não encontro nada a seu respeito.
Já desesperava — quando apanho um blog em que o autor dava a notícia, a mesma de todos os jornais, glosando depois aquilo que lhe parecia mais importante, ou seja, os 103 anos de vida, e informando que não se sabia mais nada acerca dela.
Felizmente uma neta de Adelina estava atenta: minutos depois respondia, lastimando a falta de fotografias dos arquivos, mas anunciando para as 18 horas de hoje, domingo, na RTP-Memória, a transmissão da sua última entrevista.
Não sei se a RTP o recordou aos telespectadores. Por isso aqui fica o aviso. Olhem que é já daqui a pouco.
Seria bom que houvesse muita gente diante dos televisores a essa hora. É essa a homenagem que Adelina Campos merece. A sua última salva de palmas. Para que uma vida de 103 anos não se esgote em meia dúzia de linhas, o nome de três peças e o nome de três filmes.
«JN» de 27 Abr 08

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Jogos matemáticos

Por Nuno Crato
ABRIU ONTEM EM LISBOA uma exposição sobre jogos de tabuleiro. Foi acolhida no Museu de Ciência, no espaço da antigo Politécnica, onde está a decorrer um encontro internacional sobre jogos. É o «Board Game Studies Colloquium», que tem lugar pela primeira vez no nosso país e é organizado pela associação Ludus, com apoio, entre outras organizações, da Sociedade Portuguesa de Matemática.
Só quem desconhece os estudos modernos sobre jogos pode espantar-se com este apoio. Os jogos de tabuleiro, como é o caso das damas ou do xadrez, levantam problemas matemáticos interessantes e complicados.
Não se sabe, por exemplo, se o jogo do xadrez daria um empate se fosse jogado por dois jogadores perfeitos, ou seja, por dois jogadores hipotéticos que seguissem estratégias perfeitas e tivessem capacidade de consideração simultânea de todas as jogadas possíveis. Por contraste, sabe-se que o jogo do galo desemboca sempre num empate se for jogado por dois jogadores que não façam erros. E é fácil não fazer erros num jogo tão simples como esse.
Com o xadrez, contudo, o caso muda de figura. O número posições e de jogadas possíveis é tão gigantesco que nem com os mais modernos meios computacionais os matemáticos especialistas neste jogo conseguem resolvê-lo, ou seja, não conseguem perceber se há estratégias óptimas sempre vencedoras ou, no mínimo, conducentes a um empate.
Para os que não são especialistas, os jogos têm outros aliciantes — é divertido jogá-los, claro. E no caso dos jogos de tabuleiro há ainda um prazer maior para os sentidos: apreciar as peças belíssimas e surpreendentemente variadas que servem de suporte a estes jogos. Vale a pena vê-las nesta exposição.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 24 Abr 08 (adapt.); img. [daqui]

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28.4.08

O Sétimo Dê

NO SEGUIMENTO da crónica de João Paulo Guerra acabada de afixar (em que ele contrapõe três novos dês aos de 1974), aqui fica mais um.
O livro - policial - cuja capa aqui se mostra será enviado ao primeiro leitor que, NESTE post, afixe um comentário a propósito de qualquer dos «Sete Dês» a que corresponda um grupo hora/minuto que dê "noves-fora-nada" (como 3:51 PM, p. ex.).
NOTA: Como é possível que seja necessário fazer algumas tentativas, cada leitor poderá concorrer quantas vezes desejar - com o mesmo texto, ou não.
Actualização: O passatempo terminou com a afixação do comentário das 4:14 PM que cumpre a condição exigida. O prémio em causa já foi enviado.

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Três Dês

Por João Paulo Guerra
Com toda a generosidade e uma grande dose de ingenuidade, os bravos capitães que fizeram o 25 de Abril de 1974 inscreveram os seus sonhos e ideais para Portugal num Programa baseado em três dês: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. Já lá vão 34 anos e os três dês são agora outros: Desemprego, Desigualdade, Dependência.
O DESEMPREGO será o maior flagelo de uma sociedade, como a portuguesa, constituída por muito assalariado com défice de formação e muito patrão com excesso de ganância. Ao desemprego propriamente dito, que aborda um drama social manipulando números, somam-se as chagas da falta de saídas profissionais para o primeiro emprego, o espectro do desemprego na idade madura, a incerteza e o arbítrio do trabalho precário.
Mas se o desemprego, nas suas mais diversas modalidades, coloca o comum português que trabalha numa situação de extrema fragilidade pessoal, familiar e social e perante um horizonte de nuvens negras, a maior injustiça da sociedade portuguesa é a extrema desigualdade. Em nenhum outro país da União Europeia se produzem tantos ricos à custa de tantos pobres, em lugar de produzir riqueza. E em nenhum outro país europeu a ostentação do novo-riquismo, quantas e quantas vezes de origem duvidosa, é tão arrogante e parola.
E o terceiro dê é o da dependência. Portugal, que jamais ousou levantar a voz na Europa e que vive em postura de genuflexão perante a Casa Branca, louva-se agora de ter o nome da sua capital associado ao Tratado europeu que acaba de vez com a soberania sobre alguns dos seus mais estratégicos recursos.
Como se dizia nos idos da Revolução, não foi para isto, por estes dês, Desemprego, Desigualdade, Dependência, que se fez o 25 de Abril.
«DE» de 28 Abr 08 - c.a.a.

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Do Arquivo Humor Antigo - Ano de 1934 - 24

27.4.08

Esta foi a semana

Por António Barreto
ESTA FOI A SEMANA em que foi ratificado o novo Tratado da União Europeia, vulgo Tratado de Lisboa, alcunhas da Constituição Europeia. A aprovação, no Parlamento, foi triste e sorumbática. Quase clandestina. A cerimónia foi recheada de banalidades. Um viveiro de lugares-comuns. Esta ratificação, a que falta a promulgação pelo Presidente da República, substituiu o referendo nacional (e os outros referendos nacionais) que os governos europeus tudo fizeram por afastar e proibir. Referendo esse que o governo de José Sócrates tinha prometido realizar. Desapareceram a discussão e o debate sobre a Europa e a sua União. Desapareceram o entusiasmo e o interesse. Em toda a Europa, o debate sobre estes temas, cruciais, transformou-se numa cacofonia burocrática. De “furtiva”, como lhe chamavam os pais fundadores, a “construção europeia” tornou-se velhaca. A União Europeia assume de modo crescente a sua característica de Europa dos Estados contra os povos. Esta é uma atitude concertada e deliberada dos dirigentes europeus. Apesar disso, ou por causa disso mesmo, estes são depois férteis em queixumes sobre a falta de participação dos povos e, sobretudo, dos jovens. Criaram o silêncio e chamaram-lhe paz!
ESTA FOI A SEMANA em que se fez, mais uma vez, a comemoração oficial do 25 de Abril. Na Assembleia da República. Com intermináveis discursos, geralmente bacocos. Tentando fugir à banalidade, o Presidente da República trouxe uma sondagem sobre a participação política da juventude. Parece ter ficado genuinamente surpreendido com o estado em que se encontram as mentes juvenis. Mais que o desinteresse pela política, o que realmente choca é a incultura dos jovens inquiridos, em grande parte estudantes. Como em quase tudo na vida portuguesa, todos se voltam para as soluções milagrosas. Quase todos pensam que, com o ensino da História e uma disciplina de “educação cívica”, se resolveria o problema. Para alguns, a resposta é ainda mais simples: uma versão “correcta” do 25 de Abril nos manuais de História bastaria! “O problema é da educação”, dizem uns. “A comunicação social tem um papel muito importante a desempenhar”, acrescentam outros. “O problema é das mentalidades”, concluem ainda outros. Há décadas que se ouve isto. A propósito de tudo, do civismo, do ambiente, das desigualdades, da educação, da justiça, dos graffiti nas paredes e dos acidentes de viação. Não se aprende nada!
ESTA FOI A SEMANA em que as lutas no PSD atingiram a cor e a temperatura do ferro em brasa. A fazer lembrar a família Adams, mas com menos ternura e graça. Ou será a família Soprano, noutro ramo de negócios? Nunca, em mais de trinta anos, o debate dentro de um partido atingiu um tão baixo nível de educação e inteligência. Eles próprios se tratam de barões e baronetes, caciques, incompetentes, demagogos, oportunistas e suicidas. Não se consegue perceber o que politicamente os divide. A protecção social? A empresa privada? O mercado? A justiça? A educação? A saúde? A defesa nacional? Ninguém diz ao que vem. Ninguém anuncia programas e estratégias. Uns desgrenhados, outros arrumados. Uns bem-falantes, outros a vociferar. Uns básicos, outros sofisticados. Parecem bandos à solta, grupos esfomeados à procura de poder e poleiro. É possível que a luta entre famílias do PSD venha ajudar Sócrates e os socialistas. Mas esse é o menor dos males. Grave é o mal que faz ao país.
ESTA FOI A SEMANA em que o governo aprovou a sua proposta de revisão do Código de Trabalho, que entra agora em fase de negociação com os sindicatos e os patrões. É uma proposta razoável e moderada, feita pelo mais competente dos ministros do actual governo, Vieira da Silva. Insuficiente, em muitos aspectos. Apesar da redução dos prazos, ainda mantém um ano de processo judicial para resolver um litígio por despedimento. Inventa bonificações para os empresários que reduzam os recibos verdes e aumentem os contratos sem termo, criando assim mais regimes especiais, uma das pragas do sistema em que vivemos. Cria ou desenvolve uma cláusula de “inadaptação tecnológica” cujo principal valor é o da ambiguidade. Insiste em procedimentos burocráticos, a fazer cumprir pelos empresários, que tornam tudo mais difícil. E não obriga o Estado aos mesmos deveres que os privados. Mas o projecto melhora em vários aspectos: na segurança e na flexibilidade. Aumenta as possibilidades de uma empresa e os seus trabalhadores arranjarem sistemas próprios, como sejam os bancos de horas ou os créditos de tempo. Faz caducar contratos colectivos obsoletos. Dá mais liberdade às negociações bilaterais entre trabalhadores e empresas. O projecto é socialmente equilibrado, mas não será por causa disto que o investimento e o emprego aumentarão. Até porque, nos últimos anos, têm sido justamente os empregos a recibo verde que têm sido responsáveis pela maior criação de emprego.
ESTA FOI A SEMANA em que, mais uma vez, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou o Estado português e os seus tribunais por terem considerado um jornalista culpado de comportamento impróprio e ilegal. O jornalista Eduardo Dâmaso teria infringido a lei do segredo de justiça. O Tribunal Europeu considerou, novamente, que os tribunais portugueses têm uma concepção limitada das liberdades de imprensa e de expressão e uma noção restrita do interesse público.
ESTA FOI A SEMANA em que a flor dos jacarandás voltou à cidade! Os primeiros a florescer, tímidos, apareceram no Rato (mão amiga me levou lá!), em Belém e na Av. D. Carlos I. Mesmo previsíveis, as rotinas e as repetições têm destas coisas. Umas, como as comemorações oficiais do 25 de Abril, são cada vez mais maçadoras e destituídas de sentido. Outras, como a floração anual dos jacarandás, anunciam, com alegria, o eterno recomeço.
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Correcção: Há duas semanas, citei, nesta coluna, uma carta atribuída ao antigo Alto-comissário em Angola, Rosa Coutinho. Esse documento fora reproduzido em fac-símile num livro de Américo Botelho editado em Lisboa em 2007, “Holocausto em Angola”. Desde então, que eu soubesse, a sua autenticidade não tinha sido posta em causa. O Almirante Rosa Coutinho acaba de negar, na revista “Visão”, a autoria de tal carta. Lamento ter utilizado como argumento esse documento apócrifo. As minhas desculpas ao senhor Almirante e aos leitores.
«Retrato da Semana» - «Público» de 27 Abr 08

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Laranjas e capitães

Por Nuno Brederode Santos
SENTADO NO MURO, no seu equilíbrio instável, disse Humpty Dumpty, o ovo inglês: "A questão está em saber quem manda." Isto foi antes de oscilar e cair - e nem a solicitude de todos os cavalos e soldados do Rei conseguiu devolver-lhe a integridade. Com o ovo português foi diferente. Desde logo, porque os cavalos e soldados do Rei nada fizeram por ele. A suplicada vaga de fundo foi tão de fundo que do fundo não passou e nada tugiu à superfície. Depois, porque, se Humpty Dumpty se mostrava preocupado com o poder, com "quem manda", o ovo português dilapidara-o por quantos pequenos autarcas, aparatchiks e senhores da guerra conseguiu juntar. Então, à míngua de poder, quis simulá-lo: foi o espectáculo dos mais caprichosos ziguezagues programáticos; a retórica pesada; o brado inócuo; os simbolismos discricionários. É uma velha chibata administrativa chamada autoritarismo, que imita o poder para esconder a sua falta. Há quem diga que a queda foi arbitrária e acidental. Talvez. Mas tudo, na sua curta existência, lhe foi arbitrário e acidental.
Já o não foi, porém, a rapidez com que os cavalos e os soldados do Rei passaram à busca de alternativas. Fugindo ao incansável fantasma de Santana Lopes, tentaram tentar Cadilhe e acabaram num Jardim que não se resigna a um futuro em prosa. Excitado, este disse à imprensa que não tinha tropas no "Continente" (um problema que, de resto, só o aflige no partido, pois na sociedade tem até uma imensa horda bélica, que os anos e os abusos reuniram contra ele) e soltou Guilherme Silva e outras vozes privativas. Gozou até dos últimos brios de Menezes. Mas esse assalto esbarrou no savoir-faire de Santana para tudo o que é vago, etéreo, translúcido, virtual e mediático. Sendo ele próprio a paixão que o cega, o narcísico ex-primeiro-ministro travou Jardim, usando os media para darem por consumado o que o não estava. Santana ganhou a dança de espectros. Jardim abandonou para, como habitualmente, poder falar grosso depois de chegar a casa. Pede agora, em seu favor, um 25 de Abril no partido (a mesma data que recentemente tanto depreciou na Região). Mas Santana tem custos por pagar. Estruturas poderosas, como o Porto e a Madeira, não lhe perdoarão o desaforo.
A divisão dos "populistas" sorri a Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite. Ele - um liberal amável que, naquele mundo, sobressai pelo seu apego ao chá das cinco - conquistou os seus direitos. Pode tentar a sua sorte de hoje sem prejudicar um amanhã que a dispense. Assim lho permitam as vagas de órfãos de Menezes que agora o vão assediar. Ela, com maior reconhecimento social e um passado a atestar que não faz luta política fora do institucional. Mas com dois problemas pela frente. Um é a suspeição e o desconforto da relação com Cavaco. Outro é o quebra-cabeças: será que para enfrentar quem, magoando-nos, controlou o défice, a solução virá de quem, magoando-nos, nem sequer o conseguiu?
Aqui chegados, põe-se a questão: será normal, na comemoração do 34.º aniversário do 25 de Abril, falarmos da crise interna do maior partido da oposição e das pequenas veleidades e grandes ambições dos seus principais agentes? Será esta a homenagem devida a esses jovens que, numa jornada corajosa e breve, arriscaram carreiras e vidas, sem rede nem sucedâneo? Creio que o é. Abril trouxe-nos o brio de volta. E a liberdade e responsabilidade de escolhermos, nos relativos e humanos termos em que a escolha existe. Para que tenhamos mérito no que a vida nos deu de bom e culpa própria nos erros cometidos. Por estranho que aos novos pareça, a nossa insatisfação de hoje (e espero bem que de sempre) é o tributo maior que devemos aos jovens capitães inconformados. Sem prejuízo das liturgias do nosso apreço e das celebrações da nossa memória.
E, se assim é, desçamos à terra do a-propósito com uma nota prática de circunstância. Senhor ministro: mandou porventura afixar, por sobre a entrada da Academia Militar, a dantesca prevenção do "abandonai toda a esperança, ó vós que entrais"? Reinstituiu o parlamento à socapa o instituto da morte civil? Se nem uma coisa nem outra, queira matar no ovo essa peregrina ideia de sonegar cidadania aos militares reformados. A nossa gratidão histórica agradece (a retalho), mas o simples bom senso (que é grossista) agradece muito mais.
«DN» de 27 Abr 08

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Um 'post' inesperado...

ESTE POST DESTINAVA-SE a prevenir um leitor e uma leitora que tinham ganho os passatempos a que tinham concorrido. Uma vez isso feito, e quando o ia apagar, vi que tinha sido afixado um comentário interessante acerca de um outro assunto (o SIRESP).
Aqui fica, pois, para quem quiser abordar esse tema tão interessante.

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26.4.08

COMO O NUNO CRATO passa a vida a dizer - e com toda a razão! - que saber a tabuada continua a ser essencial, um amigo enviou-nos(lhe) este divertido vídeo. Para o colocar aqui, procurei o respectivo código no Youtube e, ao fazer uma pesquisa em New Math, tive a surpresa de encontrar outras variantes - com o mesmo gag mas com números diferentes. A famosa dupla Abbot & Costello também pegou no tema (fazendo, até, mais do que uma versão), mas, de todas as que vi, esta pareceu-me a mais bem conseguida. Aqui fica, pois.

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Drama de faca e garfo

Por Ferreira Fernandes
ERA, TALVEZ, a última boa certeza da vida: a mesa é cada vez mais farta. Na comparação com o passado esse era o único item imbatível da modernidade. Diz-se e bem: hoje já não há a segurança (nem a música, nem o Benfica) de antigamente.
Até nessa questão da comida, num ponto - os sabores -, a memória ganhava sobre o presente: oh, as ameixas de quando eu era miúdo! Tudo de antes é melhor que hoje, com aquela excepção: à mesa já não se passa fome. "Em minha casa dividia-se a sardinha em três", é a frase com que os avós julgam curar o fastio dos netos.
Era a última boa certeza da vida, a tal mesa farta. Mas não é que até isso começa a desmoronar? Olhem as notícias da arca vazia. As reservas mundiais de alimentos estão no ponto mais baixo desde há 30 anos. E, pela primeira vez na sua história, os EUA racionam a compra do arroz: nos supermercados só se pode levar, por pessoa, quatro sacos de nove quilos de arroz!
É ainda muito arroz, mas é uma garfada num símbolo.
«DN» de 26 Abr 08 - c.a.a.

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25.4.08

HÁ ALGUM TEMPO, quando a ideia de cultivar cereais para obtenção de biocombustíveis começou a fazer o seu caminho, Fidel Castro indignou-se, dizendo que, num mundo onde ainda há tanta fome, é imoral estar a cultivar cereais para alimentar automóveis em vez de pessoas. Muita gente se riu dessa sua observação mas, nos últimos tempos, parece que, pelo menos nesse assunto, o homem tinha razão.
Vem isso a propósito da Carruagem Mecânica de Nuremberga movida - digamos assim... - com recurso a um biocombustível que talvez acalmasse a referida indignação de Fidel.
Pergunta com prémio: qual a fonte (forma) de energia que fazia andar este verdadeiro precursor do automóvel?
Actualização-1: a resposta certa foi dada por Helena, a quem o prémio vai ser enviado.
-oOo-
Actualização-2: mostra-se, seguidamente, uma maquineta semelhante, movida a pedais, segundo gravuras publicadas na revista Nature em 1889/90.
Tenho reparado que, face a estes desenhos, muita gente se indigna: "Coitados dos fornecedores de energia!". No entanto, o uso de energia humana para movimentar [outras] pessoas sempre existiu: cadeirinhas, liteiras, riquexós, barcos a remos e à vara, às-cavalitas...
Talvez a sensação de estranheza tenha a ver com o facto de, aqui, estar em causa um antepassado do automóvel - algo que associamos, de certo modo, a uma libertação do esforço biológico. Será?

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Um bom 25 de Abril

Por Antunes Ferreira
DE NOVO, O 25 DE ABRIL. Há muito boa gente que se recorda dessa data em que o Movimento dos Capitães avançou contra a ditadura e a tirania que sobreviviam, lancinantes, em Portugal. Essa aventura épica traria como consequência a Liberdade e a Democracia ao nosso País. Por isso, o 25 de Abril ficou, fica e ficará para sempre na História. Na deste rincão à beira-mar plantado – e na Universal.
São passados 34 anos e, para mim, como para muitos outros, parece que foi ontem. Estava, então, em Luanda, onde ficara a viver depois de cumpridos os cinco anos de serviço militar obrigatório que me couberam em sorte. Os meus filhos recordam-se perfeitamente de me verem com os ouvidos colados ao rádio Sony que tinha em casa, e com as lágrimas correndo-me pela cara.
O do meio, o Paulo, perguntara à Mãe por que motivo o Pai estava a chorar. Foi um tanto difícil explicar-lhe que era de alegria. Ele tinha, na altura, acabado de fazer oito anos… Mas, como já então, quer ele quer os irmãos se debruçavam sobre livros e jornais (o Miguel estava a caminho dos dez e o Luís Carlos dos cinco, mas já sabendo ler bem, para ver o que eu escrevia…) as coisas foram-se tornando mais fáceis de explicar e de entender.
Soubera da madrugada redentora do dia 25 de Abril, ao meio dia, mais coisa, menos coisa, do dia… 25 de Abril. Foi uma correria. A alegria que me penetrou sem pedir autorização (ai dela que o fizesse!) e me encheu o corpo e o espírito todos, foi, se possível, aumentando à medida que chegavam, via radiofónica principalmente, catadupas de notícias, qual delas mais empolgante e emocionante. Donde, as lágrimas.
No dia 3 de Maio estava caído em Lisboa. Falhara até o primeiro Dia do Trabalhador em Liberdade, sem a salazarenta opressão. Mas, a TAP entrara em… greve. Liberdade, liberdade, quem a tem chama-lhe sua. Eu não tenho liberdade nem de pôr o pé na rua, cantava a Maria da Graça.
Isto é tão-só um registo e uma homenagem. Os que já se esqueceram que houve um 25 de Abril, façam o favor de recordar-se – e ser felizes. Os que não sabem (ou não querem saber) o que foi – façam o obséquio de se informar. A todos – um bom dia 25 de Abril. Ponto. De exclamação

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Um exercício com 33 anos, sempre actual

Por Manuel João Ramos

L'INTELLIGENCE A LA PORTÉE DU CON
(Ne concerne que les cons)

99% des gents sont cons. Vous avez vos chances. Gardez-les mais ne les ruinez pas. Être con est salutaire. Avoir l'air con est rhedibitoire. Soyez assez intelligent pour saisir la nuance.

Premier exercice: comment ne plus avoir l'air con.
a) Le con parle pour ne rien dire. Ne dites rien. Vous ne direz rien d'intelligent, mais ça vous empêchera de dire des conneries. Vous y gagnerez. Au lieu de se dire: "Quel con!", votre interlocuteur se dira: "Joue-t-il au con?", c'est un premier point.
b) Si vous avez vraiment envie de parler, ne vous retenez pas. Dites vos conneries. Et concluez: "Bon, j'arrête de déconner!", votre interlocuteur se dira:"Il joue au con!", c'est un deuxième point.

Deuxième exercice: comment avoir l'air intelligent. Vous avez à votre disposition une série de mimiques qui donnent - inévitablement - l'air intelligent. Soyez assez con pour les copier sans complexes.

a) L'air entendu: Repérez la personne intelligente. Si vous êtes dans un groupe de dix, il y a neuf cons, dont vous. La personne intelligente est celle qui vous semble bizarre. Dès qu'elle dit quelque chose bizarre, faites comme si vous compreniez. Même si vous n'y comprenez rien, les autres auront l'air plus con que vous.
b) L'air pénétrant: Pensez très fort aux contraventions, aux impôts, a votre bagnole emboutie. N'en parlez surtout pas. Ça ferait con. Mais pensez-y. Si vous êtes vraiment très con, ça ne vous donnera pas l'air intelligent. Mais l'air emmerdé fait toujours bien quand on ne donne pas des raisons.
c) L'air pénétré: même exercice que le précèdent, mais avec un compas dans le cul. Avantage: donne une dimension souffreteuse.

Vous avez aussi à votre disposition une série d'attitudes.
a) Le penseur de Rodin: Asseyez-vous. Mettez votre poing ferme sous votre menton et regardez dans le vide. C'est radical. Même si vous ne pensez a rien - ce qui est normal pour un con - il se trouvera toujours un autre con pour vous dire: "A quoi penses-tu?"
b) L'air du type qui n’en pense pas moins: on développe devant vous une théorie saisissante. Vous n’y comprenez rien. Reportez-vous au petit a): l'air entendu. Pour corser, ayez l'air non seulement de comprendre, mais d'avoir votre idée pas con la-dessus. Appliquez le petit b) l'air pénétrant.
c) Le rictus de connivence: hochez un peu la tête de bas en haut. Appliquez l'air pénétré (le compas vous aide à crisper finement les maxillaires).

Méfiez-vous des révélateurs involontaires de votre connerie:
a) Surveillez votre regard. Votre oeil vide et sans vie vous trahit.Par définition, vous êtes trop con pour avoir la pupille pétillante. Ne vous laissez pas abattre. Gardez l'oeil fixe.
b) Fermez bien votre bouche. Rien ne fait plus con qu’une bouche entrouverte. Maîtrisez-vous: ne mâchez plus de chewing-gum. Si vous êtes trop con pour exécuter en même temps les exercices oeil fixe - bouche close, utilisez le truc de la cigarette:
Tirez sur votre mégot et fixez la fumée.
Troisième exercice: Comment passer pour quelqu'un d'intelligent: a) Ne perdez pas votre temps a lire des livres intelligents, a voir des films pensés ... vous n'y comprendriez rien et ça vous déprimerait. Lisez plutôt des critiques intelligentes. Apprenez-les par coeur et changez quelques mots.
Exemple :"Ce film a la beauté désertique d'une douleur sans fin", devient:"Ce film a la beauté squelettique d'une couleur sans teint."
Vous ne plagiez pas vraiment et vous gagnez an hermétisme.
L'hermétisme est le secret de ce troisième exercice. Quand vous dites des conneries, dites des conneries incompréhensibles.Les cons les prendront pour des finesses qu'ils ne comprennent pas et, double avantage, les gents intelligents se sentiront cons.
b) Ne faites jamais de citations. Ça fait très con. Appropriez-vous-les corrèment. Mais attention, ne faites pas le con!
N'utilisez pas des citations trop connues. Si un autre con vous dit:"C'est de toi, ça?", ne prenez pas l'air confus. Ne doutez pas de vous. Votre connerie native vous aidera.
Voilà. Maintenant,vous passez à peu de frais pour quelqu'un d'intelligent. Méfiez-vous des gens intelligents vont venir vous poser des questions intelligentes. Vous allez être trop con pour y répondre.
Comment faire?
Renvoyee la balle: ”Pourquoi me poses-tu cette question?”
Quand vous ne pouvez plus la renvoyer, affrontez l'adversaire. Utilisez les quelques célèbres formules qui répondront pour vous.
Par ordre chronologique:
- Tu vois ce que je veux dire ... (la formule qui sauve).
- Il me semble que tu limites le probléme. (l'autre a l'air con).
- Tu crois vraiment ce que tu dis?... (l'autre a l’air hypocrite).
- C’est tout ce que tu trouves à me dire, ben merde !... (l'autre a l'air limité).
- Tais-toi, tu m'atterres... (l'autre a l'air très con).
S'il se tait, vous avez gagné !
Ultime traquenard: la tentation de l'intelligence véritable. Attention: Ne tombez pas dans ce panneau démoniaque. Les gens intelligents sont malhereux.Ils ont compris qu'on était là pour vieillir et crever. Avant-il n'y a rien, après non plus, et pendant, on en chie. Comprendre, c'est perdre les avantages du con. C'est connaître le doute, la solitude, la marginalité odieuse, l'insomnie, l'angoisse, les battements de coeur, la souffrance. Et tout ça pour rien puisque vous serez toujours un con. Surtout, ne changez pas. Soyez assez intelligents pour rester cons. Et longue vie.
Sylvie Caster - Charlie Hebdo.

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24.4.08

ESTE CURIOSO PROBLEMA, que é mais fácil do que parece, não é para ser respondido agora. As respostas (que deverão incluir a justificação algébrica) só serão aceites a partir das 20h de sábado, dia 26 de Abril.
Como sempre, haverá um prémio (a atribuir ao primeiro leitor que der a resposta certa): será o já habitual livro - a escolher pelo vencedor entre vários possíveis.
*
Actualização: a resposta certa foi dada, no comentário-2, por Luís Bonito, a quem o prémio vai ser enviado.

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25 de Abril... Sempre

Por C. Barroco Esperança
HÁ QUEM, SENDO QUEM É, esqueça a quem o deve. Há pessoas que Abril fez gente e, se pudessem, retiravam o dia 25 ao mês e suprimiam Abril do calendário.
Há quem exonere da lapela o cravo e da memória a Revolução, parasitas de alheia coragem, a comer frutos da árvore que não plantaram e a repoltrearem-se à farta na mesa que não puseram.
Há quem cavalgue a onda da democracia com ar de enfado e sinta azia com as madrugadas. São os chulos da democracia, proxenetas da liberdade.
Há quem esqueça que há 32 anos alguém arriscou a vida para nos devolver a honra, pegou em armas para nos dar a paz, derrubou a ditadura para trazer a democracia.
Há quem despreze Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vasco Gonçalves, Carlos Fabião e outros mais, quem se esqueça de recolher uma pétala vermelha de um cravo de Abril em memória dos que partiram.
Não sei se a Pátria recordará, como deve, os que fizeram Abril. Mas certamente há-de esquecer os parasitas que medram à sua custa e olham o umbigo do seu narcisismo de costas para quem, há 34 anos, fez florir nos canos das espingardas cravos.

Glória eterna aos capitães de Abril.

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Luz - I

Fotografias de António Barreto, APPh

Clicar na imagem para a ampliar

Socalcos do Douro. Além de olivais em mortórios, há sobretudo socalcos modernos, com dois “bardos” por patamar, devidamente separados para se poder utilizar o tractor. (2007).

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23.4.08

DADO QUE a Comunicação Social e a blogosfera estão cheios - e a transbordar! - de análises, bocas, comentários, opiniões e palpites sobre a situação no PSD, o Sorumbático propõe-se 'cavalgar a onda' mas de uma forma diferente, lançando um desafio aos leitores, premiando as melhores respostas à seguinte questão:
«Se o critério fosse apenas a já habitual 'associação de ideias', qual dos títulos de livros ilustraria melhor a actual situação nesse partido - e porquê?».
*
Os títulos possíveis não são só os que aqui se mostram («Herança Negra», «A Hora H», «A Intriga», «Setas Contra Barões», «O Regimento dos Espectros», «As Boas Consciências», «E Depois do Adeus» e «Morrer Devagar»).
Há ainda: «Cavaleiros Vindos de Parte Nenhuma», «Aprender a Viver», «Ontem e Amanhã», «Areia Pesada», «Imaginem Que...» e «O Delfim».
Também é válida a resposta «nenhum dos referidos» - mas, seja ela qual for, deverá ser acompanhada por uma justificação.
*
O prazo terminará às 20h do próximo sábado, dia 26, e o prémio será um desses 14 livros, à escolha do vencedor.
Actualização: as duas pessoas a quem foi pedida a opinião estiveram de acordo: o vencedor foi Luís Bonifácio, a quem o prémio, entretanto, já foi enviado.

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22 Abr 08
TODOS NÓS CONHECEMOS pessoas a quem tudo acontece - e, quando dizemos isso, referimo-nos a acontecimentos infelizes. Em certos casos, é o seu comportamento (por feitio, por doença ou por qualquer outro motivo) que atrai as desgraças como os campanários atraem os raios - chamam-lhes, mesmo, «vítimas preferenciais». Noutros casos, são vítimas de perseguições pessoais; noutros ainda, são pessoas que, pura e simplesmente, têm um azar dos diabos.
A imagem que aqui se vê está relacionada com isso.
Pergunta com prémio: alguém sabe dizer que infelicidade se abateu sobre o dono deste carro, que deve estar farto de se perguntar «Porquê eu?!!?»?
*
O prémio, a enviar ao primeiro leitor que, em comentário (*), der a resposta certa, será um exemplar do livro «Aventuras de Sherlock Holmes» (Ed. Visão). O prazo termina às 20h de quinta-feira, dia 24. Nessa altura, será indicado o vencedor (se o houver), e mostrada uma outra foto, que contém a resposta do enigma.
(*) A dar no blogue «O Carmo e a Trindade», onde a imagem também está afixada.
*
Actualização: no blogue e no post referidos, e no 26.º comentário lá feito, está dada a resposta. Pode, no entanto, ver-se o essencial [aqui].

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O futuro é hoje

Por Baptista-Bastos
TRINTA E QUATRO ANOS DEPOIS, continuo a viver no refúgio das minhas esperanças. É muito difícil separar-me dessa ideia de comunidade que foi a moral da resistência, e do conceito de que a História caminha no sentido da libertação do homem. Mas também aprendi a não me acomodar a essa espécie de vocação para o desencanto, reduto onde se lastimam homens e mulheres da minha geração e da seguinte. A festa acabou. Vivemos um instante em que protagonizámos um apólogo presumidamente dialogal, porque, na realidade, havia, e sempre houve, dois países, com compromissos inconciliáveis e linguagens opostas. A existência de classes não é uma falácia, embora queiram inculcar a sua ausência a fim de impedir que as julguemos.
A festa acabou. Não terminou, porém, a definição daquilo que possui a faculdade de reavivar o que pretendem fazer-nos esquecer: os sonhos, a teimosia da vontade, a obstinação da esperança. Chamam-lhe utopia, e condenam-na como fautor de destruição do outro e, portanto, de si próprio, em benefício de uma verdade suspeita. A cada um a sua idiossincrasia, as suas possibilidades, a sua área de agir. Pessoalmente, sou incapaz de viver sem palavras, sem livros, sem o ajustamento desses livros e dessas palavras a uma ética que respeite o leitor, para nunca me extraviar do princípio das convicções mútuas.
Apesar de tudo, creio que não há motivos para extensas decepções. Uma releitura do que éramos e do que somos permite verificar as diferenças reais mas, também, as artificiais, registadas na sociedade portuguesa. Desejávamos mais. Esquecêramo-nos, porém, da pesada tutela exercida por uma Igreja extremamente conservadora, que exaltava a "tradição" e execrava a simples ideia de a questionar; e por uma classe dirigente, composta de cem famílias, que reivindicava privilégios inatacáveis.
O panorama foi muito bem exposto na melhor telenovela portuguesa de sempre: Chuva na Areia, de Luís de Sttau Monteiro, realizada pelo excelente Nuno Teixeira. Seria óptimo que a RTP a reexibisse.
É exacta a afirmação segundo a qual Abril ambicionava fazer da "revolução" uma máquina social, política e cultural influente. As fragilidades começaram na falta de análise das superestruturas, e no dogmatismo (natural no bulício da época) que contrariou a possibilidade de a "revolução" se compreender a si mesma.
Há um fenómeno que não esgota a claridade emocional eclodida há 34 anos: a renovação de uma bela utopia, revelada no número, cada vez mais elevado, de gente nova, atraída pelos prestígios de uma data feliz.
Venha o que vier, nada justifica o niilismo contido no "desencanto". Há uma História que nos pertence, um património moral inesquecível - e um outro país que reaviva o eterno projecto de um outro futuro.
«DN» de 23 Abr 08

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22.4.08

Ver actualização - 2
HÁ DIAS, o Pedro Barroso escreveu uma crónica em que se fartava de gozar com os problemas de matemática-da-treta que aqui tenho proposto. Aceitando a crítica, movo-me, então, para os domínios dele e pergunto aos leitores: quem foi o senhor que aqui se vê retratado?
Como sempre, ao primeiro leitor que der a resposta certa será atribuído um livro-prémio.
Independentemente desse, haverá um outro para quem souber dizer o nome do pintor que fez este famoso retrato.
Actualização-1: o passatempo duplo já tem vencedores (Pedro e Luís Bonito), a quem os prémios já foram enviados.
Chama-se especialmente a atenção para o comentário das 11h58m, de "Peregrino", que esclarece uma questão muito interessante relacionada com esta imagem.
Actualização-2: acabei por afixar as duas imagens referidas nos comentários.

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DADO QUE este problema é, como dantes se dizia, 'de cá-cá-rá-cá', o prémio, a atribuir ao primeiro leitor que der a resposta certa (mas justificando-a algebricamente, como de costume), será um livro do Tio Patinhas. Oportunamente se explicará, com mais detalhe, o motivo de tal escolha...
Actualização: a resposta certa foi dada no comentário-2; a explicação para a escolha do prémio está no comentário-3.

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Mira Fernandes

Por Nuno Crato
FAZ HOJE PRECISAMENTE 50 ANOS que faleceu em Lisboa um dos mais importantes cientistas portugueses do século XX.
Chamava-se Aureliano Lopes de Mira Fernandes e nascera em S. Domingos, Concelho de Mértola, em 16 de Junho de 1884.
Em 2009 terão pois passado 125 anos sobre o seu nascimento. Assinalando as datas de falecimento e de nascimento, o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior de Economia e Gestão, escolas em que Mira Fernandes foi professor, organizam uma série de actividades de evocação desse mestre. Relembram a sua vida e o seu magistério universitário. Mas relembram sobretudo a sua extraordinária actividade de investigação.
Mira Fernandes estudou matemática em Coimbra, doutorou-se e veio leccionar para Lisboa. Sozinho, desenvolveu o seu interesse pela investigação matemática e começou a corresponder-se com alguns dos grandes matemáticos e físicos europeus. Foi um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Matemática.
Em 1928, portanto já com 44 anos de idade, iniciou a publicação de uma notável série de artigos numa das mais importantes revistas científicas da época, os “Rendiconti” da Academia dos Linces. Correspondeu-se longamente com o grande matemático italiano Levi-Civita, e obteve vários resultados importantes em geometria diferencial, com aplicações à teoria da relatividade. Foi um dos dois ou três maiores matemáticos portugueses do seu século.
Os seus trabalhos estão agora a ser reeditados pela Gulbenkian, que se associa à homenagem a este português ilustre. Os CTT lançaram um selo comemorativo. A Câmara Municipal de Mértola irá descerrar uma lápide na avenida com o seu nome. Em 2009, haverá uma conferência evocativa do seu exemplo.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 19 Abr 08

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EM TEMPOS, alguém decidiu criar uma praça de táxis junto a este hotel. Até aqui, tudo bem. O que é engraçado é o resto: para pouparem, aos turistas, o cansaço de andarem uns metros, alguns taxistas estacionam no passeio - pelo que a praça, não poucas vezes, fica às moscas, como em cima se constata. No entanto, se esse estacionamento vago for aproveitado por "outros", a Polícia Municipal aparece e, como a lei é para ser cumprida... (ver o reboque em acção, na foto de baixo).

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21.4.08

COMO BEM SABE quem habitualmente visita este blogue, aqui dedica-se alguma atenção à divulgação de livros (com frequência) e aos assuntos relacionados com matemática (de vez em quando). Assim sendo, prémios que abrangessem essas duas realidades poderiam ser duplamente bem-vindos. Mas algo me diz que, tendo em conta o que por aí vai no mundo da bola, estes livros sobre «matemática da 2ª Circular» não devem ser muito oportunos...
*
No entanto, e para que não se diga que se trata de um subterfúgio para não atribuir o prémio que já vai sendo habitual, informa-se que será oferecido, como alternativa, um exemplar de um dos livros «Ficções», «O Jogador», «Destino Pesadelo!» ou «Refém de si Próprio» ao primeiro leitor que disser qual deles começa com as palavras «Interroguei-me durante muito tempo...»
Actualização: a resposta certa foi dada por Isabela Natacha a quem o prémio (que, entretanto, escolheu) já foi enviado.

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Tertúlia literária com ficcionistas da guerra colonial - Convite

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Próximo

Por João Paulo Guerra
“Chega, basta”. Com estes eloquentes desabafos, o precoce ex-lider do PSD foi-se.
LUÍS FILIPE MENEZES fica assim com mais currículo como contestatário de anteriores direcções do seu partido que como líder. Sete meses e “chega, basta”, pronto, tá, alto e pára o baile. Ainda bem, para ele, que não chegou a deixar Gaia nem nada para trás para ocupar a transitória liderança. É sempre penoso refazer vínculos desfeitos, atar as pontas de nós desatados. Assim foi só um adeus e até ao meu regresso e ei-lo de volta aos dias andados. O mais que pode ter ficado é algum nó na garganta, um embaraço, um prematuro desenlace, uma interrupção involuntária da liderança. Homem, você ainda agora chegou e já está de partida?! Nem aqueceu o lugar. É a vida na oposição sem partido para partir e repartir.
Apesar de inesperado, o episódio parece reincidente. Ia dizer que já escrevi algo de muito semelhante nos nove anos desta Coluna Vertebral, qualquer coisa como: “O governo sofre contestação mas o que cai é a oposição”. Às tantas é isso mesmo: a oposição, de costas para a contestação, cai desamparada. Não tem a que se agarrar uma liderança partidária que chega a usar como tema de oposição a celebração de um contrato de trabalho entre o canal público de televisão e uma jornalista. Mas em que é que o partido cara se havia de opor ao partido coroa? Na filosofia, nas políticas, nunca. Restam os ‘fait-divers’.
Com ou sem eleições ganhas e mandatos para governar, desde os idos de 90 que nenhum líder do PSD chega ao fim da carreira. Uns caem, outros deixam-se cair, outros ainda simplesmente fogem. O cara ou coroa do alterne democrático está reduzido ao jogo com uma moeda viciada de duas faces iguais. Próximo…
«DN» de 21 Abr 08 - c.a.a.

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Jardim, Cavaco e a Democracia

Por Alfredo Barroso

AO CABO DE TRÊS DÉCADAS de condescendência, complacência e pusilanimidade confrangedoras, por parte da maioria dos dirigentes políticos nacionais e dos titulares dos órgãos de soberania da República, já é demasiado tarde para pôr na ordem Alberto João Jardim e obrigar o truão cesarista e telepopulista que governa a Madeira a respeitar os seus adversários políticos e as instituições representativas do Estado democrático.
O sentimento de total impunidade de que Jardim beneficia, no arquipélago em que vive politicamente entrincheirado, é que lhe dá alento para a demagogia e o insulto, a provocação e a chantagem permanentes, a intolerância para com os adversários e o total desprezo pelas instituições democráticas, que ele curto-circuita sistematicamente.
Como todo o cesarista que se preza, Alberto João Jardim continua a alimentar a ambição ilegítima de exercer o poder sem limites, de governar sem oposição e de impor a sua vontade política abafando as vozes dos que discordam e liquidando a democracia representativa. Como é um truão telegénico, grande comediante da era da vídeo-política, não hesita em utilizar a televisão para praticar a demagogia e multiplicar as provocações e as chantagens, as ameaças e os insultos. É um demagogo telepopulista e pós-fascista.
Jardim recorre frequentemente à palhaçada e à linguagem desbragada, por vezes pseudo-revolucionária e anti-capitalista, como armas políticas de arremesso, não apenas contra os «cubanos» e os «maçons» do continente mas, sobretudo, contra o sistema. Ele sabe como alimentar o sentimento de claustrofobia política insular, invocando ameaças e conspirações imaginárias e apontando a dedo o inimigo colonialista que espreita a sua oportunidade em Lisboa para reduzir a Madeira à mera condição de colónia ‘africana’.
Convém não subestimar Alberto João Jardim, mas também importa não temer o ‘bicho’. Quando ele ataca directamente a democracia representativa, chamando «bando de loucos» aos deputados da oposição no parlamento regional, está a ultrapassar, mais uma vez, todas as marcas. E a atitude mais adequada e corajosa não será, propriamente, a de dizer: «Não mexam no bicho, que ele morde!». Porque, obviamente, é dessa atitude que o ‘bicho’ está à espera, para continuar a ‘morder’ e a enxovalhar quem se agacha.
Foi com surpresa que vi o Presidente da República invocar o «direito de reserva» - não o «dever» mas o «direito», note-se! – para se eximir a uma condenação pública do comportamento antidemocrático de Jardim. Não se quis meter em sarilhos, metendo na ordem o truão que governa a Madeira. Fez mal. Tal como fez mal em aceitar que fosse suprimida a habitual sessão solene da Assembleia Legislativa, o órgão de representação democrática por excelência. Cavaco Silva confirma, assim, a suspeita, gerada enquanto foi Primeiro-Ministro, de que também não aprecia especialmente parlamentos. Há sinais que perturbam e este é um deles. É lamentável que Jardim continue a ser o último a rir.
«Sol» de 19 Abr 08. As crónicas do autor encontram-se também arquivadas no blogue Traço Grosso

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20.4.08

Os inimigos da democracia

Por António Barreto
TODA A GENTE SABE que os desejos, as intenções, os projectos e a realidade são coisas diferentes. E mutáveis. Por isso é difícil prever o que vai acontecer ao PSD se nos basearmos exclusivamente nas frases ditas por L. F. Menezes. Ou mesmo por qualquer outro participante neste enredo. O que podemos saber, analisando os factos, é que Menezes decidiu jogar as cartas todas e repetiu o que muitos dirigentes políticos, desde a antiguidade, fizeram: baralhou os cálculos dos adversários, surpreendeu-os e demitiu-se. Por cálculo? Desespero? Táctica? Desistência? É o que verá depois. Mas sabemos mais. Marcou eleição para cinco semanas depois. Garantiu e repetiu que não era candidato. Prometeu prosseguir, durante um mês, as iniciativas partidárias que tinha encomendado, sobretudo as visitas às bases. Desprezou uns candidatos perigosos de que não gosta especialmente (Marcelo Rebelo de Sousa e Aguiar Branco), não se referiu ao seu inimigo mais querido (Santana Lopes), desafiou os que considera mais perigosos (Manuela Ferreira Leite e António Borges), ignorou o que mais detesta (Rui Rio) e foi condescendente com o mais júnior e que ele pensa poder influenciar (Passos Coelho). E ameaçou: vai, em contacto com as bases, ficar atento ao que se passa e vigiar o que os outros fazem.
UM MINUTO APÓS O ANÚNCIO das suas decisões, a especulação começou. Quer ou não voltar? Deseja ou não uma “vaga de fundo”? É um truque ou é sincero? Acontece que pode ser tudo, dissimulação e sinceridade. Como pode ser as duas coisas: quer ir-se embora e quer regressar. Além de que a verdade pode mudar com os dias. E a sinceridade com as horas. O que mais importa, se é que o problema importa realmente, é que os dados objectivos têm uma interpretação difícil de contestar. Menezes quer condicionar o futuro imediato do partido, seja com ele de novo a presidente, seja com ele a prosseguir na sua vocação primordial, a de “troublemaker”, disfarçado de provedor das bases.
É PENA QUE ASSIM SEJA. O PSD é um dos pilares do Estado democrático português. Como tem sido o mais interessante partido existente depois de 1974. Faz a ponte entre o rural, o industrial e os serviços. Está tão bem enraizado na Administração Pública como na empresa privada e na sociedade civil. Navega facilmente entre a capital, a província e as regiões. Congrega, como nenhum outro, ricos, remediados e pobres. Acolhe catedráticos e analfabetos. Federou uma extraordinária colecção de notáveis, “barões”, caciques e chefes de claque. Conservador na doutrina, é capaz de grandes movimentos de inovação e de inconformismo. Já mostrou elevada competência no governo e muita habilidade na oposição. Ora, tudo isto se tem vindo a perder desde há três ou quatro anos. E agora a perda parece irremediável. Depois das próximas eleições, qualquer que seja o vencedor, este partido vai fatalmente romper com estas tradições e muita gente vai romper com ele ou ser forçada a isso. O PSD já teve poder, ideias atraentes, um programa necessário, uma aliança entre povo, classe média e elites, muita energia e alguma racionalidade. Com Barroso, Santana, Mendes e Menezes, o partido fez como as famílias fidalgas: desbaratou o capital. Não tem nada. A não ser saudades, sede e fome. De poder.
MENEZES DERROTOU-SE A SI PRÓPRIO como quase ninguém conseguiu derrotar outrem. Sem apelo, sem remédio, sem misericórdia. E sobretudo sem saber o que estava a fazer. Mostrou que também nos partidos, não apenas nos governos e nos parlamentos, os seus dirigentes caem por si, muitas vezes nem precisam que alguém os derrube. Não mostrou competência. Fez-se de vítima. Acusou os seus correligionários de perseguição e cinismo, coisas que nunca lha faltaram quando era oposição dentro do partido. Deixou-se influenciar por aqueles assessores, vampiros por procuração, que pedem aos seus príncipes sangue e guerra, mas que são eles próprios incapazes de um gesto de carácter. Usou a demagogia sem contenção. Inventou e cultivou inimigos, pois julgou que era essa a força de um político. Não mostrou ter qualidades de líder ou de homem de Estado capaz de destroçar aquela que é a maior fonte de conspiração e de intriga do país, o PSD. Fez como os maus estudantes: espalhou-se ao comprido. E como eles reagiu: acusou os outros.
É UMA VELHA TEORIA, tão velha quanto falsa: os inimigos da democracia (e da liberdade republicana, como alguns gostam de dizer) são os fascistas, os comunistas, várias espécies de extremistas, os fundamentalistas religiosos, os plutocratas, os monárquicos, às vezes os capitalistas, eventualmente os sindicatos e quase sempre os anarquistas. Por outras palavras, os inimigos da democracia são os que estão fora da democracia. Os que não participam directamente, os que não beneficiam do sistema e os que querem sobrepor os interesses próprios ao “bem comum” ou à sociedade aberta e plural. Portugal, durante as últimas décadas (e quem sabe se nas primeiras do século XX), é uma demonstração interessante da falsidade desta “tese”. Se excluirmos as tentativas de alguns militares e do PCP, nos anos da revolução de 1974 e 1975, quem ameaçou a democracia foram sempre os democratas. Por incurável demagogia. Por má gestão. Por incapacidade de decisão. Por adiamento de reformas e iniciativas. Por sobreposição dos interesses partidários e pessoais aos problemas do país. Por lutas intestinas inúteis e perniciosas. Por desmedida ambição de algumas pessoas. Por um grosseiro partidarismo. Por uma irreprimível vaidade de alguns dirigentes. Pela complacência perante a corrupção, a fraude, a irregularidade e o expediente. A derrota de Menezes, em si, é um facto menor da vida portuguesa. As perturbações do PSD já nem surpreendem. Mas o mal que estes episódios fazem à política nacional e à democracia é grave. Os partidos e a vida democrática devem estar, em Portugal, no mais baixo do apreço público. Descrença, desconfiança e desprezo são sentimentos que não faltam na população. Se quiserem encontrar os verdadeiros inimigos da democracia, não é preciso ir procurar muito longe: basta começar pelos partidos e pelos políticos democráticos.
«Retrato da Semana» - «Público» de 20 Abr 08

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Apesar de já ter sido afixada há algum tempo, a crónica «Miguéis», de Joaquim Letria, continua a suscitar interessantes comentários, a alguns dos quais o autor respondeu hoje.

Quanto pesa o livro "Menina e Moça"?

Este post foi deixado vago já há bastante tempo (em 20 de Abril 08) para permitir a afixação de respostas de passatempos que viessem a ser feitos posteriormente. Hoje, 24 de Junho de 2008, às 20h01m, serve para afixar a parte que foi ocultada na imagem do passatempo «Quanto pesa o livro Menina e Moça, ed. JN?». A resposta é 73 gramas.

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O QUE SERÁ mais preocupante: um navio com sintomas de AVC, ou sete helicópteros militares com paralisia total?

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O povo é sereno

Por Nuno Brederode Santos
AINDA A NOITE SE PERFILAVA para as suas rotinas na cidade, quando ouvi, na TSF, a notícia da demissão de Menezes. Depois, pela SIC-Notícias, soube do teor da sua declaração e assisti às considerações egocêntrico-testamentárias que ele houve por bem produzir, algures em Sintra, num desses ágapes de carne assada com que os partidos costumam sulcar a viscosa modorra da História. Logo depois, começaram os telefonemas: eram amigos meus, validados pela serenidade dos anos, mas contagiados pela ansiedade e pela incerteza.
De facto, já então tudo indicava tratar-se de uma manobra de reforço da posição de Menezes. Uma coisa do tipo Colombey-les-Deux-Églises, na proporção De Gaulle – Chico Fininho. Desde a lógica da pequena política até aos acrobáticos precedentes da biografia do protagonista. Desde o sorriso maroto de Ribau Esteves, à calma, muito “business-oriented”, de Marco António Costa ou à serena determinação com que Patinha Antão afundou as caravelas e cortou as pontes com todos os futuros do mundo. Mas sobretudo a marcação do prazo de 24 de Maio, que só dá aos adversários o tempo de se revelarem aos atiradores furtivos de serviço, e não o de se prepararem, num pequeno mundo de incerteza regulamentar e em que os aparelhos autárquicos - namorados pelo líder até ao delírio durante os últimos seis meses e inacessíveis a quem o contestar – substituem com vantagem o aparelho partidário central.
Só que estes indícios valem o que valem, quando aplicados ao comportamento político de Menezes. Não tanto por ele ser, como declarou no dia seguinte, “uma das pessoas politicamente melhor preparadas da minha [dele] geração” (felizmente que já não é a minha e ainda não é a dos meus filhos), mas pela singela razão de que não há qualquer prazo de validade para as suas palavras. E, por isso mesmo, quando entrevistado por Mário Crespo, o prazo já não era 24 de Maio, mas aquele em que os candidatos acordassem. (Provavelmente, na altura própria, como haverá sempre um candidato – seja ele próprio, seja por ele apoiado – que é beneficiado por tal prazo, não chegará a haver um “acordo” sobre uma data alternativa).
Por isso, o que aos amigos recomendo é que contemplem tudo isto com distância cultural. Como quem arrasta os vagares do olhar pela tela da Mona Lisa. Se, magicamente, a senhora fizer esgares ou esbracejar, é montar-lhe a cilada da paciência e deixá-la poisar. Os séculos põem serenidade em tudo, a começar por nós. Os meus amigos já não têm idade para andarem a pagar com ansiedades juvenis as áleas da imprevisibilidade alheia (ou da Criação em geral). Em especial, quando o objecto da sua observação cultiva o “happening”e o improviso, regados com o adequado foguetório. Ele gosta de desencadear e não cura dos desenlaces. Se estes correrem mal, chora-se a vítima. E, se ele próprio, Menezes, ainda não sabe quantas perdizes vão saltar da moita que varejou, porque havemos nós de andar a fecundar as úlceras que a natureza já nos deve?
Seja como for, a cena é esta. Se, como Menezes quer, a oposição interna se der ao luxo de várias candidaturas, ele - ou alguém que ele apoie, mesmo tendo já esclarecido amavelmente que “será sempre uma segunda escolha” – estará meio caminho andado para que o “já cheira a poder” destes seis meses se acentue e torne fétido. E, aqui, Passos Coelho corre o risco enorme (e esse, sim, surpreendente) de a dividir e tornar-se herdeiro. Mas duvido muito da ideia de fazer saltar os “verdadeiros mandantes” da contestação interna. A renitente Manuela Ferreira Leite colocaria ao partido e a um Cavaco ainda em primeiro mandato uma situação de melindre e embaraço permanentes. Marcelo optou demasiado recentemente por sacrificar o futuro do grupo parlamentar e levar Menezes ao martirológio das urnas. Tem mais sentido que apareça alguém ungido por eles. Alguém capaz do sacrifício de arriscar ganhar o partido, civilizá-lo durante um ano e tal e levá-lo às urnas com listas apresentáveis, que deixem para a próxima legislatura um grupo parlamentar de qualidade. Alguém como Aguiar-Branco, se possível com mais mundo e menos Foz. Alguém com a plena consciência de que vai entrar na zona da emboscada – mesmo que póstuma – de Menezes. Em suma, alguém.
Mas observemos em casa, da poltrona. Não vai ser nada que, para o bem ou para o mal, vá já mudar as nossas vidas.
«DN» de 20 Abr 08

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19.4.08

Um prémio sob(re) o signo da balança
RECENTEMENTE, a propósito da crónica «Pobres», decorreu [aqui] um passatempo para atribuir um prémio ao melhor comentário que lhe fosse feito. Sucede que o premiado pôde escolher entre o livro que aqui se vê e um outro, e preferiu essoutro - ficando, pois, este por atribuir. Ora, e como se sabe, o Sorumbático segue o princípio de que os prémios fizeram-se para serem entregues, pelo que este será enviado ao primeiro leitor que der a resposta certa à seguinte questão científica: quanto pesa o livro?
A-Menos de 100 g; B-Entre 100 e 150 g; C-Entre 151 e 175 g; D-Entre 176 e 200 g; E-Entre 201 e 250 g; F-Mais de 250 g.
Actualização: o passatempo foi ganho por A. Reis Cabral, depois de consultada esta balança digital, assim chamada porque é com os dedos que se pega nos pesos; coloquei o de 1/4 kg no prato da direita, e o desequilíbrio continuou a verificar-se para o lado esquerdo.

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